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Liberdade e libertinagem

Posted in Comportamento with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 28/08/2014 by Joe

Liberdade e libertinagem

Liberdade e libertinagem são dois conceitos relacionados e que muitas pessoas confundem. Os dois são muito importantes no processo de tomada de decisão do ser humano e revelam atitudes diferentes dos indivíduos.

A liberdade consiste no direito de se movimentar livremente, de se comportar segundo a sua própria vontade, partindo do princípio que esse comportamento não influencia negativamente outras pessoas. De acordo com a filosofia, a liberdade é a independência, autonomia e espontaneidade do ser humano.

Por outro lado, a libertinagem é fruto de um uso errado da liberdade, porque demonstra irresponsabilidade, que pode prejudicar não só a própria pessoa, mas outras pessoas também. Quem age com libertinagem, revela não se importar com as consequências que o seu comportamento pode ter.

Em muitos casos, a libertinagem é traduzida por uma ausência de regras. Desta forma, alguém que bebe e depois dirige, é um exemplo de alguém cuja atitude evidencia libertinagem, pois está colocando em risco a sua vida e a vida de outras pessoas.

A famosa frase “A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”, atribuída por muitas pessoas ao filósofo inglês Herbert Spencer, indica que a verdadeira liberdade respeita o próximo, e o seus direitos.

Na própria Bíblia, o apóstolo Paulo afirma:

– “A mim tudo é lícito, mas nem tudo me convém”.

Ou seja, tudo nos é permitido, mas não podemos nos deixar dominar por coisa alguma. Essa passagem revela que nós temos a capacidade de fazer muitas coisas, mas que nem tudo o que podemos fazer é bom, porque as nossas ações têm consequências.

Já a libertinagem assume uma mentalidade oposta:

– “Eu posso fazer tudo o que eu quiser, ninguém tem nada a ver com isso e ninguém pode me impedir.”

Um libertino é alguém rebelde, egocêntrico, embrutecido, escravo de todos os desejos que surgem na sua mente e, por esse motivo, a libertinagem é a principal causa de muitas barbaridades.

A libertinagem escraviza e mutila o ser humano, enquanto a liberdade o capacita a ter uma convivência saudável com o seu próximo.

Desconheço a autoria.

Passeio socrático

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Imbecilização

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Um dia destes, eu observava o movimento no aeroporto: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:

– “Qual dos dois modelos produz felicidade?”

Num outro dia, encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

– “Não foi à aula?”

E ela respondeu:

– “Não… só tenho aulas à tarde”.

Comemorei:

– “Que bom! Então, de manhã você pode brincar ou dormir até mais tarde!”

– “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã…”

– “Que tanta coisa?”, perguntei.

– “Aulas de inglês, de balé, de pintura, natação…”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando:

– “Que pena… a Daniela não disse ‘tenho aula de meditação’!”

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos:

– “Como estava o defunto?”.

– “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!”

Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega AIDS , não há envolvimento emocional, controla-se no mouse.

Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais.

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil – com raras e honrosas exceções – é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.

A palavra hoje é ‘entretenimento’! Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres:

– “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!”

O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque para fora ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima e ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade – a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center.

É curioso: a maioria dos shopping centers têm linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas…

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas, se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno!

Felizmente terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:

– “Estou apenas fazendo um passeio socrático.”

Diante de seus olhares espantados, explico:

– “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:

– “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

By Frei Betto.

George Carlin

Posted in Arte with tags , , , , , , , , , , on 29/01/2012 by Joe

George Denis Patrick Carlin, nascido em Nova Iorque, em 12 de maio de 1937, foi um comediante, ator e autor norte-americano, pioneiro, no humor de crítica social.

A sua mais polêmica apresentação chamava-se “Sete Palavras que não se pode dizer em televisão”, o que lhe causou, durante os anos setenta, vários dissabores, acabando preso em inúmeras vezes que levou o texto ao palco.

Até meados da década de 1960, Carlin manteve uma imagem tradicional. Depois, decidiu deixar crescer o cabelo e a barba e tornou-se um ícone da contracultura. Crítico contumaz das religiões e ateu convicto, principalmente do sentido da culpa e do controle social, defendia valores seculares.

Aplaudido por milhões de telespectadores, George Carlin participou de vários filmes e séries de TV. Dublou ainda filmes de animação, como “Carros” e outros.

Um dos precursores do stand-up comedy, Carlin nos presenteia com seu humor sarcástico, cáustico e verdadeiro.

Morreu em 22 de junho de 2008 em um hospital de Los Angeles de parada cardíaca, depois de, nos últimos 20 anos, ter passado por um enfarte e duas cirurgias no coração.

Vejam, abaixo, um de seus melhores momentos, em um video engraçado e sério ao mesmo tempo.

Deixo uma interrogação para cada um de nós: humorista ou filósofo?

By Joemir Rosa.

Controle suas expectativas

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 18/10/2010 by Joe

A raiva, a frustração e o ódio têm origem em expectativas não cumpridas. Ou você aprende a se controlar, ou…

Você já pensou em todas as vezes que ficou com raiva ou ódio? Existe um provérbio popular que diz: “sentir raiva ou ódio é como tomar veneno esperando que o outro morra”.

Parece simples, mas não é. Tem tantas coisas que saem do nosso controle, como perder o horário porque um carro quebra e provoca um congestionamento. Ou, ainda, perder relações por causa da vida estressante que nos impulsiona a viver cada vez mais rápido. Ou, ainda, sonhos esmagados por decisões da diretoria da empresa. Quando isso ocorre, temos a tendência a nos frustrar e sentir raiva, ou sentir raiva e nos frustrarmos. Independente da ordem, um sentimento acompanha o outro. Sempre. Nem que seja por um breve instante, você já percebeu isso?

Sêneca, o Jovem, percebeu. Este filósofo romano, que foi contemporâneo de Cristo, entendeu que a origem da raiva era a frustração. Só que ele foi mais fundo e afirmou que a origem da frustração é a expectativa. Ou seja, a raiva, que nos faz tão mal, tem origem em expectativas não cumpridas.

Mas como não sentir raiva quando aquele sacana que puxa o tapete dos outros consegue a promoção que tanto desejamos? Sêneca fala que, se pensarmos em tudo que pode dar errado, estaremos mais bem preparados para a eventualidade do errado acontecer. Ooops … isso parece a Lei de Murphy: “Se alguma coisa pode dar errado, certamente dará.” Ou sua variante: “a probabilidade de um pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é diretamente proporcional ao valor do tapete”.

A diferença é que a Lei de Murphy é de um pessimismo conformista que nos paralisa. Nos deixa impotente diante dos acontecimentos. No lado oposto, existem também os pseudofilósofos que falam: “deseje de todo o coração que o universo conspira por você”. Também não é o que Sêneca nos fala. Na realidade, Sêneca sugere buscarmos de coração pelo nosso sonho, mas nos prepararmos para o caso dele não acontecer. Tenha fé, mas saiba que você não controla todas as variáveis. Com isso você evita a frustração e o estresse, mas não perde a paixão.

Sêneca é complexo, mas não é à toa que suas idéias foram largamente utilizadas no humanismo. Não gosta do pensamento positivo, nem do negativo, pois acredita que eles impedem o ser humano de progredir. Ele quer que tenhamos a capacidade de desejar, sem perder a capacidade de decidir. Ter fé, mas que ela não seja cega.

Para simplificar Sêneca, imagine-se num barco à vela, numa época em que não existia aparelhos de GPS, bússola, ou sextante. Você se guia pelas estrelas, seus sonhos, mas tem de ir atrás do vento, em zigue-zague, para continuar se movendo. Tem que desviar das ondas perigosas e dos obstáculos que aparecem à sua frente, mas sem perder sua estrela de vista.

Que tal terminar esse artigo com a frase que o consagrou?

– “Para aqueles que não sabem para que porto vão, nenhum vento é bom” – Sêneca, O Jovem, 4 a.C a 65 d.C..

By Marcelo Aguilar publicado na Revista Você SA.

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