As crianças hoje em dia são muito hiperativas. Na minha infância, as crianças eram mais calmas. Sabe porque? Porque o Merthiolate ardia muito!
As crianças, de vez em quando, deixavam de fazer merda pensando no Merthiolate. O Merthiolate tinha uma função pedagógica.
O Merthiolate também tinha uma função psicológica. Porque aquele ardor dava a impressão de que os micróbios estavam sendo mortos. Você acreditava que, de fato, estava curando.
Mércurio Cromo não ardia, então dava a sensação que curava menos. Quando o Merthiolate encostava na ferida, você sentia que ali tinha virado um grande campo de batalha. Você sentia o ardor da guerra. E quando o ardor passava é porque a gente tinha conseguido vencer o mal.
Além do fator pedagógico e psicológico, o Merthiolate também tinha um apelo maternal. Porque a única coisa capaz de amenizar o sofrimento do Merthiolate eram as micropartículas de saliva materna. Quando a mãe soprava na ferida, o sofrimento magicamente reduzia.
Além do fator pedagógico, psicológico e maternal, o Merthiolate também tinha uma função de geolocalização. Porque o ardor servia como sinalização se o Merhtiolate tinha sido de fato colocado no local correto. Se não ardesse, é porque não colocou direito. O Merthiolate era o GPS da ferida!
Além do fator pedagógico, psicológico, maternal e de geolocalização, o Merthiolate também tinha um impacto na personalidade das pessoas. O ardor incrível do Merthiolate moldou a personalidade da geração de crianças dos anos 80. As crianças desde cedo se acostumaram a ser homens, engolir choro, aguentar dor…
Hoje em dia… o Merthiolate não arde mais! Por isso essa geração emo, tudo cheio de frescura, chora por qualquer coisa…
By Murilo Gun, stand-up comedy.