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Salteñas

Posted in Receitas with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 31/05/2014 by Joe

Salteñas

Nas obras do historiador e escritor Antonio Paredes Candia é possível ler que, no início do século XX, a senhora Juana Manuela Gorriti, que mais tarde se tornaria esposa do presidente Manuel Isidoro Belzu, nascida na cidade argentina de Salta, teve de fugir para o exílio com a sua família, durante a ditadura de Juan Manuel de Rosas.

Deixou todos os seus bens para trás e instalou-se em Tarija, na Bolívia. Durante muitos anos, a família Gorriti foi marcada por uma pobreza extrema. O desespero levou a família a começar a preparar uns pastéis que designava como “empanadas caldosas”, que eram típicas de algumas cidades europeias, na época.

A venda destes pastéis tornou-os muito popular, ao mesmo tempo que Manuela foi apelidada de “la salteña”, devido à sua cidade de origem. Os pastéis foram lentamente ganhando popularidade em Tarija, tendo acabado por se converter em uma tradição. Paredes Candia menciona que era comum dizerem às crianças: “vai buscar uma empanada da saltenha”. Com o passar do tempo, o nome de Manuela Gorriti foi sendo esquecido, mas não o seu apelido, razão pela qual a iguaria continua a ter o nome de saltenha.

Hoje em dia é possível encontrar esta iguaria em vários locais por toda a Bolívia. A sua aceitação foi tão boa que chegou mesmo ao mercado internacional.

Existem muitas variedades de saltenhas, dependendo do recheio, mas todas mantém um mesmo estilo e uma massa comuns.

A receita de hoje apresenta a saltenha de carne. Mas também pode ser preparada com frango ou atum. Todas muito saborosas neste tipo de massa!

Salteñas

Ingredientes

Massa

500 gr de farinha de trigo
¼ de xícara (chá) de manteiga
1 colher de chá de sal
1 colher (sobremesa) de colorau
¼ xícara (chá) de água morna
1 gema para pincelar

Recheio

400 gr de carne moída
1 colher (sopa) de azeite
3 colheres (sopa) de manteiga
1 cebola picadinha
2 dentes de alho picados
½ colher (chá) de cominho em pó
½ xícara (chá) de passas
½ xícara (chá) de azeitonas sem caroços
2 colheres (chá) de farinha de trigo
¼ xícara de água
2 ovos cozidos e picados
sal e pimenta do reino a gosto

Modo de preparo

Misture todos os ingredientes para a massa até obter uma bola homogênea e lisa. Deixe descansar por uns 15 minutos, enrolada em um plástico.

Enquanto isso, prepare o recheio, aquecendo a manteiga com o azeite e refogue o alho, a cebola, a carne, o cominho e o sal. Junte as passas, as azeitonas e o trigo dissolvido na água. Refogue bem até obter um recheio cremoso e espere esfriar.

Em seguida, separe a massa em três partes e abra cada uma em uma superfície enfarinhada, deixando-a bem fininha. Corte a massa colocando um prato de sobremesa (em torno de 15 cm) sobre ela, recortando com a ponta de uma faca lisa, formando círculos. Junte as rebarbas de massa, amassando bem novamente e abrindo tudo no final, repetindo o processo.

Recheie com bastante carne e acrescente os ovos cozidos picados na hora da montagem (se preferir também pode adicionar uma ou duas passas neste momento, ao invés de refogá-las junto com a carne). Molhe as beiradas da massa com água, dobre como um pastel, faça pequenas pregas na beirada da empanada utilizando um garfo. Pincele com gema batida e asse em forno quente por uns vinte minutos até dourar.

By Joemir Rosa.

O Silêncio das Montanhas

Posted in Livros with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 07/07/2013 by Joe

O Silêncio das MontanhasLivro: O Silêncio das Montanhas
By Khaled Hosseini
Editora Globo

Dez anos depois do aclamado “O Caçador de Pipas”, o escritor afegão Khaled Hosseini volta à cena literária com “O silêncio das montanhas”.

O romance traz como protagonistas os irmãos Pari e Abdullah, que moram em uma aldeia distante de Cabul, são órfãos de mãe e têm uma forte ligação desde pequenos. Assim como a fábula que abre o livro, as crianças são separadas pela miséria e crueldade do mundo, marcando o destino de vários personagens.

Paralelamente à trama principal, Hosseini narra a história de diversas pessoas que, de alguma forma, se relacionam com os irmãos e sua família, sobre como cuidam uns dos outros e a forma como as escolhas que fazem ressoam através de gerações. Assim como em “O Caçador de Pipas”, o autor explora as maneiras como os membros sacrificam-se uns pelos outros e, muitas vezes, são surpreendidos pelas ações de pessoas próximas nos momentos mais importantes.

Seguindo os personagens, mediante suas escolhas e amores pelo mundo – de Cabul a Paris, de São Francisco à Grécia – a história se expande, tornando-se emocionante, complexa e poderosa. É um livro sobre vidas partidas, inocências perdidas e sobre o amor em uma família que tenta se reencontrar.

A mãe de Pari morreu no parto, e desde então seu irmão mais velho, Abdullah, vem cuidando dela. Apesar da miséria em que vivem em uma aldeia distante de Cabul, Abdullah nunca imaginou que seria separado de sua irmã da pior forma possível: ela é vendida.

Pari é pequena demais para entender e se lembrar do que aconteceu pelos anos que estão por vir e, quando ela é levada para França, o passado triste tende a cicatrizar e se dissolver. Paralelamente à trama principal, outros personagens ligados aos irmãos nos são apresentados, pequenas peças que vão se juntando para formar algo grande abrangendo sessenta anos de perda, redenção e amor.

Então, de um lado, temos Abdullah, pai e irmão de Pari, e uma ligação intrínseca entre ambos, inexplicável para quem não entende o amor, mas por outro lado temos a fome pela qual a família passa que acaba levando a uma decisão irrevogável, com Pari se tornando uma peça chave em um casamento sem futuro com pessoas que possuíam tudo, menos o que nos faz seguir em frente com dignidade: o amor, mais uma vez. Mesmo sendo várias as histórias ligadas aos protagonistas, é esse laço que toca a alma de quem le esta obra.

Segundo o próprio Hosseini, o novo título “fala não somente sobre a minha própria experiência como alguém que viveu no exílio, mas também sobre a experiência de pessoas que eu conheci, especialmente os refugiados que voltaram ao Afeganistão e sobre cujas vidas tentei falar tanto como escritor quanto como representante da Organização das Nações Unidas. Espero que os leitores consigam amar os personagens de “O Silêncio das Montanhas” tanto quanto eu os amo”.

By Joemir Rosa.

Taiguara

Posted in Música with tags , , , , , , , , , , on 18/07/2010 by Joe

A intenção do post de hoje é, através da história de um grande artista, compositor e poeta, Taiguara, dar uma rápida visão de como as coisas aconteciam no período da ditadura militar no Brasil, um triste período de nossa história que temos a obrigação de jamais deixar que aconteça novamente em nosso país.

Taiguara Chalar da Silva (Montevidéu, 9 de outubro de 1945 – São Paulo, 14 de fevereiro de 1996) foi um cantor e compositor brasileiro, embora nascido no Uruguai durante uma temporada de shows de seu pai, o bandoneonista e maestro Ubirajara Silva.

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1949 e para São Paulo, posteriormente, em 1960. Largou a faculdade de Direito para se dedicar à música. Participou de vários festivais e programas da TV, e fez muito sucesso nas décadas de 60 e 70. Autor de vários clássicos da MPB, como “Hoje”, “Universo do teu corpo”, “Piano e viola”, “Amanda”, “Tributo a Jacob do Bandolim”, “Viagem”, “Berço de Marcela”, “Teu sonho não acabou”, “Geração 70” e “Que as crianças cantem livres”, entre outros.

Considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar brasileira, Taiguara foi um dos compositores mais censurados na historia da MPB, tendo cerca de 100 canções vetadas. Os problemas com a censura eventualmente levaram Taiguara a se auto-exilar na Inglaterra em meados de 1973. Em Londres, estudou no Guildhall School of Music and Drama e gravou “Let the children hear the music”, que nunca chegou ao mercado, tornando-se o primeiro disco estrangeiro de um brasileiro censurado no Brasil.

Em 1975, voltou ao Brasil e gravou “Imyra, Tayra, Ipy – Taiguara” com Hermeto Paschoal, participação de músicos como Wagner Tiso, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Jacques Morelenbaum, Novelli, Zé Eduardo Nazário, Ubirajara Silva e uma orquestra sinfônica de 80 músicos. O espetáculo de lançamento do disco foi proibido e todas as cópias foram recolhidas pela ditadura militar em poucos dias.

Taiguara, decepcionado com a situação do seu país, se auto-exilou por uma segunda vez. Desta vez o silêncio durou muitos anos. E o disco nunca mais foi editado em nossa terra, apesar dos apelos e dos protestos do próprio Taiguara, de toda a classe artística e dos fãs.

Os anos passaram e a censura perdurou. Boatos e comentários de que a gravadora teria anunciado que a matriz do disco tinha se perdido em sua trajetória para Londres, foram desmentidos por gravações de coletâneas, que incluíam “Aquarela de um país na lua” e “Situação”, duas faixas da obra censurada. Um colunista brasileiro chegou a denunciar o fato, sem muita repercussão. A censura continuou.

Em 2002 … a surpresa! O disco “Imyra, Tayra, Ipy – Taiguara” foi remasterizado e editado em CD e colocado à venda no Japão. O boato da perda da matriz se desfez e aumentou ainda mais a indignação. O disco continuou a ser, de certo modo, censurado, pois permaneceu, após quase três décadas, fora do alcance do povo brasileiro.

Entre 2004 e 2005, o Brasil ganhou uma briga na OMC – Organização Mundial do Comércio, pela ‘patente’ do “cupuaçu”, uma fruta tipicamente do nosso país, herança de nossos irmãos indígenas brasileiros, pretendida pelo mesmo país asiático.

E a obra-prima feita pela alma de um artista para o seu povo, brasileiro e latino americano, continuou sendo censurada. Mas o caminho da censura fascista ficou claro: primeiro por uma ditadura militar, depois por uma multinacional e, no século 21, por uma corporação transnacional. É a própria transformação e mudança de forma da propriedade privada.

Taiguara faleceu em 1996 devido a um persistente câncer na bexiga.

Neste video, Taiguara, no show “Treze Outubros”, conta uma passagem sobre seu contato com uma das censoras nos tristes tempos de ditadura. O relato se refere à canção “Nova York”, coisa que não fica muito clara no video. O problema com a censura foi a palava “polícia”, entres as outras “pó” e “poluição”.

Citando a necessidade de preservar o recurso poético utilizado, a aliteração, Taiguara sugere cantá-la, então, em inglês, desde que a letra da canção, de fato, se refere à cidade de Nova York. A censora permite, assim, que a canção seja liberada, embora foneticamente o trecho, mesmo com a palavra registrada em inglês, possui o mesmo som que o original – “o pó, a policia (*police) e a poluição” – proporcionando assim, o mesmo óbvio resultado.

Após o relato, Taiguara, ao piano, canta a bela “Que as criancas cantem livres”. Vale a pena ver e ouvir!

Veja aqui outros videos com os maiores sucessos de Taiguara.

By Joe.

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