Às vezes, a gente precisa se livrar um pouco da gente; isso, sim, é liberdade fina, das boas.
Pode ser mesmo bem libertador, de vez em quando, embora não seja lá um exercício fácil. Costumamos viver muito apegados à auto-imagem, a tal Síndrome de Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim”.
Sofremos, repetimos equívocos, ficamos apertados nos conhecidíssimos cômodos sem ventilação, mas o padrão antigo continua lá, firme e forte, permeando nossas ações, projetando o mesmo filme entediante, dizendo quem manda no pedaço.
Até com orgulho, que geralmente é puro medo, não ousamos um passo fora desse lugar, enquanto a vida aguarda a chance de nos mostrar o quanto pode ser vasta e rica de possibilidades além dele.
Ela é simples no dia a dia, mas, ao mesmo tempo, é sofisticada com a máxima suavidade. Afinal, ela tem o DNA de diva e, porque não assumir, ela é uma delas. Também pudera: filha de Marina Monarcha, uma lenda viva do canto lírico brasileiro e uma das vozes mais respeitadas de sua época. Carmen Monarcha não poderia ser diferente e – obrigado Deus! – ela resolveu ser cantora.
Se você não a conhece pessoalmente, saiba que é ela doce como açúcar, firme como uma rocha e determinada como uma heroína de Puccini. Paraense, cresceu acompanhando a mãe nos teatros mais importantes do Brasil, até se dar conta que era apaixonada por tudo aquilo. Ainda criança quis entender a ciência dos instrumentos e estudou violino, piano, cello e até flertou com o ballet clássico. Mas foi nas aulas de canto com Marina Monarcha que enxergou o motivo pelo qual está nesse mundo e entendeu, com todas as linhas melódicas, o que realmente queria fazer.
Cresceu, teve uma passagem meteórica por São Paulo ao cursar canto na Faculdade de Artes Alcântara Machado, mas logo foi descoberta pela Profa. Mya Besselink e alçou voo para a Holanda, onde está radicada há doze anos. Em terra estrangeira, formou-se em 2002 em “Solo Singing Performance”, no Conservatorium van Hogeschool Maastricht, por meio de bolsa concedida pela Fundação Vitae. Aperfeiçoou sua voz de puro lírico soprano e tem uma carreira consolidada internacionalmente (e você vai saber por quê ao ouví-la), além de ganhar cada vez mais espaço no cenário nacional. Como já estava naquele “miolo cultural europeu”, fez master-classes com Barbara Schlik, Elly Emmeling e com o maestro Ludo Clasen, com quem se apresentou em concerto transmitido pela Radio Nederland.
Na Alemanha, estudou com a Profa. Monika Hausvater. Ganhou prêmios importantes como o “Concurso Nacional de Canto Irmãos Nobre” (1999), “Concurso Jovens Solistas da Orquestra da Petrobras” (2000) e “Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão” (2001). Em 1999, ganhou o papel de “Contessa di Boissy”, na produção da ópera “Lo Schiavo”, de Carlos Gomes. A partir daí, virou habituée das temporadas líricas e dos festivais de ópera brasileiros. Teatro Municipal de São Paulo; Theatro da Paz (Belém do Pará); Belas Artes (Belo Horizonte), Amazonas (Manaus) e Sala São Paulo foram alguns dos palcos nos quais interpretou personagens marcantes.
Para ficar nas mais famosas, fez “Nanetta”, em Falstaff, de Verdi, sob direção de José Possi Neto; “Melisande”, em Pelleas et Melisande de Debussy; “Juliette”, em Romeo et Juliette de Gounod, no Teatro Bellas Artes de Bogotá/Colômbia e no Festival Amazonas de Ópera em Manaus, assim como “L’iberdade”, em Ça Ira, de Roger Waters e “Rosalinde”, em O Morcego, de Johann Strauss.
Há 10 anos, paralelamente à carreira de concertista, é solista convidada de “André Rieu & Johann Strauss Orchestra”, fazendo turnês por toda a Europa, América do Norte e América Latina, México, Japão, Coréia, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Em 2013 foi “Adina”, em O Elixir do Amor de Donizetti, no Festival de Ópera do Theatro da Paz e fez parte das homenagens ao centenário de Vinicius de Moraes, apresentando-se na Sala São Paulo, em um concerto com cinco canções inéditas com textos do poeta, compostas especialmente para sua interpretação, pelo renomado compositor João Guilherme Ripper.
Acha que acaba por aí? Atualmente, está à frente de sua empresa, a Monarcha Produções, produzindo o show Essas Mulheres, com direção musical de Miguel Briamonte. No repertório, torna mais acessível ao público seu repertório lírico, assim como visita e homenageia grandes clássicos da cultura nacional e internacional exaltando referências como Judy Garland, Chaplin, Barbra Streisand, Elis Regina, Elizete Cardoso, Villa-Lobos, Puccini e Gershwin. Seguindo os passos de sua mãe, começa a viajar o Brasil com Workshops, onde pode dividir com outros cantores a experiência adquirida em anos de palco.
Assista aos videos abaixo e veja tudo isso traduzido numa das mais lindas vozes deste planeta!
A folha se descobriu a perder a cor, a ficar cada vez mais frágil. Havia sempre frio e a neve pesava sobre ela.
E quando amanheceu veio o vento que arrancou a folha de seu galho. Não doeu. Ela sentiu que flutuava no ar, muito serena.
E, enquanto caía, ela viu a árvore inteira pela primeira vez!
Como era forte e firme! Teve certeza de que a árvore viveria por muito tempo, compreendeu que fora parte de sua vida. E isso deixou-a orgulhosa.
A folha pousou num monte de neve. Estava macio, até mesmo aconchegante. Naquela nova posição, a folha estava mais confortável do que jamais se sentira. Ela fechou os olhos e adormeceu. Não sabia que a folha que fora, seca e aparentemente inútil, se ajuntaria com água e serviria para tornar a árvore mais forte. E, principalmente, não sabia que ali, na árvore e no solo, já havia planos para novas folhas na primavera.