Arquivo para Profundo

Strip-tease

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 13/06/2014 by Joe

Strip-tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás.

Tocou a campainha, e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta:

– “Sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente”.

Então, ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara:

– “Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto”.

Então, ela desfez-se da arrogância:

– “Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história.”

Era o pudor sendo desabotoado:

– “Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou”.

Retirava o medo:

– “Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei”.

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua:

– “Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou; paramos aqui”.

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

By Martha Medeiros.

A sabedoria

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 20/12/2013 by Joe

Sabedoria

De acordo com uma antiga lenda, houve um tempo em que os simples mortais tinham acesso ao conhecimento dos deuses. No entanto, eles não davam importância a essa sabedoria.

Um dia, os deuses se cansaram de ser generosos e decidiram esconder o conhecimento da verdade. Os mortais, dali para frente, teriam que se esforçar para obtê-la.

Um dos deuses sugeriu que a enterrassem bem fundo na terra.

– “Não! Seria muito fácil cavar e desenterrá-la!”

– “Vamos colocá-la no mais profundo dos oceanos!” – sugeriu outro.

A ideia também foi rejeitada. As pessoas aprenderiam a mergulhar e, assim, poderiam encontrar a sabedoria com facilidade.

Surgiu a proposta de escondê-la no topo da montanha mais alta que havia. Mas houve rápida concordância geral de que as pessoas poderiam escalar a montanha.

Finalmente, um dos deuses mais sábios sugeriu:

– “Vamos esconder bem fundo, dentro das próprias pessoas. Elas jamais vão pensar em procurar nesse lugar!”

Assim foi feito – e é lá que a sabedoria continua ainda hoje!

Desconheço a autoria.

Sobre o amor e os relacionamentos

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 04/03/2013 by Joe

Amor e relacionamentos

É sempre difícil e bastante complicado falar de amor e de relacionamentos, pois os temas envolvem sempre duas e, em algumas situações, mais de duas pessoas.

Aprendemos muitas coisas sobre o amor, a maioria delas distantes do verdadeiro amor. Muitas pessoas, ainda em seu narcisismo, buscam desesperadamente sua alma gêmea, pois não suportam as diferenças indiscutíveis e, a meu ver, maravilhosas que existem entre todos nós.

Com todas essas regrinhas que inventaram sobre o verdadeiro amor e a melhor forma de se relacionar, conseguimos apenas frieza e separações. O amor se torna impossível com tantas regras para cumprir, sem falar no narcisismo que impera em nossa civilização. Todo amor começa a partir da atração sensual. Às vezes, inventamos algumas coisas para negar essa afirmação, para disfarçar esse fato, mas indiscutivelmente esse é o fato.

No início há romance, troca de promessas (normalmente impossíveis de serem cumpridas), sedução e, como toda paixão, é carregada de irrealidade. Nessa etapa você vê apenas uma parte da pessoa, não vê sua totalidade e isso faz com que você não viva a realidade. Com o passar do tempo, as duas realidades começam a se manifestar e é aí que se inicia uma outra etapa do relacionamento, quanto mais você conhece o ser amado, mais você entra em contato com a loucura – a sua e a do outro.

Nesse momento, a raiva e todos os sentimentos negativos que você abriga dentro de seu coração começam a aflorar. Pronto, a neurose está instalada. O tempo vai passando em meio a decepções e abraços, até que cada um se torna um hábito para o outro – o romance foi embora. O que fazer agora? O que era para me fazer mais feliz começa a me fazer infeliz. É nesse momento que o amor passa pelo maior dos testes: se é de fato amor ele sobrevive… se não for, ele passará.

Se o amor existir, você começa uma outra etapa e poderá amar ainda mais a pessoa que está ao seu lado. Nesse momento é preciso aceitação. O amor é, na verdade, a união do seu mais profundo ser com o que há de mais profundo no outro. Há uma união no plano da alma que está além da paixão e da personalidade.

Kahlil Gibran tem um poema que diz: “Deixem que haja espaços na união de vocês. E deixem que os ventos dos céus dancem entre vocês. Amem um ao outro, mas não tornem o amor uma obrigação. Ao contrário, deixem que ele seja um mar em movimento entre as praias de suas almas.”

A partir de então, o amor tende somente a se aprofundar. Mas estou falando de amor, por favor, não de tempo juntos, não de aceitação de violência, invasão e desrespeito. Falo do amor que respeita os limites do outro, onde cada um tem seu próprio espaço, seu próprio gosto, sua própria vida e muitas vezes sua própria casa. Quando a invasão começa a instalar-se em um relacionamento, o amor está fadado ao fim.

As pessoas que desejam verdadeiramente a felicidade devem traçar claramente seus limites e o outro deve aceitar ou não. É isso que chamo de aceitação. Não a submissão ou obediência – isso é oposto ao amor. Somente entre duas liberdades é possível ver o amor crescer. E se ambos – amor e liberdade – puderem lhe pertencer, você conseguiu conquistar o melhor que a vida pode oferecer.

By Eunice Ferrari.

A necessidade de privacidade

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 10/08/2012 by Joe

O ser tem dois lados: o interior e o exterior. O exterior pode ser público, mas o interior não pode. Se você tornar o interior público, perderá a sua alma, perderá a sua face original. Então você viverá como se não tivesse um ser interior. A vida se torna monótona, fútil.

Isso acontece às pessoas que levam uma vida pública – políticos, astros de cinema. Eles se tornam públicos, perdem completamente o ser interior; eles não sabem quem são, a menos que o público fale sobre eles. Eles dependem da opinião dos outros, não têm o sentimento do próprio ser.

Uma das mais famosas atrizes, Marilyn Monroe, cometeu suicídio, e os psicanalistas têm meditado sobre os motivos para isso. Ela era uma das mulheres mais lindas que já existiram, uma das mais bem-sucedidas. Até mesmo o presidente dos Estados Unidos, Kennedy, estava apaixonado por ela, e milhões de pessoas a amavam. Não se pode pensar no que mais se possa ter. Ela tinha tudo.

Mas ela era pública e sabia disso. Até mesmo na alcova, quando o presidente Kennedy a visitava, ela costumava chamá-lo de “Sr. Presidente” – como se estivesse tendo relações não com um homem, mas com uma instituição.

Ela era uma instituição. Pouco a pouco, ela tomou consciência de que não tinha nada de privado. Uma vez alguém lhe perguntou – ela tinha acabado de posar nua para um calendário e alguém lhe perguntou:

– Mas você não tinha nada enquanto posava para o calendário?

– Bem …” – respondeu ela – “Eu tinha … o rádio ligado”.

Exposta, nua, nada seu em particular. Eu acho que ela cometeu suicídio porque essa era a única coisa que poderia ter feito em particular. Tudo era público; essa foi a única coisa que sobrou para fazer por conta própria, sozinha, algo absolutamente íntimo e secreto. As personagens públicas são sempre atraídas para o suicídio porque apenas por meio do suicídio elas podem ter um vislumbre de quem são.

Tudo o que é bonito é interior, e o interior significa privacidade. Você observou as mulheres fazendo amor? Elas sempre fecham os olhos. Elas sabem o que fazem. O homem continua fazendo amor com os olhos abertos; ele continua sendo um observador. Ele não está completamente entregue ao ato; não está totalmente nele.

Ele continua sendo um voyeur, como se outra pessoa estivesse fazendo amor e ele estivesse observando; como se o ato do amor estivesse numa tela de TV ou de cinema. Mas a mulher sabe mais porque ela está mais sutilmente sintonizada com o interior. Ela sempre fecha os olhos. Então, o amor tem um perfume totalmente diferente.

Faça uma coisa: um dia, ao tomar banho, apague a luz. No escuro, você ouve melhor a água cair, o som é mais nítido. Quando a luz está acesa, o som não fica tão nítido. O que acontece no escuro? No escuro, tudo o mais desaparece, porque você não pode ver. Só você e o som estão lá.

É por isso que em todos os bons restaurantes evita-se a luz; a luz forte é evitada. Eles usam velas. Sempre que um restaurante está à luz de velas, o gosto é melhor – você come bem e o paladar é mais apurado. O encanto envolve você. Se houver muita iluminação, o paladar desaparece. Os olhos tornam tudo público.

Na primeira frase da sua Metafísica, Aristóteles diz que a visão é o sentido mais elevado do homem. Não é – na verdade, a visão tornou-se muito dominadora. Ela monopolizou todo o seu ser e destruiu todos os outros sentidos.

O mestre dele, o mestre de Aristóteles, Platão, diz que existe uma hierarquia entre os sentidos – a visão está no alto, o toque na base. Ele está completamente errado. Não existe hierarquia. Todos os sentidos estão no mesmo nível e não deve haver nenhuma hierarquia entre eles.

Mas você vive através dos olhos: oitenta por cento da sua vida depende dos olhos. Não deveria ser assim; o equilíbrio precisa ser restabelecido. Você também deve tocar, porque o toque tem algo que os olhos não podem dar.

Mas experimente, experimente tocar a mulher que você ama ou o homem que você ama em plena luz e, depois, tocar no escuro. No escuro o corpo se revela, no claro ele se esconde.

Você já viu as pinturas de corpos femininos de Renoir? Elas têm algo de milagroso. Muitos pintores pintaram o corpo feminino, mas não existe comparação com Renoir. Qual é a diferença? Todos os outros pintores pintaram o corpo feminino como ele aparece aos olhos. Renoir pintou como ele é sentido pelas mãos; assim, a pintura tem calor, proximidade, vivacidade.

Quando você toca, algo de muito íntimo acontece. Quando você vê, tudo fica distante. No escuro, em segredo, na privacidade, algo se revela que não pode ser revelado às claras, na rua. Outros estão vendo e observando: algo profundo dentro de você se encolhe, não pode desabrochar.

É como se você pusesse sementes no chão para todo mundo olhar. Elas nunca irão brotar. Elas precisam ser atiradas no fundo do útero da terra, na escuridão profunda onde ninguém possa vê-las, onde elas começam a brotar e então nasce uma grande árvore.

Assim como as sementes precisam do escuro e da privacidade, todos os relacionamentos que são profundos e íntimos permanecem no seu interior. Eles precisam de privacidade, precisam de um lugar onde apenas dois existam. Então, chega um momento em que até mesmo os dois se dissolvem e apenas um existe.

Dois amantes profundamente afinados um com o outro se dissolvem. Apenas um existe. Eles respiram juntos, estão juntos, existe um companheirismo. Isso não seria possível se houvesse a presença de observadores. Eles nunca seriam capazes de relaxar se outros estivessem observando. Os próprios olhos se tornariam uma barreira. Assim, tudo o que é belo, tudo o que é profundo, acontece no escuro.

Nos relacionamentos humanos, a privacidade é necessária. O segredo tem suas próprias razões para existir. Lembre-se disso, e lembre-se sempre de que você vai se comportar muito tolamente na vida caso se torne totalmente público.

Seria como se alguém virasse os bolsos do avesso. Essa seria a sua forma, como bolsos virados do avesso. Não há nada de errado em ser voltado para fora; mas lembre-se de que isso é apenas parte da vida. Não deve se tornar a totalidade.

Eu não estou querendo dizer para entrar no escuro para sempre. A luz tem sua própria beleza e o seu próprio sentido. Se a semente permanecer no escuro para todo o sempre e nunca sair para receber o sol da manhã, ela morrerá.

Ela precisa entrar no escuro para brotar, para reunir forças, para tornar-se vital, para renascer, e depois tem de sair e encarar o mundo, a luz, a tempestade e as chuvas. Ela tem de aceitar o desafio do exterior. Mas esse desafio só pode ser aceito se você estiver profundamente enraizado interiormente.

Eu não estou dizendo para você se tornar escapista. Não estou dizendo para você fechar os olhos, se retrair e nunca mais sair. Estou dizendo simplesmente para você entrar de modo que possa sair com energia, com amor, com compaixão.

Entrar de modo que, quando sair, você não seja mais mendigo, mas rei. Entrar de modo que, quando sair, tenha algo a compartilhar – as flores, as folhas. Entrar de modo que a sua saída seja mais rica e não empobrecida. E sempre se lembre que, toda vez que se sentir exaurido, a fonte de energia está no seu interior. Feche os olhos e entre.

Tenha relacionamentos externos, tenha relacionamentos internos também. É claro que é inevitável ter relacionamentos externos – você anda no mundo, os relacionamentos profissionais estão aí -, mas eles não devem ser tudo. Eles têm um papel a desempenhar, mas deve haver algo absolutamente secreto e privado, algo que você possa chamar de seu.

Foi isso que faltou a Marilyn Monroe. Ela era uma mulher pública, bem-sucedida, ainda que um completo fracasso. Quando estava no auge do sucesso e da fama, ela cometeu suicídio. Por que ela cometeu suicídio continua sendo um enigma. Ela tinha tudo por que viver; não se pode conceber mais fama, mais sucesso, mais carisma, mais beleza, mais saúde do que ela tinha. Estava tudo lá, não era preciso melhorar nada, e ainda assim faltava alguma coisa. O lado de dentro, o interior, estava vazio. Então, o suicídio foi o único caminho.

Pode ser que você não chegue ao ponto de cometer suicídio como Marilyn Monroe. Pode ser que você seja muito covarde e cometa suicídio muito lentamente – pode ser que você leve setenta anos para cometê-lo – mas ainda assim é suicídio.

A menos que tenha algo dentro de você, que não dependa de nada de fora, que seja apenas seu – um mundo, um espaço seu, onde possa fechar os olhos e andar, onde possa esquecer que tudo mais existe – você está cometendo suicídio.

A vida nasce dessa fonte interior e se espalha pelo céu afora. Tem de haver um equilíbrio; e estou sempre procurando o equilíbrio. Portanto, não vou dizer que a sua vida deva ser um livro aberto, não. Alguns capítulos abertos, tudo bem. E alguns capítulos completamente fechados, um completo mistério. Se você for apenas um livro aberto, você será uma prostituta, você simplesmente vai ficar esperando nu na rua, com o rádio ligado. Não, essa não.

Se todo o seu livro estiver aberto, você será apenas o dia sem noite, apenas o verão sem inverno. Onde você vai descansar, onde vai se centrar e onde vai buscar refúgio? Para onde você irá quando estiver cansado deste mundo? Para onde irá para orar e meditar? Não; meio a meio está perfeito. Deixe metade do seu livro aberto – aberto a todos, disponível a todos – e deixe que a outra metade do seu livro seja tão secreta que apenas raros convidados possam ter acesso a ela.

Apenas raramente alguém recebe a permissão para entrar no seu templo. É assim que deve ser. Se a multidão entrar e sair, então o templo não será mais um templo. Poderá ser o salão de espera de um aeroporto, mas não pode ser um templo.

Apenas raramente, muito raramente, você permite que alguém entre no seu eu. É isso que é o amor.

By Osho, em “Intimidade: Como Confiar em Si Mesmo e nos Outros”

%d blogueiros gostam disto: