Muitas pessoas se rotulam e rotulam os demais em função dos seus cargos. Resultado? Não ousam aprender coisas novas
Muitas pessoas ficam limitadas em seu desenvolvimento pessoal e profissional em decorrência do cargo que possuem. O orgulho de colocar no cartão pessoal, logo abaixo do nome, um cargo pomposo, capaz de garantir respeito e status já foi o sonho de muitas pessoas. Assim é fácil observar a relutância de alguns ainda em se esconder atrás deste ou daquele cargo, mas a verdade é que muitas pessoas estão rompendo as amarras impostas obtendo, assim, a ampliação dos seus conhecimentos e capitalizando novas oportunidades.
Um bom exemplo disto ocorreu comigo em dezembro último. No ano que se encerrava tive muitas alegrias e decidi que deveria compartilhar um pouco deste sentimento com pessoas menos favorecidas: crianças de rua que geralmente passam seu Natal sem receber a visita do bom velhinho.
Assim, em pleno mês de dezembro, tinha um desafio pela frente: encontrar brinquedos em quantidade e variedade para presentear crianças que encontrasse pelas ruas. Foi então que, no auge das compras de final de ano, em um sábado, me aventurei na “meca” do consumo paulistano para fazer as tais compras.
A rua 25 de março, que fica no centro velho de São Paulo, é famosa em todo o Brasil por concentrar um grande número de lojas atacadistas. Lá, o consumidor encontra todo tipo de bugiganga, desde produtos de armarinhos, passando por artigos de papelaria, artigos para festas, brinquedos até a mais alta tecnologia de eletrônicos importados por meios não muito “convencionais”.
Logo na primeira loja fiquei como “barata tonta” tentando caçar um vendedor que pudesse me dar um pouco de atenção. Foram mais de 10 minutos de tentativas e nada. Como minha paciência para estas coisas não é grande, resolvi peregrinar. Tudo indicava que não era meu dia de sorte, pois mais longos minutos de tolerância em outra loja e nada de um vendedor para tão ávido comprador. Minha sina continuava, mas tinha a real esperança que meus problemas seriam resolvidos.
Mais uma loja, e logo que entrei vi um rapaz com um jaleco amarelo descarregando um carrinho cheio de mercadorias. Rapidamente olhei para os lados e não vi nenhum cliente. Era a minha oportunidade, afinal, um vendedor sem assédio naquele dia era “jóia rara”.
Dirigi-me até o rapaz, que não aparentava ter mais de 25 anos e solicitei algumas informações dos brinquedos que procurava. Como não havia a quantidade exposta, ele precisou buscar os produtos no estoque central, e em menos de 5 minutos tinha concluído a minha saga: bolas, bonecas, carrinhos, jogos, enfim, tudo estava lá.
Antes de me despedir, perguntei o nome do “profissional”, e assim terminei, agradecendo muito ao Júlio César por ter me facilitado a vida naquele dia.
Fui ao caixa fazer o pagamento para conseguir, finalmente, sair daquela loucura do consumo. Foi então que me perguntaram qual vendedor havia me atendido. Orgulhosamente respondi: Júlio César.
Minha surpresa tamanha foi quando recebi como resposta:
– Não temos nenhum vendedor com este nome aqui. Como é que eu vou cadastrar a venda para um vendedor que não existe?
Conversa vai, conversa vem e as pessoas que aguardavam o desfecho da situação na fila já demonstravam impaciência. Foi então que mais uma pergunta me surpreende novamente.
– Como estava vestido o tal do Júlio César?
– Bem, estava como todos os vendedores, com um jaleco amarelo.
– Ah bom, então ele não é vendedor não, ele é apenas um repositor que está trabalhando de temporário. Ele não vende nada!
Seria uma falta de consideração com aquela pessoa que resolveu meus problemas considerá-lo apenas um repositor. Então insisti:
– O Júlio César é o melhor vendedor desta loja sim! Aliás, vou dizer isto ao gerente daqui.
Foi exatamente o que fiz. Na segunda-feira liguei para a loja e expliquei o caso ao gerente, externando a minha satisfação com o Júlio César, que priorizou resolver os problemas do cliente ao invés de ater-se a seu cargo. Com sua iniciativa Júlio César contribuiu diretamente para o aumento dos resultados de sua empresa.
Muitas pessoas se rotulam e rotulam os demais em função dos seus cargos. Desta forma, vendedor é aquele que vende, repositor é aquele que repõe e assim por diante. Nas empresas em que este paradigma ainda é mantido, as pessoas se limitam em fazer apenas sua “especialidade” e não ousam aprender coisas novas.
Você não é seu cargo, você é você com todo o seu talento e poder de realização. Sua iniciativa e sua capacidade de trabalhar com excelência é um dom que você carrega e, ainda que a estrutura antiquada e hierárquica da sua empresa reforce a tarefa e a “especialização do cargo”, jamais se esqueça o que você é e a competência que tem.
Muitas empresas são “Ltda” não só na constituição legal, mas na forma de reconhecer seus talentos. Demita estas organizações do seu currículo. Sua empresa tem que ser uma empresa “Apda”, ou seja, ampliada, e não limitada. Isto representa ampliar experiências, relacionamentos e conhecimentos. Sua empresa precisa viver a Era do Conhecimento, portanto, é uma empresa que sabe, e por isso mesmo é que aprende!
By Silvio Bugelli
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