Arquivo para Morno

Alma com fome

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 15/06/2015 by Joe

Alma com fome

Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade?

Pois, tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração.

Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. Adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir.

Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir… Um beliscãozinho que for, me dê.

Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo. Este é o meu alimento: palavras para uma alma com fome.

By Clarice Lispector.

A vida é um jogo

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 21/07/2013 by Joe

A vida é um jogo

A vida é um jogo, belíssimo, onde só podemos ganhar aquilo que arriscamos!

Mas você parece que não anda ganhando muito, nem perdendo muito.
Nenhuma derrota acachapante, e nenhuma vitória inesquecível.
Nenhum ato grandioso, nenhum espetáculo…

Nenhuma desgraça horrorosa, mas também nenhuma paixão infinita.
Nenhuma queda profunda, nenhum salto mortal.
Nem pra cima, nem pra baixo.
Nada!
Nem escuridão, nem brilho, nem glória, nem tragédia.

Assim – a tua vida.
Segura, pacata, certinha, e normal.
Tudo em ordem, tudo estável e bem comportado.
Tudo em brancas nuvens.
Tudo meio morno, meio tépido, meio frouxo, meio mole.
Meio apagado.
Meio cinzento e meio sem graça.

Assim – a tua morte.

By Edson Marques.

Radical ou superficial?

Posted in Reflexão with tags , , , , , , on 07/07/2009 by Joe

EpitáfioHá uma frase que é sempre proferida – quase beirando um chavão –  quando em determinadas circunstâncias deseja-se cobrar de alguém uma postura direta, uma posição explícita ou até, uma atitude clara: Deus vomitará os mornos! Essa ameaça também serve para amedrontar aqueles que seguem pela vida afora sem nunca aproximar-se minimamente dos extremos, ficando sempre no ansiado ou proclamado como seguro “caminho do meio”, evitando-se, assim, qualquer risco de transbordamento ou ruptura da prudência.

Deus vomitará os mornos! Está lá no Apocalipse (último livro da Bíblia): “Conheço tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca”.

Essa admoestação colide frontalmente com um dos pilares da moral greco-romana desde a Antiguidade e que impregna com intensidade a moral do cotidiano: a virtude está no meio. (…) o que não se deve esquecer é que esse caminho pode também ser o da mediocridade. Em nome da sobriedade, da prudência e do comedimento, o máximo que se obtém em muitas situações é a mornidade mediana, regrada e constantemente refreada.

Nesse sentido, para não ser morno, é preciso ser radical. Cuidado! Em nosso vocabulário usual é feita uma oportunista confusão entre radical e sectário. Radical é aquele – como lembra a origem etimológica – que se firma nas raízes, isto é, que não tem convicções superficiais, meramente epidérmicas; radical é alguém que procura solidez nas posturas e decisões tomadas, não repousando na indefinição dissimulada e nas certezas medíocres. Por sua vez, o sectário é o que é parcial, intransigente, faccioso, ou seja, aquele que não é capaz de romper com seus próprios contornos e dirigir o olhar para outras possibilidades.

É preciso ter limites, mas, estará o limite exatamente no meio? Não é necessário ir até os extremos, mas é essencial não ficar restrito ao confortável e letárgico centro; muitas vezes o meio pode ficar anódino, inodoro, insípido e incolor. Alguns desses desejos de romper fronteiras mornas só aparecem nos epitáfios, sempre em forma nostálgica e lamentadora de um ‘eu devia ter…’ Para além da mitologia grega, não é por acaso que outros Titãs têm sido tão festejados quando cantam de forma deliciosa e perturbadora (e muitos com eles): ‘Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer; devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer”…

A sabedoria para equilibrar essas inquietações pode ser encontrada na reflexão feita no século 5 a.C. pelo filósofo chinês Confúcio:
“Eu sei por que motivo o meio-termo não é seguido: o homem inteligente ultrapassa-o, o imbecil fica aquém”.

Radicalidade é uma virtude; o vício está na superficialidade.

Do livro: “Não espere pelo epitáfio” by Mario Sergio Cortella
Editora Vozes.

Epitáfio

Titãs

Composição: Sérgio Britto

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer…

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração…

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar…

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor…

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier…

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar… (2x)

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr …

%d blogueiros gostam disto: