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Não tente ser feliz!

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 24/02/2015 by Joe

Não tente ser feliz

Ser feliz está na moda. Com a felicidade pululando em todo canto (mídia e redes sociais, principalmente) caímos num processo autofágico: enfiamos na cabeça que precisamos alcançá-la a todo custo. Assim como obedecer as leis, ser feliz passa a ser um dever.

Mas o que é ser feliz? A resposta depende da lente pela qual se enxerga o mundo. Para Epicuro, a chave de uma vida feliz estaria na ataraxia (tranquilidade da alma) que pode ser alcançada com prazeres moderados, leitura e introspecção. A vida feliz é simples, justa e virtuosa. Assim, a ambição é o grande obstáculo para alcançar a felicidade. Anos mais tarde, Sêneca diria que o ser humano só seria feliz se renunciasse aos padrões de referência de sua sociedade.

Os dois pensadores concordam ao definir que a vida feliz está em dissonância com os moldes da sociedade contemporânea. Hoje, influenciados principalmente pelo senso comum e pelo aparato midiático, nos movemos por arquétipos e projeções: almejamos um corpo escultural, uma quantia razoável de dinheiro, carisma, uma relação amorosa perfeita, além de muitos dos produtos ou serviços que as empresas nos empurram a todo instante. Como os cães que nunca alcançam o coelho na pista de corrida, corremos a vida toda atrás de algo que acreditamos ser a felicidade. Entretanto, como as coisas não transcorrem como no capítulo derradeiro de uma telenovela, emerge a frustração.

Schopenhauer, no século XIX, alertou-nos quanto a isso. Para ele, a felicidade seria apenas uma breve interrupção do sofrimento. Quem procura a felicidade nas coisas do mundo está sempre incompleto. Ora compra uma casa ou um carro (ou trabalha a vida toda para isso), ora vai a festas ou faz viagens, ora procura a “alma gêmea” e, assim, o tempo vai passando e a felicidade nunca dá as caras. Nestes termos, a vida não passa de um pêndulo entre o sofrimento e o tédio.

Modestamente compartilho de modo parcial a concepção de Schopenhauer de que a felicidade plena é um simulacro que massacra o homem. Todavia, não creio que a única saída seja o total desapego ao mundo, como ele afirma. Talvez o que tenhamos que fazer, em vez de corrermos atrás deste fantasma, seja colecionar momentos de alegria. Singelos, modestos, mas que, somados, podem emprestar alguma cor a essa coisa a que costumam chamar de vida.

By Matheus Arcaro.

Amigo de si mesmo

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 29/05/2012 by Joe

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível.

Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky: “Para atingir a verdade é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.

Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem.

Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto “ser amigo de si mesmo”.

Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância. Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo.

By Martha Medeiros.

Controle suas expectativas

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 18/10/2010 by Joe

A raiva, a frustração e o ódio têm origem em expectativas não cumpridas. Ou você aprende a se controlar, ou…

Você já pensou em todas as vezes que ficou com raiva ou ódio? Existe um provérbio popular que diz: “sentir raiva ou ódio é como tomar veneno esperando que o outro morra”.

Parece simples, mas não é. Tem tantas coisas que saem do nosso controle, como perder o horário porque um carro quebra e provoca um congestionamento. Ou, ainda, perder relações por causa da vida estressante que nos impulsiona a viver cada vez mais rápido. Ou, ainda, sonhos esmagados por decisões da diretoria da empresa. Quando isso ocorre, temos a tendência a nos frustrar e sentir raiva, ou sentir raiva e nos frustrarmos. Independente da ordem, um sentimento acompanha o outro. Sempre. Nem que seja por um breve instante, você já percebeu isso?

Sêneca, o Jovem, percebeu. Este filósofo romano, que foi contemporâneo de Cristo, entendeu que a origem da raiva era a frustração. Só que ele foi mais fundo e afirmou que a origem da frustração é a expectativa. Ou seja, a raiva, que nos faz tão mal, tem origem em expectativas não cumpridas.

Mas como não sentir raiva quando aquele sacana que puxa o tapete dos outros consegue a promoção que tanto desejamos? Sêneca fala que, se pensarmos em tudo que pode dar errado, estaremos mais bem preparados para a eventualidade do errado acontecer. Ooops … isso parece a Lei de Murphy: “Se alguma coisa pode dar errado, certamente dará.” Ou sua variante: “a probabilidade de um pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é diretamente proporcional ao valor do tapete”.

A diferença é que a Lei de Murphy é de um pessimismo conformista que nos paralisa. Nos deixa impotente diante dos acontecimentos. No lado oposto, existem também os pseudofilósofos que falam: “deseje de todo o coração que o universo conspira por você”. Também não é o que Sêneca nos fala. Na realidade, Sêneca sugere buscarmos de coração pelo nosso sonho, mas nos prepararmos para o caso dele não acontecer. Tenha fé, mas saiba que você não controla todas as variáveis. Com isso você evita a frustração e o estresse, mas não perde a paixão.

Sêneca é complexo, mas não é à toa que suas idéias foram largamente utilizadas no humanismo. Não gosta do pensamento positivo, nem do negativo, pois acredita que eles impedem o ser humano de progredir. Ele quer que tenhamos a capacidade de desejar, sem perder a capacidade de decidir. Ter fé, mas que ela não seja cega.

Para simplificar Sêneca, imagine-se num barco à vela, numa época em que não existia aparelhos de GPS, bússola, ou sextante. Você se guia pelas estrelas, seus sonhos, mas tem de ir atrás do vento, em zigue-zague, para continuar se movendo. Tem que desviar das ondas perigosas e dos obstáculos que aparecem à sua frente, mas sem perder sua estrela de vista.

Que tal terminar esse artigo com a frase que o consagrou?

– “Para aqueles que não sabem para que porto vão, nenhum vento é bom” – Sêneca, O Jovem, 4 a.C a 65 d.C..

By Marcelo Aguilar publicado na Revista Você SA.

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