A solidão pode te encontrar num dia chuvoso e frio num canto da sua casa ou num quarto luxuoso de Paris com um príncipe encantado ao seu lado.
Há quem diga que ser ou estar solteiro(a) é sinônimo de solidão. E solidão é uma palavra engraçada… Até em sua classificação, ela é ímpar, é singular. É estranho fazer o seu plural. No dicionário, ela é descrita como a “condição ou estado de quem está desacompanhado ou só”. Já os existencialistas acreditam que ela é inerente ao ser humano: nós nascemos sós, atravessamos nossa vida como um ser destacado e morremos sós.
Independente do significado que se dê ou queira dar à solidão, a maior parte das pessoas a associa imediatamente a algo negativo, repulsivo até.
A verdade é que, desde pequenos, nós fomos criados acreditando que para sermos felizes nós necessariamente precisaríamos ter alguém ao nosso lado. Lembra de todos aqueles natais com aquelas tias (chatinhas pra cacete, diga-se de passagem) te enchendo o saco para saber como ia o(a) “namoradinho(a)”? Ou todas as vezes que a sua mãe te perguntou se você tinha uma paquera? Ou os seus amigos cobrando uma atitude sua, do tipo: “Para de enrolar a(o) garota(o)! Quando vocês vão casar?”
Fora essas pressões, você sempre precisou tirar boas notas, ganhar dinheiro, ser um(a) bom(a) filho(a), ser feliz, fazer os outros felizes, entregar aqueles relatórios super chatos no prazo, arrumar um tempo para visitar aquele(a) amigo(a) que você não via há séculos, aturar chefe babaca, colega de trabalho babaca, ficar gostoso(a) na academia, gerenciar a sua TPM, ou mesmo garantir a sobrevivência da espécie. As pressões e cobranças vêm de todos os lados: do nosso ambiente de trabalho, da nossa família, de nossos relacionamentos e de nós mesmos, para sermos e termos uma multiplicidade de coisas. Muitas pessoas cedem à pressão e se casam ou se juntam muito cedo. Ainda assim, uma boa parte dessas pessoas, com o passar dos anos, se vêem solitárias, dentro do próprio relacionamento.
Também há quem goste de ser, estar ou se assumir solteiro(a) e inclusive sinta até um certo orgulho nisso. Sabe aquele “melhor só do que mal acompanhado(a)”? E aquela sensação de liberdade, de não ter que dar satisfações a uma outra pessoa, de ser você mesmo sem travas, não ter que dividir o espelho do banheiro, seu controle remoto ou o seu armário com outra pessoa? E ter que aturar as manias do(a) outro(a), então? Difícil né?
Pois é, a vida a dois parece ser mesmo um desafio com todas as facilidades que a vida moderna te proporciona. As pessoas que vivem bem consigo mesmas, sozinhas, têm dificuldade de fazer grandes concessões para viver com outra pessoa. Quem nunca chegou do trabalho desejando apenas um momento de silêncio, uma bebida qualquer e uma boa brisa no rosto? Um momento saudável, único, uma bênção! Praticamente um monólogo, onde só você atua, só você fala e só você interage consigo mesmo. Solitário também, não é mesmo?
O bom mesmo é quando você encontra alguém que não te deixa se sentir só. Que não concorde com você, mas te respeite, que não te sufoque, que divida as tarefas, as confissões e a conta do restaurante, que te apoie em momentos difíceis, que te conheça tão bem a ponto de adivinhar que, às vezes, você precisa de um tempo só para você, que antes de ser um companheiro(a) é um(a) amigo(a), que te incentive a ter um relacionamento saudável com seus amigos, que confie em você.
E o mais importante: que te dê espaço para ser o que você realmente é, porque acredita em ti. E isso é algo difícil de achar quando se vive em um grande supermercado repleto de distrações, que é o nosso mundo. Muitas vezes você o encontra com o tempo, sem preocupações ou pressões. E, quando isso acontece, não é preciso “papel passado”, a bênção de um(a) religioso(a) ou mesmo um ritual porque você vai achar a coisa mais natural do mundo.
By Rafael Pinheiro.