
Um dos assuntos mais discutidos nas redes sociais diz respeito à dificuldade que as mulheres têm de encontrar um parceiro legal, disposto a assumir um relacionamento sério, com lealdade e responsabilidade. Claro que alguns homens também reclamam das mulheres, dizendo que elas andam complicadas demais, querendo muito além do que eles podem dar.
Bom, se tantos homens e mulheres buscam os mesmos objetivos, se todos querem um relacionamento verdadeiro, por que tanta dificuldade para que isso aconteça de verdade? Por que tantas reclamações, por que tanta gente sozinha? O que está faltando para que esse encontro aconteça?
Vivemos uma época em que, mesmo que as pessoas não admitam, as máscaras estão caindo e a verdadeira identidade de cada um está mais nítida. Namoro é marketing: as pessoas se vestem em papéis bonitos, atam fitas coloridas e se entregam como sendo o grande presente da vida do outro! Tentam vender uma imagem que não resiste aos primeiros momentos em que as fitas são desamarradas e o papel vai sendo retirado… em instantes, o verdadeiro produto aparece, com todos os seus detalhes mais reais, e os olhares vão perdendo o brilho, vão ficando sombrios e a decepção logo se estampa em seus rostos!
Na contra-mão dessas buscas, muitos casais vivem em pé de guerra, mal suportanto a presença um do outro, sem diálogos, sem paciência, sem lealdade, mantendo apenas uma máscara de relacionamento. Muitos chegam à agressões físicas e até a homicídios!
Aí eu pergunto: por que, então, tanta gente se submete a viver dessa forma? Será que existe uma síndrome de solidão que aterroriza os sonhos de tanta gente pelo mundo? Ou será que existe, mais concretamente, um molde social que praticamente cobra das pessoas a obrigação de um relacionamento dito “estável”, um casamento?
É comum ouvirmos as pessoas contarem que o namoro ou o casamento de um determinado casal não deu certo. Essa expressão é um tanto perturbadora quando analisada sob o ponto de vista temporal. Afinal, qual é a noção que as pessoas têm de “dar certo”?
Fiz essa pergunta para várias pessoas e a resposta que obtive, quase unânime, foi: “dar certo significa encontrar um parceiro que seja tudo aquilo que você sempre sonhou e que o relacionamento dure para sempre!”.
Peraí! Stop!! ”Dar certo significa encontrar um parceiro que seja tudo aquilo que você sempre sonhou e que o relacionamento dure para sempre!”. Será que essa resposta foi tirada de alguma legenda de desenho do Walt Disney? Porque isso está muito parecido com aquele final da Branca de Neve ou da Bela Adormecida onde “o príncipe a beijou e viveram felizes para sempre”!
Em primeiro lugar, essa definição nos traz o conceito do “parceiro que você sempre sonhou” onde existe uma idealização (geração de expectativas!) da figura perfeita para um relacionamento. Depois, vem a ditadura do “que dure para sempre”, motivo de tantos conflitos e sofrimento quando, na prática, isso não ocorre! Quanta gente deixa de viver a vida porque um relacionamento acabou e ela continua presa ao passado, remoendo a frustração de ver um sonho idealizado por tanto tempo (moldes impostos desde a infância) se desmoronar em questão de alguns anos de convivência.
Talvez o problema comece com essa idealização do parceiro perfeito onde se cria uma expectativa no outro, jogando toda a responsabilidade pela sua felicidade nas costas do pobre coitado. Em seguida, vem a cobrança da sociedade, da família e da igreja porque não durou “para sempre”. Olha o peso que tudo isso tem sobre essas pessoas que nunca pararam para pensar nesses moldes, na forma como foram “educadas” para seguir um caminho que vem de gerações, como se apenas isso bastasse para garantir que é o mais conveniente.
E o pior é que esses moldes estão impregnados em pessoas de todas as classes sociais, pessoas inteligentes, cultas, muitas vezes com um status social elevado, que fazem parte de uma minoria economicamente bem estabelecida, que vivem dentro de círculos sociais ativos mas que, na prática, continuam buscando, tentando… e “não dando certo”!
Nas salas de terapias é comum encontrarmos pessoas que já tiveram inúmeros relacionamentos, casamentos terminados, parceiros e mais parceiros, mas que ainda não perceberam que o verdadeiro relacionamento pode dar certo na medida em que as pessoas se predisponham a vivê-lo intensamente, honestamente, com lealdade, seja pelo período de tempo que for, sem data de validade pré-definida e sem aceitarem pressão de quem (ou o que) quer que seja.
Um dos fatores que detona uma relação é as pessoas acharem que “dar certo” é ser uma relação pra toda a vida. Isso é algo sem a menor noção porque elas acabam deixando de viver o momento presente em função da preocupação com o dia de amanhã. Todo mundo quer garantir o amanhã e deixa de viver o hoje.
Outro fator que também detona os relacionamentos é a questão do controle. Todos querem controlar seus parceiros, todos querem modelar o outro segundo as suas expectativas e aqueles sonhos idealizados por tantos anos! Sem contar as personalidades formadas a partir de vivências, experiências, crenças e valores de cada ser humano, o que as torna únicas!
Enfim, se as pessoas não perceberem que continuam agindo sempre da mesma maneira, que não se modificam para assumirem um novo caminho, se continuarem insistindo no que eu chamo de padrão de comportamento repetitivo, nada vai mudar!
As máscaras precisam cair! As pessoas precisam se desnudar dessas fantasias surreais e passar a viver de forma a compartilharem momentos vividos com intensidade, dialogarem sobre tudo, sem receios, derrubando tabus, mostrando-se por inteiras, sem papel de presente, laços ou príncipes sobre cavalos brancos. Curtir o fato de estarem juntas, de poderem conhecer o outro e se deixarem descobrir. Esse é o verdadeiro sentido do amor.
Aroveite este Dia dos Namorados para refletir um pouco sobre quem você é realmente, quais são os seus valores, os seus objetivos e checar se o seu verdadeiro eu quer mesmo um príncipe encantado como aquele que Disney desenhava nas telas de cinema, ou se você quer, pra valer, um companheiro, um parceiro leal e disposto também a compartilhar todos os momentos!
E, no meio dessa guerra dos sexos, que tal uma paradinha pra uma confraternização hoje?
By Joemir Rosa.
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