Arquivo para Fubá

Bom-bocado

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Bom-bocado

Como já comentamos anteriormente em algumas receitas, a utilização de ovos – principalmente muitas gemas – é uma característica dos doces portugueses, normalmente aqueles criados pelas freiras, em conventos. Para agradar os nobres que as visitavam, usavam uma grande quantidade de gemas que sobravam – as claras eram utilizadas para manter as roupas delas sempre bem “engomadas”.

E muitos desses doces chegaram até o Brasil e foram sendo adaptados aos novos ingredientes: coco, queijos, mandioca, frutas típicas, etc. Entre essa grande quantidade, o bom-bocado é um desses doces que foi sendo adaptado aos gostos, costumes e ingredientes locais, indo parar nas mesas de festas de aniversários, batizados e até festas juninas.

Originalmente, era preparado com uma grossa calda de açúcar, à qual misturavam muitas gemas, farinha, manteiga, amêndoas trituradas, levando-se para assar em forminhas, em banho-maria.

Da receita original, restaram apenas os ovos, o açúcar e o leite. A farinha deu lugar ao fubá e à mandioca. O queijo foi trocado pelo coco (e até mantendo uma boa convivência), e as amêndoas sumiram da receita, uma vez que era um produto importado, muito caro para os nossos padrões.

Como era um doce vendido nas ruas do Rio de Janeiro pelas escravas que as sinhás liberavam para fazer pequenos negócios, logo caiu no gosto popular e começou a rivalizar com o doce original, produzido nas cozinhas senhoriais.

Por curiosidade, Pedro I era amante de furrundum, doce de cidra ralada, gengibre macerado e rapadura; Pedro II, se amarrava no de figo feito em tacho; Rui Barbosa elegia entre os preferidos o de batata; Deodoro, bom nordestino, não resistia à compota de caju; Juscelino empregava uma doceira especializada em baba-de-moça; Tancredo Neves revelava predileção por queijadinhas e quindins.

Na literatura, Jorge Amado fez da cozinha de Gabriela e de Dona Flor a extensão de sua mesa, onde quer que estivesse morando: são muitos os doces citados por ele e atribuídos às qualidades culinárias de suas inesquecíveis personagens. Já o bom-bocado aparece nas páginas de Machado de Assis.

E a receita de hoje é justamente a citada nas obras de Machado de Assis, muito prática e fácil de preparar, e é um exemplo de como o doce adaptou-se bem aos costumes e ingredientes locais!

Bom-bocado

Ingredientes

3¼ xícaras (chá) de açúcar
1¼ xícara (chá) de água
2½ xícaras (chá) de coco fresco ralado
½ xícara (chá) de queijo parmesão ralado
5 colheres (sopa) rasadas de manteiga
½ xícara (chá) de farinha de trigo
6 ovos

Modo de preparo

Em uma panela, leve a água e o açúcar ao fogo, mexendo sempre até o açúcar dissolver bem. Cozinhe bem até a calda ficar em ponto de fio. Retire do fogo, acrescente o coco, o queijo, os ovos batidos, a manteiga e vá adicionando a farinha, mexendo com cuidado para não empelotar.

Mexa sempre até que fique uma mistura bem homogênea. Deixe esfriar um pouco.

Depois, distribua em forminhas de empada untadas e asse no forno pré-aquecido até dourar.

Retire do forno, deixe amornar para que solte das forminhas (se for preciso, utilize a ponta de uma faca, com cuidado) e sirva em temperatura ambiente.

By Joemir Rosa.

Gaiolas e asas

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Gaiolas e asas

Os pensamentos me chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos. Fico feliz porque sei que Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram também atacados por eles. Digo “atacados“ porque eles surgem repentinamente, sem preparo, com a força de um raio. Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar.

Pois ontem, de repente, esse aforismo me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas“…

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

Esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças … E elas, timidamente, pedindo silêncio, tentando fazer as coisas que a burocracia determina que sejam feitas, dar o programa, fazer avaliações …

Ouvindo os seus relatos vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra – e as domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a força dos tigres… Sentir alegria ao sair de casa para ir para a escola? Ter prazer em ensinar? Amar os alunos? O seu sonho é livrar-se de tudo aquilo. Mas não podem. A porta de ferro que fecha os tigres é a mesma porta que as fecha junto com os tigres.

Nos tempos da minha infância eu tinha um prazer cruel: pegar passarinhos. Fazia minhas próprias arapucas, punha fubá dentro e ficava escondido, esperando… O pobre passarinho vinha, atraído pelo fubá. Ia comendo, entrava na arapuca, pisava no poleiro – e era uma vez um passarinho voante. Cuidadosamente, eu enfiava a mão na arapuca, pegava o passarinho e o colocava dentro de uma gaiola. O pássaro se lançava furiosamente contra os arames, batia as asas, crispava as garras, enfiava o bico entre nos vãos, na inútil tentativa de ganhar de novo o espaço, ficava ensanguentado… sempre me lembro com tristeza da minha crueldade infantil.

Violento, o pássaro que luta contra os arames da gaiola? Ou violenta será a imóvel gaiola que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas?

Me falaram sobre a necessidade das escolas dizendo que os adolescentes de periferia precisam ser educados para melhorarem de vida. De acordo. É preciso que os adolescentes tenham uma boa educação. Uma boa educação abre os caminhos de uma vida melhor. Mas, eu pergunto: nossas escolas estão dando uma boa educação? E o que é uma boa educação?

O que os burocratas pressupõe sem pensar é que os alunos ganham uma boa educação se aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E para se testar a qualidade da educação eles criam mecanismos, provas, avaliações, acrescidos dos novos exames elaborados pelo Ministério da Educação.

Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais se identifica com o ideal de uma boa educação? Você sabe o que é “dígrafo“? E os usos da partícula “se“? E o nome das enzimas que entram na digestão? E o sujeito da frase “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante“? Qual a utilidade da palavra “mesóclise“?

Pobres professoras, também engaioladas… São obrigadas a ensinar o que os programas mandam, sabendo que é inútil. Isso é hábito velho das escolas. Bruno Bettelheim relata sua experiência com as escolas:

“Fui forçado (!) a estudar o que os professores haviam decidido que eu deveria aprender – e aprender à sua maneira…“

O sujeito da educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas“, aprender “brinquedos“.

“Ferramentas“ são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“ são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo este texto estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade.

Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.

Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescerem…

Assim todo professor, ao ensinar, teria que perguntar:

“Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo? Se não for é melhor deixar de lado”.

As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o voo dos seus alunos. Há esperança…

By Rubem Alves.

Somos todos responsáveis

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Somos todos responsáveis

Passava do meio-dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua, um sol escaldante convidava a todos para um refresco.

Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou:

– “Pai, to com fome!”

O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco de paciência…

– “Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu to com muita fome, pai!”

Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na padaria à sua frente. Ao entrar, dirige-se a um homem no balcão:

– “Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome. Não tenho nenhum tostão, pois saí cedo para buscar um emprego e nada encontrei. Eu lhe peço que, em nome de Jesus, me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino… em troca, posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o senhor precisar”.

Amaro, o dono da padaria, estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho. Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro que, imediatamente, pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso PF – prato feito – com arroz, feijão, bife e ovo. Para Ricardinho era um sonho comer após tantas horas na rua. Para Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá.

Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada. A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse um manjar dos deuses, e a lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de dois anos de desemprego, humilhações e necessidades.

Amaro se aproxima de Agenor e, percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:

– “O, Maria! Sua comida deve estar muito ruim! Olha o meu amigo aqui… está até chorando de tristeza desse bife… será que é sola de sapato?”

Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer.

Amaro pede, então, que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho. Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas costas…

Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório. Agenor conta, então, que há mais de dois anos havia perdido o emprego e, desde então, sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos “bicos aqui e acolá”, mas que há dois meses não recebia nada.

Amaro resolve, então, contratar Agenor para serviços gerais na padaria e, penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos uns quinze dias. Agenor, com lágrimas nos olhos, agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho.

Ao chegar em casa com toda aquela “fartura”, Agenor é um novo homem – sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso. Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta… era toda uma esperança de dias melhores!

No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da padaria, ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia por que estava ajudando. Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes; mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquele homem.

E ele não se enganou – durante um ano, Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres.

Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para alfabetização de adultos um quarteirão acima da padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar.

Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta…

Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula.

Vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro. Ao meio dia, ele desce para um café na padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o “antigo funcionário” tão elegante em seu primeiro terno.

Mais dez anos se passam e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida na hora do almoço. Mais de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora nutricionista Ricardo Baptista.

Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um. Contam que, aos 82 anos, os dois faleceram no mesmo dia, quase que na mesma hora, morrendo placidamente, com um sorriso de dever cumprido.

Ricardinho, o filho, mandou gravar na frente da “Casa do Caminho”, que seu pai fundou com tanto carinho, uma placa que dizia:

– “Um dia, eu tive fome e você me alimentou. Um dia, eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia, acordei sozinho e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma! E que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar”.

Não se esqueçam: somos todos responsáveis por um mundo melhor! Todos nós podemos fazer uma parte que irá ajudar o todo!

E você, quando você começa?

Desconheço a autoria.

Bolinhos de carne

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Bolinhos de carne 1

Tem pratos cuja lembrança nos remetem à infância ou, para os mais velhos, às visitas à casa da vovó, onde os almoços eram caprichados, fartos e com aqueles aromas que nos faziam querer comer tudo!

E um desses pratos – entre vários outros – eram os famosos bolinhos de carne, fritos na hora e que não duravam nada nos pratos! Era fritar e logo desapareciam!

Como sempre destaco aqui, variações no preparo dos pratos existem aos montes. E com os bolinhos de carne não é diferente. Algumas pessoas refogam a carne antes do preparo final dos bolinhos, outras variam no tempero, acrescentando este ou aquele ingrediente; algumas moldam os bolinhos de outra forma, mais achatados, para uma fritura mais uniforme; e outras, ainda, servem os bolinhos em molho de tomates, como se fossem almôndegas.

Outra variação está na hora de fritar: a receita de hoje usa o fubá na hora de fritar; em outra, passa-se o bolinho em ovo batido e farinha de rosca. Enfim, cada pessoa tem a sua receita, a sua própria alquimia. O importante é que, seja qual for a sua receita, tenho certeza que o resultado final é delicioso!

A receita de hoje é bem simples, fácil e rapidíssima de preparar.

Bolinho de carne

Ingredientes

1/2 quilo de carne moída (patinho ou acém)
4 colheres de farinha de rosca de padaria
1 cebola pequena picada
2 dentes de alho amassados
sal, pimenta e cheiro verde picadinho a gosto

Para empanar e fritar

1 xícara de fubá
óleo de soja

Modo de preparo

Misture bem todos os ingredientes, amassando para que fique uma massa bem homogênea. Em seguida, faça bolinhas do tamanho de uma bola de ping-pong, passe no fubá e frite em óleo bem quente.

Com o auxílio de uma colher, retire da panela e coloque em um prato forrado com papel-toalha. Os bolinhos não ficam encharcados.

Sirva quente como aperitivo ou como acompanhamento.

By Joemir Rosa.

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