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Medo de envolvimento

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Medo de envolvimento

Não são poucos os que estão na corda bamba entre o desejo de amar e o medo de se ferir. E conseguir amar é justamente não se deixar engolir por esse medo. Desilusões, frustrações, decepções amorosas acontecem. O importante é compreende-las.

Uma busca de diversão, uma série de jogadas ao mesmo tempo tentadoras e ameaçadoras é que leva as pessoas a um número bastante grande de encontros, desencontros e reencontros. Os “namorantes” vem de muitos cantos e convergem em alguns pontos da cidade. Todos partilham as mesmas crenças, ou seja, acreditam que estão em busca de alguém que vai tornar sua vida mais rica, diferente, excitante. Buscam se encontrar para abrir novas portas. Querem dar às suas vidas uma nova dimensão.

A maioria das pessoas que está procurando um possível companheiro íntimo nunca se encontrou antes, mas como estranhos num navio, rapidamente se abre, confessa sua ilusão, sua esperança, como também o medo e a desilusão. Todos estão em busca de amantes mas, uma vez por outra, encontram “odiantes”. Isso cria muitas dúvidas. Todos já fomos decepcionados, frustrados e rejeitados de alguma maneira, todos já fomos menos amados do que queríamos.

Na terra do desejo somos livres – “eu quero, eu posso” – , mas, quando voltamos à realidade, olhamos nossa vontade cara a cara e vemos que é limitada. Quando ocorre um encontro, todos queremos evitar sermos machucados, nos sentirmos presos numa armadilha ou sermos abandonados.

Há momentos em que temos a impressão de que a vida e as relações são uma sucessão de experiências sem significado. Saímos de uma relação para outra com necessidade de esconder os próprios sentimentos ou as próprias dúvidas.

Muitas mulheres que se transformaram em “gatas escaldadas” pelas suas perdas juram pelo fundo de sua caixa de lenços de papel nunca confiar novamente. Por outro lado, a maioria dos homens se entorpece, lacra sua decepção no copo de um bar, provando uma bebida atrás da outra até que chega uma hora em que não se sabe mais o que está bebendo, nem muito menos sentindo: desilusão, raiva, irritação diante do conhecido e dos desconhecidos.

Um segredo em relação às perdas é encará-las, em vez de fugir delas, porque isso diminui seu poder. Antes de buscar alívio para a dor é importante compreende-la: caminhar com calma para dentro dela. Logo abaixo da superfície de qualquer dor encontram-se, com frequência, medo ou raiva escondidos.

Em vez de ficarmos sendo jogados de um lado para o outro por esses sentimentos, podemos reconhecer o que está acontecendo e tentar “pular fora”. Em outras palavras, quando podemos abrir um espaço para o sentimento e ficar na beirada, nos situamos. Ainda sentimos o calor da fogueira, mas as chamas não nos queimam mais. Se conseguimos criar algum espaço, uma “distância protetora”, não nos sentimos mais vulneráveis ou indefesos, ou seja, encaramos nosso medo ou nossa raiva sem sermos totalmente engolidos por eles.

Apesar de “pular fora” ser algo simples de explicar, nem sempre é fácil de conseguir, especialmente quando se trata de amor. Nosso amor por outra pessoa remexe nossos sentimentos, atiça fogo em nossas incertezas, em nossos medos, como também em nossos desejos.

Sempre que se apresenta uma nova possibilidade, há medo. Nós nos defrontamos com ele quando existe contato, quando nos sentimos afetados, tocados pelo outro. Antigamente se dizia: “Amar é não sentir medo”. Entretanto, essa é uma explicação bastante simplista; amar é, mais do que tudo, não se deixar ser engolido pelo medo. A sensação é a de ficar na corda bamba entre o desejo e o temor. Balançamos de um lado para o outro.

Aproximar-se de alguém, inevitavelmente, cria um desafio. Nós só iremos descobrir o que fazer quando tivermos a coragem de sentir e fazer uma escolha, pois o medo adverte: “Cuidado”. Mas a vida diz: “Arrisque”.

Afinal, a única saída continua sendo o amor!

By Maria Helena Matarazzo.

Desafio do diferente

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Homens X Mulheres

Ela tem fome de amor. Ele, de sexo. Ela quer enlace. Ele não pensa em compromisso. Parecem até seres incompatíveis. Mas seus caminhos se cruzam e há uma vontade irresistível de se encaixar um no outro. Este é o “desafio do diferente”.

Homem e mulher têm incríveis fantasias amorosas, pensamentos silenciosos que revelam suas diferenças. O homem sonha com várias mulheres, cada uma mais maravilhosa do que a outra; a mulher sonha com um homem extraordinário, com uma paixão total.

Quando o homem pensa na conquista, tem em mente o ato sexual. A mulher busca romance, envolvimento. A realização do homem acontece no encontro erótico, começa e acaba ali. Para a mulher, as coisas não são tão simples, ela quer ser lembrada, fazer-se desejada depois do encontro, no dia seguinte, no outro e ainda no outro…

Para o homem, o tempo passado com sua amante é um tempo livre de preocupações, de mergulho no prazer e no esquecimento. É, além do mais, um tempo recortado no meio do dia ou da noite, com princípio, meio e fim. Já a mulher sente necessidade de amar de modo contínuo e também de ser amada dessa forma.

O homem sabe que para provocar o desejo numa mulher, basta um gesto (desabotoar um único botão), um toque, às vezes, apenas uma palavra. E, uma vez atingido seu objetivo, a relação sexual, esse encontro pode cair no esquecimento.

Da perspectiva masculina, sentir atração por uma mulher, fazer amor com ela, não significa necessariamente pensar em construir um futuro, constituir família, realizar um grande amor. O ato sexual em si já lhe basta. Talvez sem vínculos, sem acordos, sem compromisso, o prazer seja ainda maior.

Para a mulher, tornar-se assustadora, incompreensível, a facilidade com que o homem se desliga e vai embora, para reaparecer algum tempo depois como se nada de anormal tivesse acontecido. Pois a mulher deseja continuidade, enlace, vida a dois.

E assim seus caminhos se cruzam…

No começo da revolução sexual, adotamos a ideia de que homens e mulheres deveriam se assemelhar em tudo. Agora reconhecemos que, embora ambos se pareçam em inúmeros aspectos, também apresentam muitas diferenças.

Para o homem, o prazer sexual vem antes de tudo, enquanto a maior parte das mulheres diz que necessita da ternura, do carinho, dos toques amorosos mais do que do ato sexual propriamente dito. Matar sua fome de sexo não é tão imprescindível quanto matar sua fome de amor.

Quem melhor explicou esse choque de expectativas, essas diferenças entre o sonho do homem e o da mulher, foi o sociólogo italiano Francesco Alberoni, em seu livro “O Erotismo” (Editora Rocco). Ele diz que existe no erotismo masculino um anseio inquieto de liberdade, um ingrediente que se opõe ao vínculo, à responsabilidade. Por exemplo, o homem muitas vezes trai a parceira não porque esteja realmente interessado em outra mulher, mas simplesmente para se sentir livre, fora do controle da possessividade amorosa dela.

Albertoni afirma também que o homem procura afastar tudo o que o aborrece, que o irrita. Quer sempre ter o direito de escolher, de presentear, de recompensar quem lhe dá prazer, e de descartar, deixar de lado, esquecer quem não lhe dá. Já o erotismo da mulher é baseado em um desejo permanente de agradar.

Às vezes, de uma relação amorosa, o homem consegue se lembrar com nitidez de apenas alguns encontros eróticos. Para isso, anula, coloca entre parênteses, a história da relação. Quase sempre essas lembranças são visuais e têm a ver com o início da relação. Lembra-se, por exemplo, com intensidade impressionante, do momento da entrega da mulher, da rendição. Já a mulher lembra-se das datas, dos detalhes, do dia-a-dia do amor.

Mas, por outro lado, o homem se envergonha de admitir que ele também tem necessidade de afeto, que teme a solidão e que, tanto quanto a mulher, tem fome de amor profundo.

Muitas vezes, penso que homens e mulheres são imensamente diferentes, até incompatíveis. Mas, apesar de tudo, existe uma necessidade intensa de acoplamento. Nós sentimos fome dessa interação, dessa conexão.

Se homens e mulheres parecem incompatíveis, talvez seja porque eles tenham realidades emocionais diversas e falem uma língua emocional diferente. Por isso, parece mais fácil, às vezes, a amizade entre duas mulheres ou mesmo entre dois homens.

Contudo, uma parte de cada um de nós se sente desafiada pelo mistério emocional do outro e é estimulada pelo conflito inerente às relações entre homem e mulher. Então, mesmo sendo tão difícil o entendimento, os dois continuam tentando.

É isso que poderíamos chamar de “desafio do diferente”. Ou seja: apesar dos desencontros, das dúvidas, dos desesperos, existe uma espécie de vontade irresistível de se encaixar no outro.

By Maria Helena Matarazzo.

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