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A imbecilização do Brasil

Posted in Atualidade with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 15/07/2013 by Joe

Imbecilização do Brasil

Nossa vanguarda. Imbatíveis à testa da Operação Deserto.

Há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre. Há muito tempo o Brasil não produz pintores como Cândido Portinari. Há muito tempo o Brasil não produz historiadores como Raymundo Faoro.

Há muito tempo o Brasil não produz polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues. Há muito tempo o Brasil não produz jornalistas como Claudio Abramo, e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…

Os derradeiros, notáveis intérpretes da cultura brasileira já passaram dos 60 anos, quando não dos 70, como Alfredo Bosi ou Ariano Suassuna ou Paulo Mendes da Rocha. Sobra no mais um deserto de oásis raros e até inesperados. Como o filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça, que acaba de ser lançado, para os nossos encantos e surpresa.

Nos últimos dez anos o país experimentou inegáveis progressos econômicos e sociais, e a história ensina que estes, quando ocorrem, costumam coincidir com avanços culturais. Vale sublinhar, está claro, que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência da cidadania. Houve, de resto, e por exemplo, progressos em termos de educação, de ensino público? Muito pelo contrário.

E houve, decerto, algo pior, o esforço concentrado dos senhores da casa-grande no sentido de manter a maioria no limbo, caso não fosse possível segurá-la debaixo do tacão. Neste nosso limbo terrestre a ignorância é comum a todos, mas, obviamente, o poder pertence a poucos, certos de que lhes cabe por direito divino. Indispensável à tarefa, a contribuição do mais afiado instrumento à disposição, a mídia nativa. Não é que não tenha servido ao poder desde sempre. No entanto, nas últimas décadas cumpriu seu papel destrutivo com truculência nunca dantes navegada.

Falemos, contudo, de amenidades do vídeo. De saída, para encaminhar a conversa. Falemos do Big Brother Brasil, das lutas do MMA e do UFC, dos programas de auditório, de toda uma produção destinada a educar o povo brasileiro, sem falar das telenovelas, de hábito empenhadas em mostrar uma sociedade inexistente, integrada por seres sem sombra. Deste ponto de vista, a Globo tem sido de uma eficácia insuperável.

O espetáculo de vulgaridade e ignorância oferecido no vídeo não tem similares mundo afora, enquanto eu me colho a recordar os programas de rádio que ouvia, adolescente, graciosas, adoráveis peças de museu como a PRK30, ou anos verdolengos habitados pelos magistrais shows de Chico Anysio. Cito exemplos, mas há outros. Creio que a Globo ocupe a vanguarda desta operação de imbecilização coletiva, de espectro infindo, na sua capacidade de incluir a todos, do primeiro ao último andar da escada social.

O trabalho da imprensa é mais sutil, pontiagudo como o buril do ourives. Visa à minoria, além dos donos do poder real, que, além do mais, ditam o pensamento único, fixam-lhe os limites e determinam suas formas de expressão. O alvo é a chamada classe média alta, os aspirantes, a segunda turma da classe A, o creme que não chegou ao creme do creme. E classe B também. Leitores, em primeiro lugar, dos editoriais e colunas destacadas dos jornalões, e da Veja, a inefável semanal da Editora Abril. Alguns remediados entram na dança, precipitados na exibição, de verdade inadequada para eles.

Aqui está a bucha do canhão midiático. Em geral, fiéis da casa-grande encarada como meta de chegada radiosa, mesmo quando ancorada, em termos paulistanos, às margens do Rio Pinheiros, o formidável esgoto ao ar livre. E, em geral, inabilitados ao exercício do espírito crítico. Quem ainda o pratica, passa de espanto a espanto, e o maior, se admissível a classificação, é que os próprios editorialistas, colunistas, articulistas etc. etc. acabem por acreditar nos enredos ficcionais tecidos por eles próprios, quando não nas mentiras assacadas com heroica impavidez.

O deserto cultural em que vivemos tem largas e evidentes explicações, entre elas, a lassidão de quem teria condições de resistir. Agrada-me, de todo modo, o relativo otimismo de Alfredo Bosi, que enriquece esta edição. Mesmo em épocas medíocres pode medrar o gênio, diz ele, ainda que isto me lembre a Península Ibérica, terra de grandes personagens solitárias em lugar de escolas do saber. Um músico e poeta italiano do século passado, Fabrizio de André, cantou: “Nada nasce dos diamantes, do estrume nascem as flores”. E do deserto?

By Mino Carta para Carta Capital.

O poder das palavras

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 28/06/2011 by Joe

Em um lugar por onde passavam muitas pessoas, um mendigo costumava sentar-se na calçada e, ao lado, colocava uma placa com os dizeres:

“Vejam como sou feliz! Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, sou um sucesso, tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou saudável e bem humorado”.

As pessoas que passavam o olhavam, intrigadas; outras o achavam doido e outras até davam-lhe dinheiro. Todos os dias, antes de dormir, ele contava o dinheiro e notava que a cada dia a quantia era maior.

Numa bela manhã, um importante e arrojado executivo, que já o observava há algum tempo, aproximou-se e lhe disse:

“Você é muito criativo! Não gostaria de colaborar numa campanha da minha empresa?”

“Vamos lá. Só tenho a ganhar!”, respondeu o mendigo.

Após um caprichado banho e com roupas novas, foi levado para a empresa. Daí para frente, sua vida foi uma sequência de sucessos e, depois de um certo tempo, ele tornou-se um dos sócios majoritários.

Numa entrevista coletiva à imprensa, ele esclareceu como conseguira sair da mendicância para tão alta posição. Contou ele:

– “Bem … houve época em que eu costumava me sentar nas calçadas com uma placa ao lado, que dizia: ‘Sou um nada neste mundo! Ninguém me ajuda! Não tenho onde morar! Sou um homem fracassado e maltratado pela vida! Não consigo um mísero emprego que me renda alguns trocados ! Mal consigo sobreviver’. As coisas iam de mal a pior quando, certa noite, achei um livro e nele atentei para um trecho que dizia:

‘Tudo que você fala a seu respeito vai se reforçando. Por pior que esteja a sua vida, diga que tudo vai bem. Por mais que você não goste de sua aparência, afirme-se bonito. Por mais pobre que você seja, diga a si mesmo, e aos outros, que você é próspero’.

Aquilo me tocou profundamente e, como nada tinha a perder, decidi trocar os dizeres da placa para:

‘Vejam como sou feliz! Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, sou um sucesso, tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou saudável e bem humorado’.

A partir desse dia, tudo começou a mudar; a vida me trouxe a pessoa certa para tudo que eu precisava, até que cheguei onde estou hoje. Tive apenas que entender o Poder das Palavras.

O Universo sempre apoiará tudo o que dissermos, escrevermos ou pensarmos a nosso respeito e isso acabará se manifestando em nossa vida como realidade. Enquanto afirmarmos que tudo vai mal, que nossa aparência é horrível, que nossos bens materiais são ínfimos, a tendência é que as coisas fiquem piores ainda, pois o Universo as reforçará. Ele materializa em nossa vida todas as nossas crenças”.

Naquele momento, uma repórter, ironicamente, questionou:

“O senhor está querendo dizer que algumas palavras escritas numa simples placa modificaram a sua vida?”

Respondeu o homem, cheio de bom humor:

“Claro que não, minha ingênua amiga! Primeiro eu tive que acreditar nelas!”

Desconheço a autoria.

Enchentes sem dono

Posted in Atualidade with tags , , , , , , , , , , , on 11/09/2009 by Joe

ChuvaA enchente de Serra e Kassab não tem dono

Na época em que Luiza Erundina era prefeita, as enchentes sempre tinham dono. Tempos depois, esses desastres passaram até mesmo a ter causa: Marta Suplicy.

Nesses dois tensos períodos, ao se formar a primeira poça de água na cidade, o Estadão e a Folha já se alvoroçavam, enviando seus repórteres furiosos às portas da Prefeitura.

Nas duas gestões, ao lado das fotos de carros naufragados e moradores lavados pelo pranto, os diários estampavam-se imagens das prefeitas.

Nos telejornais, gente como Boris Casoy bradava: “isto é uma vergonha”. Ana Maria Braga, com sua cara de torta de palmito, solidarizava-se com as famílias das casas inundadas. Em tom pungente, reclamava do descaso da autoridade municipal.

Ou seja, todas as tragédias se convertiam imediatamente em incômodo patrimônio petista. Nos portais da Internet, senhoras indignadas reclamavam do terninhos bem cortados de Marta Suplicy e de seus penteados de estilo, alçados à categoria de precipitadores de temporais.

Em 2.004, por exemplo, Marta foi visitar as vítimas das enchentes no Vale do Aricanduva, na Zona Leste. Naquele dia, havia ali uma claque oposicionista bem armada, insuflando os moradores.

Uma mulher que perdera seus móveis insultou a prefeita. Um vereador oposicionista da região adestrou uma turba de desocupados para chutar e esmurrar os carros da comitiva.

No dia seguinte, completou-se o rito condenatório, como fotos do quiprocó em todos os grandes jornais paulistanos.

Até o informe do PSTU na Internet aproveitou-se do episódio. Na época, copiaram os textos dos Frias e Mesquitas: “é um verdadeiro absurdo querer culpar as forças da natureza pelas tragédias causadas pelas enchentes, como fez a prefeita Marta Suplicy”.

Neste 8 de Setembro, São Paulo foi novamente lavada por chuva forte. Bueiros se empanturraram de detritos, rios transbordaram, o trânsito se transformou num inferno, barrancos cederam e gente simples morreu.

Esta tragédia, no entanto, não têm dono. Como não teve aquela do buraco do metrô que engoliu uma dezena de cidadãos.

Os indignados nas gestões petistas nem se lembraram de questionar o dono de jornais José Serra e o “padrinho maroto dos ambulantes da Mooca e da Lapa”, Gilberto Kassab.

No caso do governo do Estado, ninguém perguntou sobre a obra paga-empreiteira que retalhou ainda mais a Marginal do Tietê.

Nem houve imprensaleiro que se indignasse com as valas abertas nos canteiros desmatados, logo convertidas em enormes piscinas de lodo.

Quanto a Kassab, nenhum profissional de gravador e bloquinho foi questioná-lo sobre o acordo que firmou com as coletoras de lixo.

Por conta de sua política de limpeza urbana, os Jardins e os bairros nobres agora recebem tratamento VIP. Muitas áreas de favelas e de novos loteamentos da periferia, ao contrário, passaram a ser atendidas apenas quando possível.

As câmeras das TVs exibiram, durante toda a terça-feira, uma série de flancos da cidade em que as bocas-de-lobo soluçavam tapadas por sacos plásticos.

Isso nas costas da Penha, no Rio Pequeno, no Parque Novo Mundo e em mais uma dúzia de bairros.

Detalhe: não era simplesmente “lixo”. Eram sacos, sacos de lixo.

A imprensa de José Serra e seus funcionários dos telejornais culparam São Pedro e os “moradores porcos” pelos entupimentos e pelas enchentes que paralisaram a maior cidade do país.

Agora, cabe a singela pergunta: por que alguém que pretende sujar e emporcalhar a cidade se preocuparia em reunir o lixo em sacos de plástico?

Por que uma mãe de família, por mais humilde que seja, sabotaria o ambiente de seus próprios filhos?

Cadê o repórter? Por que não foi perguntar aos chefes? Hem?!!

By Mauro Carrara, jornalista, para o site da NovaE
http://www.novae.inf.br

Mais do mesmo

Posted in Atualidade with tags , , , , , , , , , , , , on 03/09/2009 by Joe

Record X GloboA imprensa deu grande destaque à disputa travada entre Globo e Record nas últimas semanas.

A emissora da família Marinho se aproveitou do inquérito no qual Edir Macedo é réu e tratou de disparar contra a Record. Do ponto de vista jornalístico, a abertura de um processo contra o fundador da IURD não significa muita coisa. Só a vontade de surrar a concorrente justifica a cobertura desproporcional levada a cabo pela Globo.

A Record contra-atacou e tratou de lembrar o histórico global de pouco afeto à democracia, sua relação com os sucessivos regimes militares e as tentativas de interferência direta em processos eleitorais. Um histórico pouco louvável, diga-se, e que certamente precisa ser recordado e registrado para evitarmos coisas parecidas no futuro.

Nas duas semanas seguintes, muitos apontaram tratar-se de uma disputa puramente comercial, movida por interesses privados, e não pela determinação de informar à sociedade fatos relevantes.

Fomos lembrados, também corretamente, que a peleja é ilegal, porque ambas as emissoras utilizaram suas concessões (públicas) para defender interesses privados, e não para produzir um jornalismo movido pelo interesse público.

Nessa confusão toda, muita gente boa comemora o fato da Record estar incomodando a liderança absoluta da Globo, em termos de audiência e faturamento. Faz algum sentido, afinal, o monopólio do principal meio de comunicação do país (já que o acesso à Internet ainda engatinha no Brasil) é o que de pior pode acontecer numa nação que se pretende democrática, ou que pelo menos almeja desenvolver sua democracia.

Parece importante, contudo, olhar a ascensão da Record também sob uma outra perspectiva: na tentativa de ascender e incomodar a líder, faz-se tudo exatamente como ela. E pior.

As novelas da Record (também da Band e do SBT, claro) são cópias mal-feitas das novelas globais. O jornalismo é uma reprodução piorada. O Fantástico foi clonado. Os programas de auditório são imitações evidentes, assim como o principal programa de esporte do final de semana. Até o Gugu foi contratado para concorrer com o Faustão.

O maior símbolo da tentativa de reproduzir o que faz a Globo foi o tal A Fazenda, reprodução grosseira do já insuportável Big Brother.

Inclusive os nomes dos programas, em geral, remetem aos seus espelhos globais, de forma que o telespectador imediatamente entenda tratar-se de uma versão do que está na outra emissora: Domingo Espetacular, Esporte Fantástico, Tela Máxima, Louca Família…

Talvez a única diferença relevante da Record seja seu programa matinal, realmente sem espelho fiel na emissora do Jardim Botânico.

As outras emissoras reproduzem a mesma lógica. Se a programação da Record já é uma cópia piorada, o que dizer das outras?

A digressão evidentemente não pretende defender o monopólio da Globo. Longe de mim. Duas ou três emissoras fortes é obviamente melhor do que uma. Monopólio e liberdade de expressão não combinam. Nós brasileiros, infelizmente, sabemos bem disso.

Trata-se, acima de tudo, de chamar a atenção para o fato de que emissoras comerciais tendem a reproduzir os modelos consagrados, já que o seu objetivo é o mesmo da emissora líder: conseguir a maior audiência possível para maximizar o lucro. A família Marinho, João Carlos Saad, Silvio Santos, Edir Macedo e Amílcare Dallevo querem todos a mesma coisa.

Por isso, a ascensão de emissoras que operam na mesma lógica não necessariamente ajuda a democratizar as comunicações brasileiras. É sempre, ou quase sempre, mais do mesmo.

Vejamos o caso dos jornais impressos: a competição entre Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo é capaz de dar voz aos diferentes setores da sociedade? Os três jornais partilham de pontos de vista semelhantes, se alinham com os setores conservadores da sociedade e são contrários aos movimentos populares e sociais. Há aí diversidade e pluralidade?

O mesmo se aplica à televisão.

Para uma verdadeira democratização da televisão, o melhor caminho é cumprir a Constituição Federal, até hoje solenemente ignorada, e construir no Brasil um vigoroso Sistema Público de Comunicação, com emissoras independentes tanto das forças de mercado quanto dos governos de plantão.

Ainda engatinhamos nessa direção, mas alguns passos foram dados recentemente com a criação da TV Brasil.

A democracia brasileira agradecerá se a iniciativa se consolidar e passar realmente a ser uma alternativa às emissoras comerciais.

By Diogo Moyses, jornalista e radialista especializado em regulação e políticas de comunicação, pesquisador do Idec – Instituto Brasileira de Defesa do Consumidor e autor de “A convergência tecnológica das telecomunicações e o direito do consumidor”.

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