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Tilápia ao molho taratur

Posted in Receitas with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 29/11/2014 by Joe

Tilápia ao molho taratur

“Quo Vadis”, filme de 1951 dirigido pelo grande Mervin LeRoy, é uma das produções mais caras de Hollywood e entrou para a filmografia mundial por trazer o par Robert Taylor e a linda Deborah Kerr como pessoas especiais.

Ela, Lígia, filha adotiva de um general romano; ele Marcus Vinicius, também general romano, que teriam tudo para abraçar o altar cheio de deuses adorados pelos romanos, mas que se convertem à fé cristã, não sem antes passarem pela loucura e desatinos de Nero (Peter Ustinov, sensacional!), o imperador do período que, em sua demência, matou a mãe, o meio-irmão e ateou fogo na capital do império. No filme, o fogaréu entra em cena em uma impressionante sequência, em que nem toda a correria e vaivém movem um único fio de cabelo de Taylor, um galã acima de qualquer suspeita.

O outro personagem que se destaca no filme é Pedro, interpretado pelo escocês Finlay Currie, cuja crucificação (assim como a carnificina em plena arena, de cabeça para baixo) é um dos momentos memoráveis da carreira de um ator que também integrou o elenco de produções bíblicas, como Ben-Hur e A Queda do Império Romano.

Naqueles primeiros anos do cristianismo, após a morte de Jesus, Pedro era ouvido por multidões e usou um símbolo forte para expandir a palavra do homem que falou para cultivar o bem, a paz e a união entre os povos: o peixe!

Este era o sinal inequívoco do então ascendente cristianismo.

É em “Quo Vadis” que vemos, pela primeira vez, uma referência à marca que seria definitiva na vida dos cristãos. Perseguidos com sadismo pelo imperador, ao se encontrarem pelas ruas das cidades os seguidores de Jesus usavam o peixe desenhado na areia para avisar sobre as pregações e os encontros entre os fiéis. Desenhavam na areia para que ficasse mais fácil apagar qualquer vestígio de uma prática que levaria os “rebeldes” para o centro do Coliseu, onde o imperador apreciava ver os leões jantarem os fiéis mais exaltados e convencidos de sua crença.

Hoje, dois milênios depois, as duas linhas que começam juntas e se cruzam no fim estão em toda parte, sobretudo nos carros, colados como adesivos. Um modelo eficaz de simplicidade convincente, que jamais frustra quem de fato acredita.

Em outros posts já falamos sobre peixes e suas qualidades nutritivas, deixando algumas receitas muito saborosas. E o prato de hoje é um peixe com o molho taratur, receita típica da região onde nasceram os apóstolos Pedro e Tiago, às margens do Mar da Galileia. Consumido em todo o Oriente Médio, é especialmente servido como acompanhamento do falafel ou de qualquer outro prato à base de peixe, embora o molho combine também com legumes cozidos, quibe frito e palitos de frango empanados.

Tilápia ao molho taratur

Ingredientes

filés de tilápia
sal e pimenta a gosto
sumo de um limão
2 ovos
farinha de rosca

Molho taratur

1/2 xícara (chá) de pasta de gergelim (tahine)
2 dentes de alho
1 colher (chá) de sal
2 colheres (sopa) de água
suco de meio limão
pimenta síria a gosto (opcional)

Modo de preparo

Corte os filé de tilápia em tiras (a espessura fica ao seu gosto), tempere com sal, pimenta e sumo do limão e deixe marinando por uns 30 minutos.

Em um prato, bata os ovos. Coloque a farinha de rosca em outro prato. Pegue os filés de tilápia e passe nos ovos batidos, depois na farinha e reserve em outra vasilha.

Frite os filés empanados em óleo quente numa quantidade que possa cubrí-los. De prerefência, vá fritando aos poucos para não esfriar o óleo e também para não queimar os filés.

Para o molho, comece preparando o alho, socando-o com o sal até formar uma pasta bem homogênea. Reserve.

Coloque a pasta de gergelim em uma vasilha funda e junte a água. Mexa bem com uma colher até que o creme fique mais branco. Acrescente a pimenta síria, a pasta de alho e sal e o limão, mexendo bem até obter uma mistura cremosa e lisa.

Sirva os peixes fritos com o molho. Uma cervejinha gelada é um ótimo acompanhamento que , com certeza, Pedro e Tiago não tiveram oportunidade de experimentar!

By Joemir Rosa.

O Doador de Memórias

Posted in Livros with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 31/08/2014 by Joe

O Doador de MemóriasLivro: O Doador de Memórias
Quando Não Há Memórias, A Liberdade É Apenas Uma Ilusão
By Lois Lowry
Editora Arqueiro

Ganhadora de vários prêmios, Lois Lowry constrói um mundo aparentemente ideal onde não existe dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não existe amor, desejo ou alegria genuína.

Os habitantes da pequena comunidade, satisfeitos com suas vidas ordenadas, pacatas e estáveis, conhecem apenas o agora – o passado e todas as lembranças do antigo mundo foram apagados de suas mentes.

Uma única pessoa é encarregada de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis.

Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo.

Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar.

Premiado com a Medalha John Newbery por sua significativa contribuição à literatura juvenil, este livro tem a rara virtude de contar uma história cheia de suspense, envolver os leitores no drama de seu personagem central e provocar profundas reflexões em pessoas de todas as idades.

Leia o primeiro capítulo aqui:
http://editoraarqueiro.com.br/upload/pdf/O_doador_1o_cap.pdf

O filme estreou em 2014 e conta com um bom elenco: os promissores Brenton Thwaites, Cameron Monaghan e Odeya Rush, e ainda conta com dois indicados ao Oscar, Meryl Streep e Jeff Bridges, o astro da série True Blood, Alexander Skarsgård, a atriz Katie Holmes e a ganhadora do Grammy, Taylor Swift.

By Joemir Rosa.

Pré-julgamentos

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 06/05/2014 by Joe

Pré-julgamentos

Eram dois vizinhos. Um deles comprou um coelho para os filhos. Os filhos do outro vizinho também quiseram um animal de estimação. E os pais desta família compraram um filhote de pastor alemão.

Então começa uma conversa entre os dois vizinhos:

– “Ele vai comer o coelho dos meus filhos!”

– “De jeito nenhum. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos “pegar” amizade!”

E, parece que o dono do cão tinha razão. Juntos cresceram e se tornaram amigos. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças, felizes com os dois animais.

Eis que o dono do coelho foi viajar no fim de semana com a família e o coelho ficou sozinho.

No domingo, à tarde, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche tranquilamente, quando, de repente, entra o pastor alemão com o coelho entre os dentes, imundo, sujo de terra e morto. Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo, o cão levou uma tremenda surra!

Dizia o homem:

– “O vizinho estava certo, e agora? Só podia dar nisso! Mais algumas horas e os vizinhos vão chegar… E agora?!?”

Todos se olhavam. O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos.

– “Já pensaram como vão ficar as crianças?”

Não se sabe exatamente quem teve a ideia, mas parecia infalível:

– “Vamos lavar o coelho, deixá-lo limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na sua casinha”.

E assim fizeram. Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças.

Horas depois ouvem os vizinhos chegarem. Notam os gritos das crianças.

– “Descobriram!”

Não passaram cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma.

– “O que foi? Que cara é essa?” – pergunta o dono do cachorro.

– “O coelho, o coelho…”

– “O que tem o coelho?”

– “Morreu!” – responde o dono do coelho.

– “Morreu? Como? Ainda hoje à tarde parecia tão bem…”

– “Morreu na sexta-feira!”

– “Na sexta?”

– “Foi. Antes de viajarmos, as crianças o enterraram no fundo do quintal e agora reapareceu…” – disse o dono do coelho.

A história termina aqui. O que aconteceu depois fica para a imaginação de cada um de nós.

Mas o grande personagem desta história, sem dúvida alguma, é o cachorro. Imagine o coitado, desde sexta-feira procurando em vão pelo seu amigo de infância. Depois de muito farejar, descobre seu amigo coelho morto e enterrado. O que faz ele? Provavelmente, com o coração partido, desenterra o amigo e vai mostrar para seus donos, imaginando que pudessem ressuscitá-lo.

Porém, o mais triste é que o ser humano continua julgando os outros…

Outra lição que podemos tirar desta história é que o homem tem a tendência de julgar os fatos sem antes verificar o que de fato aconteceu. Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade?

Histórias como essa são para pensarmos bem nas atitudes que tomamos. Às vezes, fazemos o mesmo…

Desconheço a autoria.

Desconstruções

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 12/01/2014 by Joe

Máscaras

Quando a gente conhece uma pessoa, construímos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela “vende” de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos.

Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso. Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa “inventou” um personagem e você caiu na arapuca, aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido: a de desconstrução daquela pessoa que você achou que era real.

Desconstruindo Fulana, desconstruindo Sicrano, desconstruindo Beltrano… Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico.

Ok, é natural que, numa aproximação, a gente “venda” mais nossas qualidades que os nossos defeitos. Ninguém vai iniciar uma história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco. Nada disso, é a hora de fazer charme. Mas isso é no começo. Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente é, nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam ideias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.

Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco. Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.

A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi, especial. Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé.

By Martha Medeiros.

A Maior Flor do Mundo

Posted in Livros, Videos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 01/09/2013 by Joe

A Maior Flor do Mundo

Livro: A Maior Flor do Mundo
By José Saramago
Editora Companhia das Letras

“A Maior Flor do Mundo” é uma magnífica história para crianças, mas, antes de tudo, é um legítimo Saramago. Transformando-se em personagem, o autor nos conta que uma vez teve uma ideia para um livro infantil, inventou uma história sobre um menino que faz nascer a maior flor do mundo. Não se julgava capaz de escrever para crianças, mas chegou a imaginar que, se tivesse as qualidades necessárias para colocar a ideia no papel, ela resultaria verdadeiramente extraordinária: “seria a mais linda de todas as que se escreveram desde o tempo dos contos de fadas e princesas encantadas…”

É dessa fantasia de grandiosidade que nasceu o livro. Os leitores são chamados para uma divertida brincadeira, pois Saramago narra-lhes a história do menino e da flor não como se ela fosse a história de verdade, mas como se fosse apenas o esboço do que ele teria contado se tivesse o poder de fazer o impossível: escrever a melhor história de todos os tempos.

Entrando no jogo com o autor, os pequenos leitores vão saber que ninguém nunca teve nem terá esse poder. Vão saber também que a literatura é o lugar do impossível: o menino desta história faz uma simples flor dar sombra como se fosse um carvalho. Depois, quando ele “passava pelas ruas, as pessoas diziam que ele saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos”.

Como nos velhos livros de literatura infantil, Saramago conclui:

– “E é essa a moral da história”.

O curta-metragem abaixo é uma animação baseada no livro “A Maior Flor do Mundo”, de José Saramago.
De Juan Pablo Etcheverry, com música de Emilio Aragón.
Produção da Continental Animación.

By Joemir Rosa.

Egoísmo

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 27/03/2013 by Joe

I Love Me Banner

O comportamento humano, apesar de contraditório e vulnerável, é muito fácil de ser decifrado ainda que nos consideremos seres complexos.

Os homens, de um modo geral, afirmam que as mulheres são subjetivas e exigentes demais. Elas, por sua vez, não conseguem reverberar a praticidade racional daqueles por quem se sentem atraídas. Ambos só olham os seus umbigos.

Já faz um tempo que tenho analisado casos à minha volta, procurando encaixar possíveis respostas para esse quebra-cabeça, que mais envolve emoção do que razão. Não temos o hábito de nos debruçar sobre o problema que nos surge. Queremos a solução imediata com meia dúzia de deduções próprias, que não permitem ver o outro lado da moeda. Somos egoístas por natureza!

Quando o conflito se apresenta à nossa frente, é comum que queiramos nos livrar dele o mais rápido possível. Colocamos a responsabilidade nos ombros do outro, lavamos as mãos e esperamos ansiosamente que ele assine a mea-culpa e procure contorná-la, caso contrário, o conflito permanecerá inconcluso, sem data para ser reavaliado, com direito a chantagem e tudo.

O ser humano é idealista e se recusa a enxergar o óbvio (quando o tempo da paixão e dos quereres se esgota). É o momento em que o perfume começa a evaporar, as novidades ficam escassas e as manias, evidentes. Não se vê mais o outro com os mesmos olhos. Então, começamos um processo de fabricação de uma personagem fictícia que atenda a todo o nosso arsenal psicológico.

O mais grave dessa fase é quando tudo passa a ser discutido, até a maneira como o outro se senta à mesa ou se comporta diante dos amigos. Perde-se o respeito, ganha-se impaciência, criam-se regras mentais que, a nosso gosto, devem ser seguidas à risca para que as coisas continuem no curso. Ignoramos personalidade, valores, conceitos, educação, cultura, simplesmente tudo.

O que falta às pessoas é enxergar que não se pode impor comportamento e ideias a quem as tem. No máximo, ampliá-los. Essa diversidade de caracteres, uma vez reprimida, acaba gerando frustração e distanciamento. Não há quem possa aceitar passivamente ser contrariado, julgado, doutrinado, lembrado o tempo todo de que precisa agir diferente e, ao final disso, ainda ser feliz.

Somos egoístas quando priorizamos apenas a nossa parte da história; quando desrespeitamos o pensamento e o modo de ser do outro; quando exigimos subserviência de quem está no mesmo nível emotivo de envolvimento. Somos completamente egoístas quando colocamos cartas à mesa e esclarecemos como será o jogo. Nesse caso, o outro sempre será o perdedor. Mas deve haver um?

By Luciana M. Penteado.

Autossabotagem

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 19/02/2013 by Joe

Depressão

Para cada situação negativa que mantemos na nossa vida, existem “ganhos secundários”. São algumas aparentes vantagens que o nosso inconsciente encontra para nos manter em uma situação de sofrimento. Parece sem lógica, mas é assim que funciona. Vou explicar melhor esse processo.

Atendi, durante um tempo, uma mulher que era advogada, funcionária pública concursada, que estava de licença médica por ter desenvolvido uma depressão. Durante os atendimentos, entre outras questões, ela relatou uma grande insatisfação com o trabalho dela, que desejava encontrar outra coisa, mas não sabia exatamente o que. Sentia muito medo de deixar a segurança do salário do emprego público. Pensava inclusive em trabalhar como terapeuta, mas ainda não tinha nenhum tipo de preparo. Era apenas um desejo por enquanto.

O estado depressivo foi rapidamente melhorando com o passar das sessões. E foi aí que surgiu um “problema”. Ela sentia que uma parte dela não queria de forma alguma se curar, para não ter que voltar ao trabalho que a deixava tão insatisfeita. O medo de voltar era grande. A depressão trazia um “ganho” secundário de mantê-la afastada. Tivemos que aprofundar e trabalhar bastante esse medo para que isso não viesse a sabotar o seu progresso. Eu lembro que ela chegou a ficar muito bem, mas ainda precisava fazer mais sessões. Acabou não entrando mais em contato. Não sei se depois ela voltou a trabalhar.

Certa vez, uma médica que foi aluna de um curso meu relatou o seguinte caso. Ela trabalhava em um posto de saúde e acompanhou um homem que sofria com turbeculose. Ele passou meses frequentando o posto e seguindo à risca o tratamento; acabou ficando curado. Depois que se curou, falou que surgiu uma tristeza e um grande vazio, por saber que não ia mais ter que ir ao posto de saúde e ter contato com as pessoas de lá. Ele se sentia cuidado.

Havia um ganho em se manter doente. Era certamente uma pessoa carente de atenção familiar. Em alguns casos a doença pode se prolongar por muito tempo, pois inconscientemente não queremos nos libertar dela por causa dos “benefícios” que ela nos trazem. É possível, então, que esse homem venha a desenvolver alguma outra doença para que possa ser novamente cuidado por alguém.

Esses são casos mais extremos de autossabotagem devido a ganhos secundários. Entretanto, isso não ocorre somente nesses casos mais intensos. Em maior ou menor grau, toda situação negativa da qual não conseguimos nos libertar, nos traz algum “ganho” inconsciente. Esses “ganhos”, às vezes, podem ser fáceis de perceber, mas em outros casos podem ser tão estranhos e absurdos que nós não nos damos conta.

Lembro em um determinado momento da minha vida que percebi um pensamento muito sabotador na área profissional. Eu vinha crescendo bastante no trabalho com a EFT como terapeuta e professor da técnica, me libertando de um período de sete anos em que tive uma firma de engenharia que me trouxe enormes prejuízos. De repente, me passou um pensamento: “e se eu realmente me livrar totalmente desses problemas financeiros e crescer a tal ponto de não ter mais que me preocupar com isso?”. O que surgiu foi um sentimento de medo, um vazio, uma sensação de que eu ia ficar sem objetivo na vida.

Isso ocorreu por que, durante anos da minha vida, o meu maior sofrimento era tentar sair das dívidas, mas eu ficava cada vez mais atolado. O meu grande objetivo era acabar com isso. Minha mente era preenchida com essa “luta”. Acabei me apegando a esse personagem que lutava eternamente e não conseguia nada. Resolver a questão financeira seria acabar com esse personagem com quem eu acabei gerando um senso de identificação. Mantê-lo me trazia um “ganho” aparente: ter um objetivo, uma vida preenchida, por mais doloroso que fosse.

É óbvio que eu poderia preencher a minha vida com coisas mais saudáveis. Mas o processo não é racional. Passa por uma lógica inconsciente que nos leva a uma grande autossabotagem.

Uma mulher que se relaciona com um homem que a trai constantemente, ou que bebe muito e é violento, tem sempre “ganhos” em se manter nessas situações. E são vários os possíveis “ganhos”. Vamos ver alguns:

– ser vista como uma mártir, uma pessoa boa, compreensiva e até espiritualizada; ganhar atenção e reconhecimento por isso.

– manter a identidade da vítima (apego ao personagem) e colocar a culpa do seu sofrimento no marido e, dessa forma, não assumir a responsabilidade de mudar. Assumir a responsabilidade pela própria vida é uma libertação, só traz benefícios. Só que o processo de transição de sair da vítima e cair na real pode ser bem doloroso. Além disso, a quem ela vai culpar se, por acaso, se separar e ainda assim não conseguir ser feliz?

– com sua baixa autoestima (sentimentos de menos valia, não merecimento, devido a culpas e rejeições que vem acumulando na vida) ela tem desejos inconscientes de sofrer e se punir e esse relacionamento preenche essa necessidade.

Vemos, então, que os “ganhos” secundários em manter um problema podem ser de diversos tipos: receber reconhecimento e atenção; ser cuidado pela família; tirar licença do trabalho e até se aposentar antes do tempo; manter um personagem ao qual estamos muito apegados inconscientemente; preencher a vida com uma causa; culpar os outros pela própria infelicidade e não ter que ver a sua parcela de responsabilidade; punir a si mesmo devido a baixa autoestima; etc.

E você? Que situações difíceis você vem mantendo, e quais os possíveis “ganhos” inconscientes. Faça a pergunta para si mesmo, mantenha a mente aberta para o que pode surgir. Talvez você se espante com as respostas. Trazer isso à luz da consciência é super importante para se libertar.

By André Lima.

Não parecia eu

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 23/08/2012 by Joe

Já deve ter acontecido com você. Diante de uma situação inusitada, você reage de uma forma que nunca imaginou e, ao fim do conflito, se pega pensando: que estranho, não parecia eu. Você, tão cordata, esbravejou. Você, tão explosivo, contemporizou. Você, tão seja-lá-o-que-for, adotou uma nova postura. Percebeu-se de outro modo. Virou momentaneamente outra pessoa.

No filme “Neblinas e Sombras” (não queria dizer que é do Woody Allen pra não parecer uma obcecada, mas é, e sou) o personagem de Mia Farrow refugia-se num bordel e aceita prestar um serviço sexual em troca de dinheiro, ela que nunca imaginou passar por uma situação dessas. No dia seguinte, admite a um amigo que, para sua surpresa, teve uma noite maravilhosa, apesar de se sentir muito diferente de si mesma. O amigo a questiona: “Será que você não foi você mesma pela primeira vez?”

São nauseantes, porém decisivas e libertadoras essas perguntas que nos fazem os psicoterapeutas e também nossos melhores amigos, não nos permitindo rota de fuga. E aí? Quem é você de verdade?

Viver é um processo. Nosso “personagem” nunca está terminado, ele vai sendo construído conforme as vivências e também conforme nossas preferências – selecionamos uma série de qualidades que consideramos correto possuir e que funcionam como um cartão de visitas. Eu defendo o verde, eu protejo os animais, eu luto pelos pobres, eu só me relaciono por amor, eu respeito meus pais, eu não conto mentiras, eu acredito em positivismo, eu acho graça da vida. Nossa, mas você é sensacional, hein!

Temos muitas opiniões, repetimos muitas palavras de ordem, mas saber quem somos realmente é do departamento das coisas vividas. A maioria de nós optou pela boa conduta, e divulga isso em conversas, discursos, blogs e demais recursos de autopromoção, mas o que somos, de fato, revela-se nas atitudes, principalmente nas inesperadas.

Como você reage vendo alguém sendo assaltado: foge ou ajuda? Como você se comporta diante da declaração de amor de uma pessoa do mesmo sexo: respeita ou debocha? O que você faria se soubesse que sua avó tem uma doença terminal: contaria a verdade ou a deixaria viver o resto dos dias sem essa perturbação? Qual sua reação diante da mão estendida de uma pessoa que você muito despreza: aperta por educação ou faz que não viu? Não são coisas que aconteçam diariamente, e pela falta de prática, talvez você tenha uma ideia vaga de como se comportaria, mas saber mesmo, só na hora. E pode ser que se surpreenda: “não parecia eu”.

Mas é você. É sempre 100% você. Um você que não constava da cartilha que você decorou. Um você que não estava previsto no seu manual de boas maneiras. Um você que não havia dado as caras antes. Um você que talvez lhe assombre por ser você mesmo pela primeira vez.

By Martha Medeiros.

A vida é um palco

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , , , , , , , , on 16/01/2012 by Joe

Imagine você sendo um ator ou uma atriz, fazendo o papel de um personagem numa peça. A peça está em cartaz há muito tempo. Você já conhece muito bem os diálogos e como a historia se desenrola.

Todas as noites, a mesma história. Não há mais surpresas. Você sabe muito bem seu papel e dos outros também. Sabe exatamente o que deve falar, quando e o que o outro vai responder e assim por diante…

Tudo previsível,  “perfeito”.

Imagine agora que a peça está perdendo público e logo vai sair de cartaz. Você terá de procurar outra peça para continuar atuando. Aí você recebe um convite para uma nova peça, onde fará um papel bem diferente, totalmente novo.

Você, como um ator responsavel, irá naturalmente estudar o novo personagem. Irá treinar as falas, os gestos, os movimentos. Irá estudar eventualmente o contexto histórico, a cultura, etc.

Talvez faça aulas de dança, de artes marciais, de canto, etc. para dar maior credibilidade à sua atuação. E, assim, você terá maiores chances de se sair bem na nova peça.

Isso parece uma atitude sensata e até óbvia.

Mas na vida real tem muita gente que faz diferente…

A pessoa tem um papel muito bem ensaiado. Está perfeitamente encaixada na “peça”. Faz algo e é criticada por uma pessoa próxima – há muito tempo essa cena se repete.

Mas, em algum momento, sente-se insatisfeita com aquele papel. Quer fazer mudanças. Mudanças significam assumir um novo personagem para poder atuar em uma outra peça.

É de se esperar, então, que ela estude bem esse novo personagem. É também esperado que ela estude o contexto histórico, a cultura, etc. Que aprenda e desenvolva novas habilidades para dar mais credibilidade ao personagem.

No entanto, prefere estudar o passado da personagem antiga, da peça que está saindo de cartaz. Faz isso perguntando: por que aquilo não deu certo? O que levou aquele personagem a ter aqueles sofrimentos? Quem foram os culpados?

E, assim, acaba negligenciando a preparação para o novo papel. Com as mesmas características do papel que representava na peça anterior… Não sendo bem preparada, sua atuação será desastrosa…

Mas esse não seria o papel antigo dela, justamente o que quer abandonar?

Pense bem nisso tudo. Veja como, na maioria das vezes, ficamos presos a um determinado papel, esperando que o teatro mude ao nosso redor.

Será que não é hora de você mudar de papel? Mudar o personagem?

By Mizuji.

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