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Um único momento

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 13/03/2015 by Joe

Um único momento

Um por-do-sol, uma carta que se recebe de um amigo, um único olhar de uma pessoa amada, o abraço de um filho. Houve muitos momentos em minha vida, de tanta beleza, que eu disse para mim mesmo:

– “Valeu a pena eu ter vivido toda a minha vida para viver esse único momento!”

Há momentos efêmeros que justificam toda uma vida. Compreendi, de repente, que a dor da sonata interrompida se deve ao fato de que vivemos sob o feitiço do tempo. Achamos que a vida é uma sonata que começa com o nascimento e deve terminar com a velhice. Mas isso está errado. Vivemos no tempo, é bem verdade. Mas é a eternidade que dá sentido à vida.

Eternidade não é o tempo sem fim. Tempo sem fim é insuportável. Já imaginaram uma música sem fim, um beijo sem fim, um livro sem fim? Tudo que é belo tem de terminar. Tudo o que é belo tem de morrer. Beleza e morte andam sempre de mãos dadas.

Eternidade é o tempo completo, esse tempo do qual a gente diz: “Valeu a pena!” Não é preciso evolução, não é preciso transformação: o tempo é completo e a felicidade é total. É claro que isso, como diz Guimarães Rosa, só acontece em raros momentos de distração.

Não importa. Se aconteceu, fica eterno. Por oposição ao “nunca mais” do tempo cronológico, esse momento está destinado ao “para todo o sempre”.

Compreendi, então, que a vida é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade.

Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.

By Rubem Alves.

O Lago dos Cisnes

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Lago dos Cisnes, Ballet Kirov

O Lago dos Cisnes é um balé dramático em quatro atos do compositor russo Tchaikovsky cuja estreia ocorreu no Teatro Bolshoi em Moscou, no dia 20 de fevereiro de 1877.

Essa primeira apresentação acabou sendo um tremendo fracasso, não por causa da música, mas sim pela má interpretação da orquestra e dos bailarinos, assim como a coreografia e a cenografia.

A peça é composta de quatro atos, como segue:

Ato I

No castelo o aniversário do príncipe Siegfried é comemorado com toda a pompa A rainha oferece ao filho como presente uma balestra e pede-lhe que, no dia seguinte, escolha uma esposa entre as convidadas da festa. Quando os convidados saem do castelo, um grupo de cisnes brancos passa perto do local. Enfeitiçado pela beleza das aves, o príncipe decide caçá-las.

Ato II

O lago do bosque e as suas margens pertencem ao reino do mago Rothbart, que domina a princesa Odette e todo o seu séquito sob a forma de uma ave de rapina. Rothbart transformou Odette e as suas donzelas em cisnes, e só à noite lhes permite recuperarem a aparência humana. A princesa só poderá ser libertada por um homem que ame apenas a ela. Siegfried, louco de paixão pela princesa das cisnes, jura que será ele a quebrar o feitiço do mago.

Ato III

Na corte da Rainha aparece um nobre cavalheiro e sua filha. O príncipe julga reconhecer que a filha do nobre cavalheiro é a sua amada Odette, mas na realidade, por baixo das figuras do nobre cavalheiro e a sua filha escondem-se o mago Rothbart e a feiticeira Odile. A dança com o cisne negro decide a sorte do príncipe e da sua amada Odette: enfeitiçado por Odile, Siegfried proclama que escolheu Odile como sua bela futura esposa, quebrando assim o juramento feito a Odette.

Ato IV

Os cisnes brancos tentam em vão consolar a sua princesa. Mas Odette, destroçada pela decisão do príncipe, aceita a sua má sorte. Nesse momento, surge o príncipe Siegfried que explica à donzela como o mago Rothbart e a feiticeira Odile o enganaram. Odette perdoa o príncipe e os dois renovam os votos de amor um pelo outro. O mago Rothbart, impotente contra esse amor, decide se vingar dos dois e então inunda as margens do lago. Odette e as suas donzelas logo se transformam em cisnes novamente e o príncipe Siegfried, tomado pelo desespero, se afoga nas profundas e turbulentas águas do lago dos cisnes. O príncipe não sobrevive, e Odette com a dor que sente em perder o amado, morre. Uma trágica morte de amor.

Com o Lago dos Cisnes, Tchaikovsky, através de Odette e Siegfried, nos induz a repensar:

Como é o momento em que vivemos?

Quais as nossas prisões?

A solidão de Odette pode representar a solidão da alma humana?

Quais são as Odettes nos dias de hoje? E quais são os Siegfrieds?

Em “O Lago dos Cisnes” temos dois seres “aprisionados” – Siegfried e Odette. Um, pela mesmice da realeza aristocrática que forjou um príncipe de personalidade fraca e insegura. O outro, a total submissão muito bem camuflada na “capa” de um cisne, escondendo a real capacidade de um ser pensante, com as ideias próprias e os sentimentos nobres de um ser humano. No mundo atual, a identificação maior é com Odette ou com Siegfried?

A que se está aprisionado? Aos contra-valores? Aos direitos da pessoa humana?

Tchaikovsky em “O Lago dos Cisnes” como grande romântico, cria uma expressão musical que introduz o espectador na temática principal deste drama, na imagem do cisne. A dualidade de Odette – Odille (aprisionada submissa – humana sedutora), contrapondo-se à irreverência maligna de Rothbart. Um duelo entre o bem e o mal.

E vem-nos a sensação de tédio como Siegfried e de solidão como Odette. Sem esquecer a figura do feiticeiro Rothbart, o todo poderoso manipulador que deseja “deter” o destino de ambos.

Posteriormente, amor e sedução se completam na contribuição dada pela orquestra em que a essência de Odette, representada pelo solo do violino caracteriza a imagem do cisne, e a essência do príncipe Siegfried, representado pelo solo do cello, incorporam a tristeza de Odette, envolvendo a fragilidade humana de Siegfried.

O universo metafórico, proposto por Tchaikovsky, pode ser um grande auxílio para refletirmos na capacidade individual de transformar “aprisionamento” em sentido de vida.

Não será verdade que voamos como pássaros, mas não decolamos das insatisfações pessoais?

Mergulhar no Lago de Tchaikovsky é mergulhar no nosso lago pessoal.

O video a seguir é de uma produção realizada pelo Ballet Kirov, do Lago dos Cisnes, onde a dançarina Yulia Makhalina nos traz as belíssimas e desafiadoras performances de Odette/Odile, enquanto o papel do Príncipe Siegfried fica a cargo de Igor Zelensky.

Esta produção do Ballet Kirov inclui o final feliz familiar no ato final onde Siegfried luta e vence o mago do mal Von Rothbart e, ao amanhecer, está junto de Odette.

Referências na Internet e by Wellen de Barros.

By Joemir Rosa

Voem juntos

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 24/06/2011 by Joe

Conta uma velha lenda dos índios Sioux que, uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros e Nuvem Azul, a filha do cacique e uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas na tenda do velho feiticeiro da tribo e disseram:

– “Nós nos amamos e vamos nos casar. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã. Alguma coisa que garanta que possamos ficar sempre juntos. Que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até a morte”.

O velho sábio, ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

– “Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte desta aldeia e, apenas com uma rede e tuas mãos, caçar o falcão mais vigoroso do monte e traze-lo com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia”.

– “E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono, onde encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la, trazendo-a viva”.

Os jovens abraçaram-se com ternura e logo partiram para cumprir a missão recomendada.

No dia estabelecido, na frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.

O velho pediu que, com cuidado, as retirassem. Observou então que se tratava de belos exemplares.

– “E agora, o que faremos?” – perguntou o jovem. “Nós as matamos e depois bebemos à honra de seu sangue?”

– “Ou as cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne?” – propôs a jovem.

– “Não!” – disse o feiticeiro. “Apanhem as aves e as amarrem entre si pelas patas, com essas tiras de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres!”

O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros.

A águia e o falcão tentaram alçar vôo, mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade de voar, as aves jogavam-se uma contra a outra, bicando-se até se machucarem.

Aí, o velho disse:

– “Jamais esqueçam o que estão vendo. Este é o meu conselho: vocês são como a águia e o falcão; se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, viverão arrastando-se e, cedo ou tarde, começarão a machucar-se mutuamente.  Se quiserem que o amor entre vocês perdure … voem juntos …  mas jamais amarrados!”

Texto baseado em uma lenda dos índios Sioux.

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