Arquivo para Louca

O jeito deles

Posted in Inspiração, Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 22/06/2015 by Joe

O jeito deles 2

O que é que faz a gente se apaixonar por alguém? Mistério misterioso…

Não é só porque ele é esportista, não é só porque ela é linda, pois há esportistas sem cérebro e lindas idem, e você, que tem um, não vai querer saber de descerebrados.

Mas também não basta ser inteligente, por mais que a inteligência esteja bem cotada no mercado. Tem que ser inteligente e… algo mais. O que é este algo mais?

Mistério decifrado: é o jeito.

A gente se apaixona pelo jeito da pessoa. Não é porque ele cita Camões, não é porque ela tem olhos azuis: é o jeito dele de dizer versos em voz alta como se ele mesmo os tivesse escrito pra nós; é o jeito dela de piscar demorado seus lindos olhos azuis, como se estivesse em câmera lenta.

O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso…

Pelo meu primeiro namorado, me apaixonei porque ele tinha um jeito de estar nas festas parecendo que não estava, era como se só eu o estivesse enxergando.

O segundo namorado me fisgou porque tinha um jeito de morder palitos de fósforo que me deixava louca… ok, pode rir! Ele era um cara sofisticado e, por isso mesmo, eu vibrava quando baixava nele um caminhoneiro.

O terceiro namorado tinha um jeito de olhar que parecia que despia a gente: não as roupas da gente, mas a alma da gente. Logo vi que eu jamais conseguiria esconder algum segredo dele, era como se ele me conhecesse antes mesmo de eu nascer. Por precaução, resolvi casar com o sujeito e mantê-lo por perto.

E teve aqueles que não viraram namorados também por causa do jeito: do jeito vulgar de falar, do jeito de rir sempre alto demais e por coisas totalmente sem graça, do jeito rude de tratar os garçons, do jeito mauricinho de se vestir: nunca um desleixo, sempre engomado e perfumado, até na beira da praia. Nenhum defeito nisso. Pode até ser que eu tenha perdido os caras mais sensacionais do universo.

Mas o cara mais sensacional do universo e a mulher mais fantástica do planeta nunca irão conquistar você, a não ser que tenham um jeito de ser que você não consiga explicar.

Porque esses jeitos que nos encantam não se explicam mesmo.

By Martha Medeiros.

Amor e paixão

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , on 18/06/2015 by Joe

Amor e paixão

O amor tem uma consciência louca do futuro, de fazer passado com o futuro.

A paixão vive fora do tempo.

O amor vive no tempo porque deixa rastros.

Paixão se esquece, e amor nem enterrando acaba!

By Fabrício Carpinejar.

Alma com fome

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 15/06/2015 by Joe

Alma com fome

Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade?

Pois, tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração.

Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. Adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir.

Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir… Um beliscãozinho que for, me dê.

Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo. Este é o meu alimento: palavras para uma alma com fome.

By Clarice Lispector.

Quebrando ovos

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Quebrando ovos

Chega um momento em que a relação precisa quebrar os ovos. É bom estar preparado.

Será como o trabalho doméstico: transparente. Lava-se louça, roupa, estende, retira os vincos com ferro, limpa casa, recolhe o lixo, arruma os brinquedos e os filhos nem reparam que tudo está novamente no lugar e no armário, apesar da bagunça feita recentemente. É óbvio que não vão agradecer. É o que chamo de passado secreto. Aconteceu, mas não merece memória.

Entretanto, a raiva fica: não fui valorizado e resta um desmemoriado mal-estar.

Minha namorada resolveu comer omelete. Ela já preparou o prato outras vezes em seu apartamento. Estava na minha casa e me antecipei na captura dos ingredientes, louco para agradá-la. Mas a minha menção de executar a tarefa a desagradou. Entenda, é o passado secreto. O ardiloso passado secreto. Com minha efusiva disposição, ela desconfiou de que eu não gostava de suas omeletes e que, somente agora, decorrido um ano, estava com coragem de falar.

Raciocinei que significava uma informação dispensável, meu modo era dourar os dois lados e o dela era envelopar a massa ao final, mas ela tratava o assunto com tamanha energia que até me assustou.

– “Quer que eu faça?”, perguntei.

– “Não gosta do jeito que faço?”

– “Gosto, é que eu mostraria minha predileção…”

– “Gosta nada, quem já fez omelete para você? Quer do jeito de quem? Confessa?”

– “De ninguém…”

– “Ora, vai nessa, qual é a receita? Com queijo ralado, requeijão, tomates fatiados? Por que nunca me disse que não gostava da minha omelete? Eu me sinto uma idiota…”

– “Eu gosto, só busquei uma maneira diferente!”

– “Que maneira?”

(Daí eu me danei)

Levamos mais tempo discutindo na tentativa de prevenir a discussão. A conversa durou duas horas. Duas horas sobre absolutamente nada, a não ser o medo do que não foi vivido junto. Se aliso seu umbigo, acreditará que repito um convite libidinoso com uma antiga namorada. Quanto mais a gente se entrega, maior é o pânico de estar sozinho na doação, de ser uma miragem afetiva. Tanto que, após desfiar um “eu te amo tanto”, não ouse nunca mais declarar “eu te amo” – é como se amasse menos.

O ciúme está dobrado em cada gesto, fazendo contas e pedindo estornos. Não há saída; passe manteiga na conversa, aqueça a frigideira e admire os ovos quebrados na pia.

Repare como o negócio é tinhoso. Durante as compras, no caixa, costumava perguntar se ela estava naquele momento com troco. Não falava dinheiro, mas troco. Uso troco para tudo. Para quê? Ela já formulou uma tese de que empregava o código com a ex. Igual sina em nossas rotas românticas. Relaxados, sozinhos e prontos para namorar, peço que ela me alcance o champanhe do balde:

– “Por favor, me passe a “champs”?”

– ““Champs”?”

Pronto! Feito o entrevero. Usava também esse dialeto com a ex.

O grave é que ela tem razão. Só não desejava brigar, ainda mais quando não tenho defesa. Ela poderia ser mais justa e me dar tempo para preparar uma mentira.

By Fabrício Carpinejar.

A pessoa certa

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A pessoa certa

Atire a primeira pedra quem nunca sonhou em casar e ser feliz para sempre. Mas, quase sempre, a realidade é bem diferente da fantasia. Pensando nisso, a escritora americana Kathy Freston lançou o livro “A Pessoa Certa” (Editora Fontanar), um pequeno guia para facilitar as relações amorosas. Em entrevista, ela revela o caminho para ser feliz no amor.

Por que algumas pessoas têm tanta dificuldade para encontrar um amor?

Kathy Freston: Existem três grandes obstáculos que impedem uma relação feliz. O primeiro é o nosso ego, que quer sempre estar certo e no controle. Pessoas que precisam manter sempre o controle da situação têm mais dificuldade para amar. O segundo é o nosso inconsciente e toda aquela bagagem emocional que temos dificuldade em lidar. O terceiro é idolatrar o amor e os relacionamentos, achando que a vida a dois vai ser a solução de todos os problemas. Isto coloca muita pressão no parceiro, que acaba desistindo da relação.

Como encontrar a pessoal ideal?

KF: Os homens reclamam que as mulheres não prestam e elas lamentam que não existem mais homens bons. Isto não é verdade. É tudo uma questão das leis da energia e da atração. Se você realmente acredita que vai achar alguém que vale a pena, certamente vai encontrar. Se você acha que não merece ser amado, mesmo que inconscientemente, só vai atrair relações desastrosas. Acho que os solteiros, principalmente as mulheres, precisam acabar com essa paranoia de que precisam encontrar uma pessoa a todo custo. Correr atrás do amor não dá certo, você acaba parecendo uma pessoa louca e desesperada.

As pessoas costumam ter expectativas irreais sobre o amor?

KF: Sim. A maioria das pessoas acha que o relacionamento vai ser transformador, que vai melhorar tudo para a melhor. Mas isto não é verdade. O que somos é o que levamos para a relação. Se alguém está deprimido e improdutivo, certamente terá um relacionamento difícil e deprimente. Poucas pessoas lembram também que as relações são cheias de obstáculos. Só que isso é bom, porque nos torna pessoas melhores.

Como saber se estamos com a pessoa certa?

KF: Sua alma gêmea é aquela pessoa que vai incentivá-lo a dar o seu melhor, te transformar na “melhor versão de você mesmo”. É aquela pessoa que te dará força, que vai querer compartilhar os detalhes da sua vida, te motivar, te inspirar a ser generoso e amigo. Muitas vezes, é aquela pessoa que desperta qualidades positivas transformadoras. A atração sexual é importante, mas não é tudo.

Que conselho você daria para quem está passando por dificuldades no relacionamento?

KF: Terminar uma relação é uma decisão difícil, dolorosa e complicada. Por isso, pense muito antes de tomar esta decisão. Se o término é inevitável, tente acabar o relacionamento com gentileza e amor. Depois do fim, faça um verdadeiro balanço. De nada adianta começar uma relação nova carregando os mesmos vícios do passado. É importante lembrar que, no fundo, as pessoas mudam muito pouco. É possível mudar o corte de cabelo, as roupas ou um hábito mais superficial, mas não dá para transformar valores ou até mesmo a evolução pessoal do outro.

By Kathy Freston, escritora, do seu livro “A pessoa certa” (Editora Fontanar).

Mães más

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Mães más

Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes: eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.

Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que eles soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queremos pagar”.

Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto deles, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.

Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por eles, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.

Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade pelas suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que eles poderiam me odiar por isso (e em momentos até odiaram). Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.

Estou contente, venci. Porque, no final, eles venceram também! E, em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer:

– “Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo. As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço, mas nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães que deixavam seus filhos comerem vendo televisão. Ela insistia em saber onde estávamos a toda hora (tocava nosso celular de madrugada e “fuçava” nos nossos e-mails). Era quase uma prisão…”

“Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela “violava as leis do trabalho infantil”. Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho que achávamos cruéis. Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade e, quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos”.

“A nossa vida era mesmo chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer. Enquanto todos podiam voltar tarde à noite, com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa tinha sido boa (só para ver como estávamos ao voltar). Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência: nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa dela. Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos fazendo o nosso melhor para sermos “pais maus”, como minha mãe foi. Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: não há suficientes “mães más”.

É verdade… estão faltando “mães más” atualmente!

By Dr. Carlos Hecktheuer, médico psiquiatra.

Avanços tecnológicos

Posted in Humor with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 11/02/2013 by Joe

Máquina de escrever

A gente esvaziando a casa da tia neste carnaval. Móvel, roupas de cama, louça, quadros, livros. Aquela confusão toda, quando ouço meus filhos me chamarem.

– Mãe!

– Faaala…

– A gente achou uma coisa incrível. Se ninguém quiser, pode ficar para a gente? Hein?

– Depende. O que é?

Os dois falavam juntos, animadíssimos:

– Ééé… uma máquina, mãe. É só uma máquina meio velha.

– É, mas funciona, está ótima!

Minha filha interrompeu o irmão mais novo, dando uma explicação melhor.

– Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um… teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que escreve?

– Sei.

– Então. Essa máquina tem assim, tipo… uma impressora ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita…

Ela ia contando e se animando, os olhos brilhando.

– … e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo! É muuuito legal! Direto, na mesma hora, eu juro!

Eu não sabia o que falar. Eu juro que não sabia o que falar diante de uma explicação dessas, de uma menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever. Era isso mesmo?

– … entendeu mãe? Zupt, a gente escreve e imprime, a gente até vê a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chata de entrar no computador, ligar, esperar hooooras, entrar no Word, de escrever olhando na tela, mandar pra impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito legal, e nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!

– Nossa, filha…

– … só tem três coisas ruins: não dá para trocar a fonte, nem aumentar a letra e nem apagar, mas não tem problema. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem…

Eu fui, parei e olhei, pasma, a máquina velha. Eles davam pulinhos de alegria.

– Mãe… Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para ninguém querer pra a gente poder levar lá pra casa, isso é o máximo! O máximo!

Bem, enquanto estou aqui, neste “teclado”, estou ouvindo o plec-plec da tal máquina, que, claro, ninguém da família quis, mas que aqui em casa já deu até briga, de tanto que já foi usada. Está no meio da sala de estar, em lugar nobre, rodeada de folhas e folhas de textos “impressos na hora” por eles. “Incrível!”, eles dizem, plec-plec-plec, “muito legal”, plec-plec-plec. Eu e o meu marido estamos até pensando em comprar outra, uma para cada filho.

Mas, pensa bem se não é incrível mesmo para os dias de hoje: sai direto do teclado para o papel, e sem tomada!

Céus! Que coisa!!

Desconheço a autoria.

Ovos quebrados

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 21/01/2011 by Joe

Chega um momento em que a relação precisa quebrar os ovos. É bom estar preparado.

Será como o trabalho doméstico: transparente. Lava-se louça, roupa, estende, retira os vincos com ferro, limpa casa, recolhe o lixo, arruma os brinquedos e os filhos nem reparam que tudo está novamente no lugar e no armário, apesar da bagunça feita recentemente. É óbvio que não vão agradecer. É o que chamo de passado secreto. Aconteceu, mas não merece memória. Entretanto, a raiva fica: não fui valorizado e resta um desmemoriado mal-estar.

Minha namorada resolveu comer omelete. Ela já fez o prato outras vezes em seu apartamento. Estava minha em casa e me antecipei na captura dos ingredientes, louco para agradá-la. Mas a minha menção de executar a tarefa a desagradou. Entenda, é o passado secreto. O ardiloso passado secreto. Com minha efusiva disposição ela desconfiou de que eu não gostava de suas omeletes e que, somente agora, decorrido um ano, estava com coragem de falar.

Raciocinei que significava uma informação dispensável, meu modo era dourar os dois lados e o dela era envelopar a massa ao final, mas ela tratava o assunto com tamanha energia que até me assustou.

– Quer que eu faça?, perguntei.

– Não gosta do jeito que faço?

– Gosto, é que eu mostraria minha predileção…

– Gosta nada, quem já fez omelete para você? Quer do jeito de quem? Confessa?

– De ninguém.

– Ora, vai nessa, qual é a receita? Com queijo ralado, requeijão, fatias? Por que nunca me disse que não gostava da minha omelete? Eu me sinto uma idiota…

– Eu gosto, só busquei uma maneira diferente.

– Que maneira?

(Daí eu me danei)

Levamos mais tempo discutindo na tentativa de prevenir a discussão. A conversa durou duas horas. Duas horas sobre absolutamente nada, a não ser o medo do que não foi vivido junto. Se aliso seu umbigo, acreditará que repito um convite libidinoso com uma antiga namorada. Quanto mais a gente se entrega, maior é o pânico de estar sozinho na doação, de ser uma miragem afetiva. Tanto que após desfiar um “eu te amo tanto”, não ouse nunca mais declarar “eu te amo” – é como se amasse menos.

O ciúme está dobrado em cada gesto, fazendo contas e pedindo estornos. Não há saída; passe manteiga na conversa, aqueça a frigideira e admire os ovos quebrados na pia.

Repare como o negócio é tinhoso. Durante as compras, no caixa, costumava perguntar se ela estava naquele momento com troco. Não falava dinheiro, mas troco. Uso troco para tudo. Para quê? Ela já formulou uma tese de que empregava o código com a ex. Igual sina em nossas rotas românticas. Relaxados, sozinhos e prontos para namorar, peço que ela me alcance o champanhe do balde:

– Por favor, me passe a “champs”?

– “Champs”?

Pronto! Feito o entrevero. Usava também esse dialeto com a ex.

O grave é que ela tem razão. Só não desejava brigar, ainda mais quando não tenho defesa. Ela poderia ser mais justa e me dar tempo para preparar uma mentira.

By Fabrício Carpinejar.

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