Arquivo para Cidadania

21 de Abril

Posted in Atualidade, Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 21/04/2014 by Joe

Povo burro

Com base em um índice que mede o grau de educação de um país, o Brasil ficou em 53º lugar, num ranking entre 65 países! E ficamos lamentando o 22º lugar nas últimas olimpíadas!

Vejam bem: num país onde não se investe em educação, cultura, saúde, 22º lugar é praticamente medalha de ouro!

O Brasil é um país de 4º mundo que bota banca de 1º mundo, com uma população massiva que sofre, enquanto meia dúzia gasta milhões de dólares em compras em Miami e Nova Yorque, onde essa massa passiva não se interessa por cidadania, por educação, preferindo gastar horas e horas diariamente na frente do computador e da televisão – a nossa grande “Mestra” – do que pegar um livro pra ler ou fazer um curso gratuito dos tantos que são oferecidos pela própria Internet e que ainda reclamam da vida, da situação em que vivem, da falta de dinheiro para suas necessidades, da falta de segurança nas ruas e até dentro de casa!

Porém, quando chamados a manifestar sua indignação, seus protestos contra os bandidos políticos que (des)governam este país, simplesmente não comparecem, não se interessam em mudar nada!

Este ano teremos eleições, a chance de mostrar toda a nossa indignação, nossa revolta contra o atual estado de coisas que estão aí! Vamos realmente mudar alguma coisa – ou pelo menos tentar – ou vamos dar continuidade, votando nos mesmos políticos, nos nomes mais conhecidos, no mais bonitinho, nos que dizem “roubar, mas fazer”?

Que país vamos deixar para nossos filhos e netos? Antes disso, como será este país daqui alguns anos quando precisarmos viver na dependência de uma mísera aposentadoria e talvez dependamos de um SUS, de um hospital público?

Ah, entendi! Você é rico e tem plano de saúde, sua família está bem amparada finaceiramente!! Então pense nos que nada têm – e quando digo “nada têm” estou me referindo a quem nada tem mais a perder – e estão começando a perceber que é mais fácil tirar de quem tem, porque não foram educados a pensar coletivamente, não tiveram escola, nem saúde, nem moradia! É o que estamos vendo todos os dias nos noticiários, não é?

Está mais do que na hora de pensarmos nisso também! Ou será que, além de passivos, somos um povo burro?

Não acha que é chegada a hora de tomarmos as rédeas do nosso futuro? Afinal, apesar de ser 21 de Abril, nenhum novo Tiradentes irá aparecer para tentar nos livrar dos grilhões da passividade, da burrice e da falta de educação!

By Joemir Rosa.

A imbecilização do Brasil

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Imbecilização do Brasil

Nossa vanguarda. Imbatíveis à testa da Operação Deserto.

Há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre. Há muito tempo o Brasil não produz pintores como Cândido Portinari. Há muito tempo o Brasil não produz historiadores como Raymundo Faoro.

Há muito tempo o Brasil não produz polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues. Há muito tempo o Brasil não produz jornalistas como Claudio Abramo, e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…

Os derradeiros, notáveis intérpretes da cultura brasileira já passaram dos 60 anos, quando não dos 70, como Alfredo Bosi ou Ariano Suassuna ou Paulo Mendes da Rocha. Sobra no mais um deserto de oásis raros e até inesperados. Como o filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça, que acaba de ser lançado, para os nossos encantos e surpresa.

Nos últimos dez anos o país experimentou inegáveis progressos econômicos e sociais, e a história ensina que estes, quando ocorrem, costumam coincidir com avanços culturais. Vale sublinhar, está claro, que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência da cidadania. Houve, de resto, e por exemplo, progressos em termos de educação, de ensino público? Muito pelo contrário.

E houve, decerto, algo pior, o esforço concentrado dos senhores da casa-grande no sentido de manter a maioria no limbo, caso não fosse possível segurá-la debaixo do tacão. Neste nosso limbo terrestre a ignorância é comum a todos, mas, obviamente, o poder pertence a poucos, certos de que lhes cabe por direito divino. Indispensável à tarefa, a contribuição do mais afiado instrumento à disposição, a mídia nativa. Não é que não tenha servido ao poder desde sempre. No entanto, nas últimas décadas cumpriu seu papel destrutivo com truculência nunca dantes navegada.

Falemos, contudo, de amenidades do vídeo. De saída, para encaminhar a conversa. Falemos do Big Brother Brasil, das lutas do MMA e do UFC, dos programas de auditório, de toda uma produção destinada a educar o povo brasileiro, sem falar das telenovelas, de hábito empenhadas em mostrar uma sociedade inexistente, integrada por seres sem sombra. Deste ponto de vista, a Globo tem sido de uma eficácia insuperável.

O espetáculo de vulgaridade e ignorância oferecido no vídeo não tem similares mundo afora, enquanto eu me colho a recordar os programas de rádio que ouvia, adolescente, graciosas, adoráveis peças de museu como a PRK30, ou anos verdolengos habitados pelos magistrais shows de Chico Anysio. Cito exemplos, mas há outros. Creio que a Globo ocupe a vanguarda desta operação de imbecilização coletiva, de espectro infindo, na sua capacidade de incluir a todos, do primeiro ao último andar da escada social.

O trabalho da imprensa é mais sutil, pontiagudo como o buril do ourives. Visa à minoria, além dos donos do poder real, que, além do mais, ditam o pensamento único, fixam-lhe os limites e determinam suas formas de expressão. O alvo é a chamada classe média alta, os aspirantes, a segunda turma da classe A, o creme que não chegou ao creme do creme. E classe B também. Leitores, em primeiro lugar, dos editoriais e colunas destacadas dos jornalões, e da Veja, a inefável semanal da Editora Abril. Alguns remediados entram na dança, precipitados na exibição, de verdade inadequada para eles.

Aqui está a bucha do canhão midiático. Em geral, fiéis da casa-grande encarada como meta de chegada radiosa, mesmo quando ancorada, em termos paulistanos, às margens do Rio Pinheiros, o formidável esgoto ao ar livre. E, em geral, inabilitados ao exercício do espírito crítico. Quem ainda o pratica, passa de espanto a espanto, e o maior, se admissível a classificação, é que os próprios editorialistas, colunistas, articulistas etc. etc. acabem por acreditar nos enredos ficcionais tecidos por eles próprios, quando não nas mentiras assacadas com heroica impavidez.

O deserto cultural em que vivemos tem largas e evidentes explicações, entre elas, a lassidão de quem teria condições de resistir. Agrada-me, de todo modo, o relativo otimismo de Alfredo Bosi, que enriquece esta edição. Mesmo em épocas medíocres pode medrar o gênio, diz ele, ainda que isto me lembre a Península Ibérica, terra de grandes personagens solitárias em lugar de escolas do saber. Um músico e poeta italiano do século passado, Fabrizio de André, cantou: “Nada nasce dos diamantes, do estrume nascem as flores”. E do deserto?

By Mino Carta para Carta Capital.

Cinco conselhos

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 28/06/2013 by Joe

Sucesso

Dizem que água e conselho só se dão a quem pede. Mas aqui vão alguns conselhos importantes para vencer na vida. São cinco conselhos do Professor César Souza, dados a uma turma que se formou na USP.

Não confie no convencional! Estratégias de carreira que foram vitoriosas no século XX podem não servir para os dias de hoje. Fuja das carreiras lineares dentro de uma mesma empresa. Não desperdice seu talento perpetuando burocracias. Inovação, flexibilidade e agilidade serão as novas marcas registradas.

Nunca pare de crescer! O aprendizado é fundamental para o sucesso, pois o conhecimento virou um bem perecível. A única competência durável que cada um poderá dispor daqui para frente será a capacidade de aprender e de aplicar no dia-a-dia seus conhecimentos.

Concilie a vida profissional com a vida pessoal e familiar. O sucesso profissional não é tudo. Um profissional bem-sucedido também o é nas outras esferas da vida. Não deixe em segundo plano o exercício da cidadania nas comunidades onde você vive.

Sonhe alto e persiga os seus sonhos. O desejo e a determinação são a força essencial para vencer nos dias de hoje. E vão ser cada vez mais no futuro, quando as capacidades de sonhar e de criar serão vantagens competitivas.

Não siga os conselhos de ninguém, nem mesmo estes, caso não acredite neles. Siga sua intuição. Cada um sabe melhor do que ninguém o que é bom para si. A tecnologia muda diariamente, mas a chave do sucesso continua a ser escrita com seis letras: P-A-I-X-Ã-O! Apaixone-se! Caso contrário, mude, pois, de outra forma, jamais alcançará o sucesso.

By Professor César Souza.

Ética

Posted in Atualidade with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 14/12/2012 by Joe

Ética

O que não nos falta são motivos para nos queixarmos: corrupção, violência, poluição, inflação, etc, etc.

E nós? O que estamos fazendo contra tudo o que nos incomoda? Há algo que possamos fazer? Vejamos algumas sugestões, abaixo.

1. Você acha um absurdo a corrupção da polícia?
Solução: Nunca suborne nem aceite suborno!

2. Você acha um absurdo o roubo de cargas, até mesmo com assassinatos dos motoristas?
Solução: Exija a nota fiscal em todas as suas compras!

3. Você acha um absurdo o poder dos marginais das favelas?
Solução: Não compre nem consuma drogas!

4. Você acha um absurdo o enriquecimento ilícito?
Solução: Denuncie à Polícia Federal quem enriquece repentinamente. Não o admire, repudie-o.

5. Você acha um absurdo a quantidade de pedintes no sinal ou de flanelinhas nas ruas?
Solução: Nunca dê esmolas e nem dê dinheiro aos flanelinhas.

6. Você acha um absurdo quando qualquer chuva alague a cidade?
Solução: Só jogue o lixo no lixo.

7. Você acha um absurdo haver cambistas para shows e espetáculos?
Solução: Não compre deles, nem que o preço a pagar seja não assistir ao evento.

8. Você acha um absurdo o trânsito da sua cidade?
Solução: Não feche os cruzamentos e dê preferência aos transportes coletivos.

9. Você está indignado com o desempenho de seus representantes na política?
Solução: Nunca mais vote neles e espalhe aos seus amigos o seu desalento e o nome dos eleitos que o decepcionam.

Estamos passando por uma fase de falta de cidadania e patriotismo. Precisamos mudar nosso comportamento para que possamos viver num país onde tenhamos orgulho de dizer: “Eu sou brasileiro!”

Ficando parado, você não contribui com nada; portanto não pode reclamar. Enquanto você não botar a boca no trombone, fingir que não viu ou não ouviu, nada vai mudar mesmo!

Tente fazer sua parte e divulgue esta mensagem, pois estará contribuindo para um Brasil melhor. Precisamos melhorar este país.

Vamos todos viver com ética.

Desconheço a autoria.

A arte de ouvir

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 21/02/2012 by Joe

De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento: “Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar.

Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio. A magia do poema não está nas palavras do poeta. Está nos interstícios silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia me faz chorar.

Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa para por não haver o que dizer tratamos logo de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos, nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou olhamos para o chão? Nada temos a falar. Esse silêncio é como se fosse uma ofensa. Aí falamos sobre o tempo. Mas nós dois bem sabemos que se trata de uma farsa para encher o tempo até que o elevador pare.

Os orientais entendem melhor do que nós. Se não me engano, o nome do filme é “Aconteceu em Tóquio”. Duas velhinhas se visitavam. Por horas ficavam juntas, sem dizer uma única palavra. Nada diziam porque no seu silêncio morava um mundo. Faziam silêncio não por não ter nada a dizer, mas porque o que tinham a dizer não cabia em palavras. A filosofia ocidental é obcecada pela questão do Ser. A filosofia oriental, pela questão do Vazio, do Nada. É no Vazio da jarra que se colocam flores.

O aprendizado do ouvir não se encontra em nossos currículos. A prática educativa tradicional se inicia com a palavra do professor. A menininha, Andréa, voltava do seu primeiro dia na creche.

– “Como é a professora?”, sua mãe lhe perguntou. Ao que ela respondeu:

– “Ela grita…” Não bastava que a professora falasse. Ela gritava. Não me lembro de que minha primeira professora, Da. Clotilde, tivesse jamais gritado. Mas me lembro dos gritos esganiçados que vinham da sala ao lado. Um único grito enche o espaço de medo. Na escola a violência começa com estupros verbais.

Milan Kundera conta a estória de Tamina, uma garçonete. “Todo mundo gosta de Tamina. Porque ela sabe ouvir o que lhe contam. Mas será que ela ouve mesmo? Não sei… O que conta é que ela não interrompe a fala.

Vocês sabem o que acontece quando duas pessoas falam. Uma fala e outra lhe corta a palavra: “é exatamente como eu, eu…” e começa a falar de si até que a primeira consiga por sua vez cortar, dizendo “é exatamente como eu, eu…” Essa frase “é exatamente como eu…” parece ser uma maneira de continuar a reflexão do outro, mas é um engodo. É uma revolta brutal contra uma violência brutal: um esforço para libertar o nosso ouvido da escravidão e ocupar à força o ouvido do adversário. Pois toda a vida do homem entre os seus semelhantes nada mais é do que um combate para se apossar do ouvido do outro…

Será que era isso que acontecia na escola tradicional? O professor se apossando do ouvido do aluno (pois não é essa a sua missão?), penetrando-o com a sua fala fálica e estuprando-o com a força da autoridade e a ameaça de castigos, sem se dar conta de que no ouvido silencioso do aluno há uma melodia que se toca. Talvez seja essa a razão porque há tantos cursos de oratória, procurados por políticos e executivos, mas não haja cursos de escutatória. Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir…

Todo mundo quer ser escutado (como não há quem os escute, os adultos procuram um psicanalista, profissional pago do escutar). Toda criança também quer ser escutada. Encontrei, na revista pedagógica italiana “Cem Mondialità” a sugestão de que, antes de se iniciarem as atividades de ensino e aprendizagem, os professores se dedicassem por semanas, talvez meses, a simplesmente ouvir as crianças. No silêncio das crianças há um
programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. A inteligência é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade. É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.

Sugiro, então, aos professores, que ao lado da sua justa preocupação com o falar claro, tenham também uma justa preocupação com o escutar claro. Amamos não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar…

By Rubem Alves, psicanalista, educador, teólogo  e escritor brasileiro, autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

Chega de preconceitos

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 07/01/2011 by Joe

Tia, meu amigo nasceu com seis dedos.

Minha prima toma injeção todo dia, ela tem diabetes.

A vovó faz xixi pela barriga.

Aquele menino perdeu muita prova porque tem falta de ar.

Sente esse caroço na minha cabeça que a mamãe esconde com o cabelo”.

Adulto tem pavor de assuntos relacionados à deficiência. Acha até que dá azar. Criança não, quer saber sobre o que não entende: diferenças individuais. Encontra as respostas de que necessita? Difícil. Pais e professores costumam achar natural não terem informações corretas sobre doenças crônicas, distúrbios neuro-psico-motores, síndromes genéticas e situações que levam a incapacidades.

Desde 1992 me especializo em levar informações relacionadas à deficiência para adultos e crianças. Percebi que informação correta para o adulto apenas civiliza seu preconceito. Mas o sentimento continua lá, esperando para dar o bote. Para minimizar o preconceito será preciso impedir que ele se instale. Daí a importância da literatura infantil, arma poderosa e pouco utilizada no combate a qualquer discriminação.

Passei por uma experiência decisiva. Em 1994, escrevi a coleção “Meu Amigo Down”. Ao divulgá- la nas escolas eu era torpedeada pelos alunos com perguntas sobre anormalidades. Tornei-me a oportunidade para que abordassem assuntos que os afligiam e os deixavam curiosos. Fiquei aflita com a aflição deles. Certa de que criança tem direito de ter informação de qualquer natureza numa linguagem acessível, escrevi o livro “Um amigo diferente?” (Editora WVA).

O livro conta a história de um amigo que afirma ser diferente. Muito ou pouco? De que jeito? A cada página, o amigo imaginário dá pistas novas, atiçando a imaginação da criançada. E o leitor vai se deparando com temas pouco abordados como hemofilia, artrite, diabetes, doença renal, deficiências físicas, sensorial e mental, entre outros. Mas que ninguém se espante. O livro é alegre, colorido e divertido.

Desejo oficializar nas salas de aula e nos lares brasileiros a discussão sobre as diferenças individuais. Torço para familiares e educadores se interessarem por esses temas. Ou persistiremos no erro de construir cidadãos pela metade? O preconceito contra os diferentes nasce na infância. No jantar, o filho pergunta: “pai o que é ostomia?” O adulto responde: “não pensa nisso, é muito triste, come senão a comida vai esfriar”. Sem resposta, e vendo sua dúvida desvalorizada, a criança se cala. O que deveria ser esclarecido vira mistério, tabu. Eu sei, nada é tão simples. Mas por não termos sido educados para entender a diversidade como situação natural, hoje relutamos em obedecer leis e seguir regras sociais que dêem às pessoas com deficiência um direito assegurado na Constituição Federal: a cidadania.

Por isso defendo a sociedade inclusiva. Nela não haverá espaço para aceitar crianças e adolescentes com deficiências e depois bater no peito ou dormir com a sensação de termos sido bonzinhos. Na sociedade inclusiva ninguém é bonzinho. Cada cidadão é consciente de sua responsabilidade na construção de um mundo que dê oportunidade para todos. Jovens crescerão convictos de que se relacionar com pessoas deficientes não é favor, mas troca. Nesse ideal de inclusão, difundido internacionalmente nos últimos anos, felizes das escolas que se propuserem a ser transformadoras, empenhando-se em formar cidadãos mais éticos, capazes de respeitar aqueles que são – ou estão – diferentes.

Acredito na força de um lar no qual os adultos, questionados sobre temas que lhes incomodem, abram seus corações e seus dicionários com o mesmo orgulho que orientam os filhos sobre política ou economia. Portadores de diferenças querem ser levados à sério. Assumirão sua condição com cada vez mais dignidade. Se nós, portadores de diferenças menores, permitirmos. Como diz o personagem do livro “Um amigo diferente?”:

–  “Você está preocupado comigo? Obrigado. Mas eu vou em frente. Essa é a minha vida”.

By Claudia Werneck, jornalista e escritora, responsável pelo projeto “Muito prazer, eu existo“.

A arte de ouvir

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 30/06/2010 by Joe

De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento: “Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar.

Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio. Veja esse poema de Fernando Pessoa, dirigido a um poeta:

“Cessa o teu canto! Cessa, que, enquanto o ouvi, ouvia uma outra voz como que vindo nos interstícios do brando encanto com que o teu canto vinha até nós. Ouvi-te e ouvia-a no mesmo tempo e diferentes, juntas a cantar. E a melodia que não havia se agora a lembro, faz-me chorar…”

A magia do poema não está nas palavras do poeta. Está nos interstícios silenciosos que há entre as suas palavras. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Aí a magia acontece: a melodia me faz chorar.

Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa para por não haver o que dizer tratamos logo de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos, nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou olhamos para o chão? Nada temos a falar. Esse silêncio é como se fosse uma ofensa. Aí falamos sobre o tempo. Mas nós dois bem sabemos que se trata de uma farsa para encher o tempo até que o elevador pare.

Os orientais entendem melhor do que nós. Se não me engano o nome do filme é “Aconteceu em Tóquio”. Duas velhinhas se visitavam. Por horas ficavam juntas, sem dizer uma única palavra. Nada diziam porque no seu silêncio morava um mundo. Faziam silêncio não por não ter nada a dizer, mas porque o que tinham a dizer não cabia em palavras. A filosofia ocidental é obcecada pela questão do Ser. A filosofia oriental, pela questão do Vazio, do Nada. É no Vazio da jarra que se colocam flores.

O aprendizado do ouvir não se encontra em nossos currículos. A prática educativa tradicional se inicia com a palavra do professor. A menininha, Andréa, voltava do seu primeiro dia na creche. “Como é a professora?”, sua mãe lhe perguntou. Ao que ela respondeu: “Ela grita…” Não bastava que a professora falasse. Ela gritava. Não me lembro de que minha primeira professora, Da. Clotilde, tivesse jamais gritado. Mas me lembro dos gritos esganiçados que vinham da sala ao lado. Um único grito enche o espaço de medo. Na escola a violência começa com estupros verbais.

Milan Kundera conta a estória de Tamina, uma garçonete. “Todo mundo gosta de Tamina. Porque ela sabe ouvir o que lhe contam. Mas será que ela ouve mesmo? Não sei… O que conta é que ela não interrompe a fala. Vocês sabem o que acontece quando duas pessoas falam. Uma fala e outra lhe corta a palavra: “é exatamente como eu, eu…” e começa a falar de si até que a primeira consiga por sua vez cortar, dizendo “é exatamente como eu, eu…” Essa frase “é exatamente como eu…” parece ser uma maneira de continuar a reflexão do outro, mas é um engodo. É uma revolta brutal contra uma violência brutal: um esforço para libertar o nosso ouvido da escravidão e ocupar à força o ouvido do adversário. Pois toda a vida do homem entre os seus semelhantes nada mais é do que um combate para se apossar do ouvido do outro…

Será que era isso que acontecia na escola tradicional? O professor se apossando do ouvido do aluno (pois não é essa a sua missão?), penetrando-o com a sua fala fálica e estuprando-o com a força da autoridade e a ameaça de castigos, sem se dar conta de que no ouvido silencioso do aluno há uma melodia que se toca. Talvez seja essa a razão porque há tantos cursos de oratória, procurados por políticos e executivos, mas não haja cursos de escutatória. Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir…

Todo mundo quer ser escutado (como não há quem os escute, os adultos procuram um psicanalista, profissional pago do escutar). Toda criança também quer ser escutada. Encontrei, na revista pedagógica italiana “Cem Mondialità” a sugestão de que, antes de se iniciarem as atividades de ensino e aprendizagem, os professores se dedicassem por semanas, talvez meses, a simplesmente ouvir as crianças. No silêncio das crianças há um programa de vida: sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. A inteligência é a ferramenta que o corpo usa para transformar os seus sonhos em realidade. É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche.

Sugiro, então, aos professores que, ao lado da sua justa preocupação com o falar claro, tenham também uma justa preocupação com o escutar claro. Amamos não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar…

By Rubem Alves, psicanalista, educador, teólogo  e escritor brasileiro, autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

Até quando?

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , on 11/08/2009 by Joe

CaladosPrimeiro levaram os negros.
Mas não me importei com isso …
Eu não era negro.
 
Em seguida levaram alguns operários.
Mas não me importei com isso …
Eu também não era operário.
 
Depois prenderam os miseráveis.
Mas não me importei com isso …
Porque eu não sou miserável.
 
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego …
Também não me importei.
 
Agora estão me levando.
Mas já é tarde…
Como eu não me importei com ninguém,
Ninguém se importa comigo.
 
By Bertold Brecht (1898-1956)

Um dia vieram
e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
 
No dia seguinte
vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
 
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
 
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
 
By Martin Niemöller, símbolo da resistência aos nazistas, em 1933.

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim…
E não dizemos nada.
 
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores, matam nosso cão…
e não dizemos nada.
 
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
 
E já não podemos dizer nada.
 
By Eduardo Alves Costa, poeta, carioca, em 1967.

Primeiro eles roubaram nos sinais,
mas não fui eu a vítima …
 
Depois incendiaram os ônibus,
mas eu não estava neles …
 
Depois fecharam ruas,
onde não moro;
 
Fecharam então o portão da favela,
que não habito;
 
Em seguida arrastaram até a morte uma criança,
que não era meu filho…
 
By Cláudio Humberto, em Fevereiro de 2009.

Primeiro, eles podaram o Congresso
que se realizaria na década de 70 em Salvador…
E nós ficamos quietos.
 
Depois, empurraram com a barriga durante 30 anos
E nós aceitamos.
 
Aí, pressionados pela sociedade,
marcaram o Congresso com um nome que nada
tem a ver com o que está ocorrendo …
E nós permanecemos calados.
 
Agora, estão colocando no temário tudo o que for melhor para eles.
E nós não temos, sequer, coragem de opinar.
 
Um dia haverá menos empregos disponíveis e salários ainda menores…
Porque não fomos capazes de defender nossos direitos!
 
Texto atribuído a Haroldo Ribeiro.
 
Nota do Blog:

Muitos poetas, pensadores e escritores vêm nos alertando há tempos e os nossos governantes continuam a delapidar o erário público, aniquilar as instituições (né, Sarney?), deixando o pobre cidadão cada vez mais pobre e cada vez menos cidadão!

Até quando vamos nos calar e continuar dizendo “amém” para tudo que acontece em nosso país?
Até quando vamos continuar escolhendo sempre os mesmos para serem a voz que foi roubada de nossas gargantas?
Até quando, Brasil, manteremos nosso direito ao silêncio?

Até quando ???

By Joe.

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