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Fator de descarte

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Fator de descarte

Estávamos, eu e uma amiga, conversando sobre antigos namorados, quando ela me contou uma história engraçada que havia acontecido com ela há muito tempo. Estava saindo com um cara que já demonstrara não ser exatamente um príncipe encantado, mas vá lá, ela seguia tentando, até que um dia estavam dentro do carro e o rádio começou a tocar uma música do Tom Jobim. Ele disse: “Não suporto esse xarope” e trocou de estação. Ela não teve dúvida: trocou de namorado!

Não gostar de Tom Jobim foi o que ela chama de “fator de descarte”. Me assegurou que todos nós, homens e mulheres, temos pelo menos um fator que faz com que paremos de investir numa paquera. Um fator que é intransponível. E então ela me perguntou: qual é o teu?

Fiz um rápido retrospecto da minha vida amorosa – rápido mesmo, porque o elenco é pequeno – e cheguei à conclusão que meu único fator de descarte seria a violência e a canalhice. Eu não me relacionaria com ninguém que ameaçasse minha integridade física e também com ninguém que não tivesse princípios éticos. Fora isso, não me importo que o candidato a príncipe não goste de Tom Jobim ou que seja gremista, baixinho, caolho e manque de uma perna, desde que possua o meu “fator de exigência”, que é único, subjetivo e não vou revelar qual é.

Essa história de “fator de descarte” explica a existência de tantos desencontros amorosos, de tanta gente continuar “comendo mosca” quando poderia estar vivendo uma relação, no mínimo, surpreendente. A longa lista de “isso não tolero” é praticamente um passaporte para a solidão. As pessoas não dão chance para os diferentes, para os que não têm o mesmo nível cultural ou o mesmo padrão econômico. Desejam alguém que pense igual, se comporte igual, tenha os mesmos gostos, o mesmo tipo de amigos, preferências idênticas. No entanto, quem garante que um fã de Tom Jobim não possa ser um buldogue no convívio diário? E quem garante que um fã do padre Fábio de Melo não possa levar uma mulher às alturas? Hosana nas alturas!

Eu prefiro Tom Jobim a qualquer padre, pagodeiro ou sertanejo, e acredito que ter afinidades é decisivo para o sucesso de uma relação a dois, mas às vezes um prefere Paris e outro prefere acampar em Rolante, e aí, como faz?

Relacionar-se é a oportunidade suprema de invadir universos desconhecidos e extrair diversão das indiadas. Claro que há grande chance de virar um deus nos acuda, mas não se pode cultivar ideias imutáveis, tipo “jamais trocarei uma noite no Cafe de la Musique (*) por um churrasquinho de gato na Lomba do Pinheiro” (*).

Exagerei, né? Churrasquinho de gato na Lomba do Pinheiro, francamente. Só se o cara – ou a fulana – cumprir muito à risca seu fator de exigência. No que diz respeito ao meu, é algo subjetivo, já falei. Altamente psicológico. Pense naquilo que é imprescindível para justificar que você se envolva com outra pessoa a ponto de abrir mão da sua liberdade. Pois então: eis o seu fator de exigência. É isso que importa. De resto, deixe pra ouvir Garota de Ipanema em casa, Tom Jobim não vai fugir.

(*) Dois points da região de Porto Alegre.

By Martha Medeiros.

Diversidade humana

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 06/08/2013 by Joe

Diversidade

– “Por que os outros não são iguais a mim?”

– “Não consigo compreender como alguém pode pensar dessa maneira!”

– “Não adianta falar – ele (a) não entende o que eu quero dizer!”

Não é fácil reconhecer e aceitar a “diversidade humana”. Homens e mulheres pensam de maneiras diferentes e agem de formas diferentes. A verdade é que todas as pessoas são diferentes e isso é simplesmente irritante e, às vezes, inaceitável para pessoas egocêntricas.

As pessoas têm base genética diferente; histórias de vida diferentes; cresceram e se desenvolveram em meio-ambientes diferentes. O fato é um só: não há duas pessoas iguais!

Assim, temos que aprender a conviver, respeitar e até utilizar para a nossa vida – pessoal e profissional – as diferenças individuais. Uns têm mais “senso de urgência” e fazem as coisas rapidamente. Outros, mais introspectivos, pensam mais, são mais cautelosos. Os primeiros acharão os segundos uns “bobos”. Estes dizem que os primeiros são uns “mal educados, egoístas, espaçosos…”.

Quando estamos dirigindo, todos os motoristas que estão dirigindo mais devagar à nossa frente “são uns molengas, tartarugas…” e todos os que nos ultrapassam “são uns loucos, irresponsáveis…”

Nesta semana, pense na diversidade humana. A riqueza da sociedade está justamente na diferença entre as pessoas. “O que seria do azul, se todos gostassem do amarelo?”,  diz o ditado popular. E assim, na empresa, na família, na vida, tente fazer um esforço para respeitar as pessoas como elas são – diferentes de você!

Professor Luiz Marins.

Somos diferentes…

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 05/06/2011 by Joe

Eu gastava tudo — eles poupavam.
Eu tomava vinho — eles bebiam cerveja.
Eu amava livremente — eles se envolviam com ciumentos.
Eu era um poeta louco — eles eram respeitáveis.
Eu criava conceitos — eles adoravam as coisas.
Enquanto eu fazia amor, eles faziam filhos.
Enquanto eu fechava os olhos, eles vigiavam.
Enquanto eu estudava e dançava, eles cuidavam da prole e do cônjuge.
Enquanto eu viajava sem destino, eles faziam seus planos e desenhavam seus mapas.
Enquanto eu saltava profundo, eles viam novela.

Tudo tem seu preço.

Por isso hoje eu vivo aqui, sozinho — e não tenho nada além de amores. Mas eles ainda se amontoam, brigando por inventários e calculando seus haveres…

Não seria justo, portanto, que Deus nos desse agora as mesmas dores.

Somos diferentes.

E não tenho culpa se além de loucura Deus me deu Razão — e continua dando.

By Edson Marques.

Chega de preconceitos

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 07/01/2011 by Joe

Tia, meu amigo nasceu com seis dedos.

Minha prima toma injeção todo dia, ela tem diabetes.

A vovó faz xixi pela barriga.

Aquele menino perdeu muita prova porque tem falta de ar.

Sente esse caroço na minha cabeça que a mamãe esconde com o cabelo”.

Adulto tem pavor de assuntos relacionados à deficiência. Acha até que dá azar. Criança não, quer saber sobre o que não entende: diferenças individuais. Encontra as respostas de que necessita? Difícil. Pais e professores costumam achar natural não terem informações corretas sobre doenças crônicas, distúrbios neuro-psico-motores, síndromes genéticas e situações que levam a incapacidades.

Desde 1992 me especializo em levar informações relacionadas à deficiência para adultos e crianças. Percebi que informação correta para o adulto apenas civiliza seu preconceito. Mas o sentimento continua lá, esperando para dar o bote. Para minimizar o preconceito será preciso impedir que ele se instale. Daí a importância da literatura infantil, arma poderosa e pouco utilizada no combate a qualquer discriminação.

Passei por uma experiência decisiva. Em 1994, escrevi a coleção “Meu Amigo Down”. Ao divulgá- la nas escolas eu era torpedeada pelos alunos com perguntas sobre anormalidades. Tornei-me a oportunidade para que abordassem assuntos que os afligiam e os deixavam curiosos. Fiquei aflita com a aflição deles. Certa de que criança tem direito de ter informação de qualquer natureza numa linguagem acessível, escrevi o livro “Um amigo diferente?” (Editora WVA).

O livro conta a história de um amigo que afirma ser diferente. Muito ou pouco? De que jeito? A cada página, o amigo imaginário dá pistas novas, atiçando a imaginação da criançada. E o leitor vai se deparando com temas pouco abordados como hemofilia, artrite, diabetes, doença renal, deficiências físicas, sensorial e mental, entre outros. Mas que ninguém se espante. O livro é alegre, colorido e divertido.

Desejo oficializar nas salas de aula e nos lares brasileiros a discussão sobre as diferenças individuais. Torço para familiares e educadores se interessarem por esses temas. Ou persistiremos no erro de construir cidadãos pela metade? O preconceito contra os diferentes nasce na infância. No jantar, o filho pergunta: “pai o que é ostomia?” O adulto responde: “não pensa nisso, é muito triste, come senão a comida vai esfriar”. Sem resposta, e vendo sua dúvida desvalorizada, a criança se cala. O que deveria ser esclarecido vira mistério, tabu. Eu sei, nada é tão simples. Mas por não termos sido educados para entender a diversidade como situação natural, hoje relutamos em obedecer leis e seguir regras sociais que dêem às pessoas com deficiência um direito assegurado na Constituição Federal: a cidadania.

Por isso defendo a sociedade inclusiva. Nela não haverá espaço para aceitar crianças e adolescentes com deficiências e depois bater no peito ou dormir com a sensação de termos sido bonzinhos. Na sociedade inclusiva ninguém é bonzinho. Cada cidadão é consciente de sua responsabilidade na construção de um mundo que dê oportunidade para todos. Jovens crescerão convictos de que se relacionar com pessoas deficientes não é favor, mas troca. Nesse ideal de inclusão, difundido internacionalmente nos últimos anos, felizes das escolas que se propuserem a ser transformadoras, empenhando-se em formar cidadãos mais éticos, capazes de respeitar aqueles que são – ou estão – diferentes.

Acredito na força de um lar no qual os adultos, questionados sobre temas que lhes incomodem, abram seus corações e seus dicionários com o mesmo orgulho que orientam os filhos sobre política ou economia. Portadores de diferenças querem ser levados à sério. Assumirão sua condição com cada vez mais dignidade. Se nós, portadores de diferenças menores, permitirmos. Como diz o personagem do livro “Um amigo diferente?”:

–  “Você está preocupado comigo? Obrigado. Mas eu vou em frente. Essa é a minha vida”.

By Claudia Werneck, jornalista e escritora, responsável pelo projeto “Muito prazer, eu existo“.

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