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Comida no prato

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Comida no prato

Daniel Filho é um diretor incansável, sempre disposto a novos desafios, mesmo já tendo conquistado seu lugar de honra entre os maiores nomes do cinema e da tevê brasileira. Quando ele tinha 72 anos e filmava o longa-metragem sobre Chico Xavier, alguém perguntou por que ele não parava de trabalhar. Ele respondeu: Minha mãe me ensinou a nunca deixar comida no prato. E tem comida no prato.

Filosofia do dia a dia. Está explicada a dificuldade que muitos sentem ao se aposentar. Ainda tem comida no prato. É uma sensação comum também a todos os que são sutilmente convidados a saírem de cena, tendo suas solicitações de emprego negadas ou deixando de serem chamados para participar de reuniões familiares e sociais. Como assim, se ainda tem comida no prato?

Mais do que comida no prato, ainda existe fome.

O ser humano aceita a ideia da morte (real ou figurada) apenas quando não se reconhece mais como um faminto, quando o corpo cansa, a mente falha e a alma pede pra sair. Quando não há mais vontades, desejos, planos. Quando não vê mais necessidade de alimentar-se do que a vida oferece – música, cinema, amigos, natureza, sexo. Quando não há mais um sonho para renovar a energia, um projeto passível de realização, nenhuma esperança de que amanhã tudo possa mudar. Quando a sensação for de completo enfado. Quando não houver mais comida no prato.

Será que esse dia chega, mesmo?

Às vezes me consola pensar que sim, que chegará o dia em que estarei esgotada de tantas emoções vividas, de tanta agitação em volta, e a ideia de descansar em paz não será tão aterrorizante. Trabalho feito, missão cumprida, uma vida aproveitada até a rapa – o que mais se pode querer? A comida some do prato e levantamos da mesa sem a sensação de estarmos nos antecipando. É um plano de retirada maduro e consciente.

Porém, converso com pessoas que estão na chamada terceira idade e elas me dizem: não mesmo! Não é assim. “Quero mais”, dizem todas elas, mesmo com artrite, catarata, andando de bengala. “Quero mais.” Alcançam o seu prato para o chefe da cozinha e exigem uma porção adicional, e mais uma, e outra, e de novo. Quem ousará acusá-las de fominhas?

Para quem encara o fato de ter nascido como um privilégio, para quem não permite que suas potencialidades, mesmo reduzidas, sejam vencidas pelo desânimo, para quem domina a arte de temperar o convívio com as pessoas que ama nunca chegará o dia de declarar-se satisfeito. Aos 79, aos 84, aos 91, aos 98: enquanto a vida parecer suculenta, ninguém há de cruzar os talheres.

By Martha Medeiros.

Procura-se um amante!

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Procura-se um amante

Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam.

Geralmente são estas últimas as que vêm ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia, apatia, pessimismo, crises de choro ou as mais diversas dores.

Elas me contam que suas vidas transcorrem monotonamente e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram de dizer que estão simplesmente perdendo a esperança.

Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: “Depressão”, além da inevitável receita do antidepressivo do momento. Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que elas não precisam de nenhum antidepressivo; digo-lhes que elas precisam de um AMANTE!

É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu veredito! Há as que pensam: “Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas?” E há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.

Àquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas com o meu conselho, eu explico o seguinte: amante é “aquilo que nos apaixona”. É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir.

O nosso amante é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida. Às vezes, encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações indescritíveis.

Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, quando é vocacional, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto. Enfim, é “alguém” ou “algo” que nos faz “namorar” a vida e nos afasta do triste destino de “durar”.

Mas, afinal, o que é “durar”?

Durar é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem; é o se deixar dominar pela pressão; perambular por consultórios médicos; tomar remédios multicoloridos; afastar-se do que é gratificante; observar, decepcionado, cada ruga nova que o espelho mostra; é a preocupação com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva. Durar é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo contentar-se com a incerta e frágil sugestão de que talvez possamos fazer amanhã.

Por favor, não se empenhe em “durar”. Procure um amante, seja também um amante e um protagonista… da vida! Pense que o trágico não é morrer; afinal, a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é não se animar a viver; enquanto isso, e sem mais delongas, procure um amante…

A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:

“Para estar satisfeito, ativo e sentir-se feliz, é preciso namorar a vida.”

By Dr. Jorge Bucay, psicólogo, psiquiatra e psicoterapeuta argentino.

Procura-se um amante

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Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam.

Geralmente são estas últimas as que vêm ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia, apatia, pessimismo, crises de choro ou as mais diversas dores.

Elas me contam que suas vidas transcorrem monotonamente e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram de dizer que estão simplesmente perdendo a esperança.

Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: “Depressão”, além da inevitável receita do anti-depressivo do momento. Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que elas não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que elas precisam de um AMANTE!

É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu veredito! Há as que pensam: “Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas?” E há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.

Àquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas com o meu conselho, eu explico o seguinte: amante é “aquilo que nos apaixona”. É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir.

O nosso amante é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida. Às vezes, encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações indescritíveis.

Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, quando é vocacional, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto. Enfim, é “alguém” ou “algo” que nos faz “namorar” a vida e nos afasta do triste destino de “durar”.

Mas, afinal, o que é “durar”?

Durar é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem; é o se deixar dominar pela pressão; perambular por consultórios médicos; tomar remédios multicoloridos; afastar-se do que é gratificante; observar, decepcionado, cada ruga nova que o espelho mostra; é a preocupação com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva. Durar é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo contentar-se com a incerta e frágil sugestão de que talvez possamos fazer amanhã.

Por favor, não se empenhe em “durar”. Procure um amante, seja também um amante e um protagonista… da vida! Pense que o trágico não é morrer; afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é não se animar a viver; enquanto isso, e sem mais delongas, procure um amante…

A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:

“Para estar satisfeito, ativo e sentir-se feliz, é preciso namorar a vida.”

By Dr. Jorge Bucay, psicólogo, psiquiatra e psicoterapeuta argentino.

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