Que a felicidade não dependa do tempo, nem da paisagem, nem da sorte, nem do dinheiro.
Que ela possa vir com toda a simplicidade, de dentro para fora, de cada um para todos!
By Carlos Drummond de Andrade.
Que a felicidade não dependa do tempo, nem da paisagem, nem da sorte, nem do dinheiro.
Que ela possa vir com toda a simplicidade, de dentro para fora, de cada um para todos!
By Carlos Drummond de Andrade.
Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia…
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, o ar, e esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A comer sanduíche porque não dá tempo para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite. A deitar cedo e dormir sem ter vivido a vida.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre as guerras. E aceitando as guerras, aceita os mortos e que haja número para os mortos. E, aceitando os números, não acredita nas negociações de paz.
E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ter, todo dia, o dia-a-dia da guerra, dos números de longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir!”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto…
A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e que se necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição. À sala fechada de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios…
A gente se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo na madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor daqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo, conformado. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no final de semana. E, se no fim da semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e fica satisfeito, porque, afinal, está sempre com o sono atrasado.
A gente se acostuma a não ter que se ralar na aspereza, para preservar a pele. A gente se acostuma a evitar feridas, sangramentos, para se esquivar da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, se perde em si mesma!!
Não acha que está na hora de reagir?
Marina Colassanti.
Um dia um homem já de certa idade foi pegar um ônibus. Enquanto subia, um de seus sapatos escorregou do seu pé e caiu para o lado de fora. A porta se fechou e o ônibus partiu.
Ao ver que seria impossível recuperar o pé de sapato perdido, o homem tranquilamente retirou o seu outro sapato e jogou-o pela janela.
Um rapaz que estava no ônibus, vendo o que aconteceu, perguntou:
– “Notei que o senhor fez. Porque jogou fora o seu outro sapato?”
O homem prontamente respondeu:
– “Para que quem encontrá-los seja capaz de usá-los. Provavelmente apenas alguém necessitado dará importância a um par de sapatos usados encontrados na rua. E de nada adiantará apenas um pé de sapato.”
O homem mostrou ao jovem que não vale a pena agarrar-se a algo, simplesmente por possuí-lo e nem porque você não deseja que outro o tenha.
Como o homem da história, nós temos que aprender a desprender. Alguma força decidiu que era hora daquele homem perder seu sapato. Perdemos coisas o tempo todo, inicialmente pode parecer injusto, mas essa perda acontece de modo que mudanças possam acontecer em nossas vidas, na maioria das vezes positivas.
Acumular posses não nos faz melhor e nem faz o mundo melhor. Todos têm que decidir constantemente se algumas coisas devem manter seu curso em nossa vida ou se estariam melhor com outros.
Desconheço a autoria.