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A dor que dói mais

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A dor que dói mais

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem…

Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói a cólica, a cárie e a pedra no rim…

Mas o que mais dói é saudade!

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu.

Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas! Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama…

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.

Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter…

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando…

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche…

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela…

Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama e, ainda assim, doer.

By Martha Medeiros.

A mais bela flor

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 24/06/2014 by Joe

A mais bela flor

O estacionamento estava deserto quando me sentei para ler, embaixo dos longos ramos de um velho carvalho. Desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois o mundo estava tentando me afundar.

E, se não fosse razão suficiente para arruinar o dia, um garoto ofegante se chegou, cansado de brincar. Ele parou na minha frente, cabeça pendente, e disse, cheio de alegria:

– “Veja o que encontrei”.

Na sua mão uma flor – e que visão lamentável – pétalas caídas, pouca água ou luz. Querendo me ver livre do garoto com sua flor, fingi pálido sorriso e me virei. Mas ao invés de recuar ele se sentou ao meu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa:

– “O cheiro é ótimo, e é bonita também… Por isso a peguei. Tome, é sua!”

A flor à minha frente estava morta ou morrendo, nada de cores vibrantes como laranja, amarelo ou vermelho, mas eu sabia que tinha que pegá-la, ou ele jamais sairia de lá. Então, estendi a mão para pegá-la e respondi:

– “Era o que eu precisava…”

Mas, ao invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar sem qualquer razão. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego, que não podia ver o que tinha nas mãos. Senti minha voz sumir, lágrimas despontaram ao sol enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor daquele jardim.

– “De nada!”, ele sorriu, entregando-me a flor.

E, então, voltou a brincar sem perceber o impacto que teve em meu dia. Me sentei e pus-me a pensar como ele conseguiu enxergar um homem autopiedoso sob um velho carvalho. Como ele sabia do meu sofrimento autoindulgente? Talvez no seu coração ele tenha sido abençoado com a verdadeira visão.

Através dos olhos de uma criança cega, finalmente entendi que o problema não era o mundo, e sim eu. E por todos os momentos em que eu mesmo fui cego, agradeci por ver a beleza da vida e apreciei cada segundo que é só meu.

E, então, levei aquela feia flor ao meu nariz e senti a fragrância de uma bela rosa, e sorri enquanto olhava aquele garoto, com outra flor em suas mãos, prestes a mudar a vida de um insuspeito senhor de idade.

Desconheço a autoria.

Amor virtual

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Amor virtual

Acredito em amor virtual. Não adianta se valer do ceticismo da carne e dizer que a distância engana, que as pessoas não se conhecem, que pode haver desfeita e desilusão.

Acredito em amor virtual. Pois nada é mais expansivo e verdadeiro do que se conhecer pela linguagem. Nada é mais íntimo e pessoal do que se doar pela linguagem.

Não serei convencido da frieza do relacionamento na web, da articulação de fachadas e pseudônimos, da ironia e dos subterfúgios denunciados nos chats. O que acontece na internet reproduz a vida com seus defeitos e virtudes, não se pode exagerar na desconfiança. O amor virtual é tão real quanto o sangue. Não preciso enxergar o sangue para verificar se ele corre. O amor virtual trabalha com a expectativa e a ansiedade. Como um teatro que se faz de improviso, com a ardência de ser aceito aos poucos, sem o temor e os avisos em falso do rosto.

Na correspondência há a esperança de ser amado e de entreter as dores. A esperança aceita tudo, transforma todo troco em investimento. Um gesto de redobrada atenção, uma resposta alentada, uma frase diferente, um cuidado excessivo, a cordialidade do eco… e o amor se instala!

Não há o julgamento pelas aparências (que se assemelha a uma execução sumária), mas o julgamento em função do que se imagina ser, do que se deseja, do que se acredita. São raros os momentos em que se pode fechar os olhos para adivinhar. Adivinhar é delicioso – é se dedicar com intensidade às impressões mais do que aos fatos.

Alguns dirão que é alienação permanecer horas e horas teclando ou conversando diante de uma câmera e do computador. Mas é envolvimento, amizade, compromisso. É pressentir o cheiro, formigar os ouvidos, seduzir devagar. Não conheço paixão que não ofereça mais do que foi pedido.

Quem reclamava da ausência de preliminares deve comemorar o amor virtual? Nunca se teve tanta preliminar nas relações, rodeios, educação. Fica-se excitado por falar. Devolve-se à fala seu poder encantatório de persuadir. Afora o espaço democrático: um conversa e o outro responde. Findou o temporal de um perguntar para outro fingir que está ouvindo.

No amor virtual, a linguagem é o corpo. Dar a linguagem é entregar o que se tem de mais valioso. É esquecer as roupas na corda para escutar a chuva. É recordar de memórias imprevistas como do tempo em que se ajudava à mãe a contornar com o garfo a massa do capeletti. Conversa-se da infância, dos fundos do pátio, do que ainda não se tinha noção, sem ficar ridículo ou catártico. Abre-se a guarda para olhares demorados nos próprios hábitos. A autocrítica se converte em humor; a compreensão, em cumplicidade. É uma distração para concentrar. Uma distração para dentro. Vive-se com mais clareza para contar e se narrar.

Amor virtual é conhecer primeiro a letra, para depois conhecer a voz. A letra é o quarto da voz.

By Fabrício Carpinejar, jornalista e escritor.

Solte a panela

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 24/04/2014 by Joe

Solte a panela

Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento. A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores.

Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira ardendo em brasas e dela tirou um panelão de comida. Quando a panela já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo.

Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo lhe atingindo. Na verdade, era o calor que emanava dela. Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e onde mais a panela encostava. O urso nunca havia experimentado aquela sensação e, então, interpretou as queimaduras pelo seu corpo como uma coisa que queria lhe tirar a comida.

Começou a urrar muito alto. E quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo. Quanto mais a panela quente lhe queimava, mais ele a apertava contra o seu corpo e mais alto ainda rugia.

Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à fogueira, segurando a panela de comida. O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela e seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo.

Quando terminei de ouvir esta história de um mestre, percebi que, em nossas vidas, por muitas vezes abraçamos certas coisas que julgamos ser importantes. Algumas delas nos fazem gemer de dor, nos queimam por fora e por dentro e, mesmo assim, ainda as julgamos importantes. Temos medo de abandoná-las e esse medo nos coloca numa situação de sofrimento, de desespero. Apertamos essas coisas contra nossos corações e terminamos derrotados por algo que tanto protegemos, acreditamos e defendemos.

Para que tudo dê certo em sua vida, é necessário reconhecer, em certos momentos, que nem sempre o que parece salvação vai lhe dar condições de prosseguir. Tenha a coragem e a visão que o urso não teve!

Tire de seu caminho tudo aquilo que faz seu coração arder.

Solte a panela!!

A sua vida só vai pra frente depois que você se desapega das coisas e pessoas que te levam para trás.

Pensem nisso!!!

Desconheço a autoria.

O sexto sentido

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Ipês amarelos

Os cinco sentidos são, a um tempo, seres da “caixa de ferramentas” e seres da “caixa de brinquedos”. Como ferramentas, os sentidos nos fazem conhecer o mundo. A cor vermelha no semáforo diz que é preciso parar o carro. O som da buzina chama a minha atenção para um carro que se aproxima. O cheiro estranho na cozinha me adverte de que o gás está aberto. Como brinquedos, os cinco sentidos me informam que o mundo está cheio de beleza. Eles são órgãos sexuais: com eles fazemos amor com o mundo. Dão-nos prazer e alegria!

Os cinco sentidos, para realizarem suas funções de poder e prazer, exigem a presença do objeto a ser conhecido ou a ser amado. Para sentir a beleza de um ipê florido é preciso que haja ipês floridos – como agora. Em julho os ipês rosa, em agosto os ipês amarelos, em setembro os ipês brancos. Já até sugeri que um músico compusesse uma sinfonia em três movimentos dedicada aos ipês.

Para se sentir a beleza triste do canto de um sabiá é preciso que haja um sabiá cantando. Para se sentir o perfume de um jasmim é preciso que haja um jasmim florido. Para se sentir o gosto bom de uma laranja é preciso que haja uma laranja. E para se sentir a delícia de um beijo é preciso que haja uma boca que me beije! Os cinco sentidos só fazem amor com coisas existentes, no presente. Eles vivem no “aqui” e no “agora”.

Mas há um sexto sentido dotado de propriedades mágicas, um sentido que nos permite fazer amor com coisas que não existem: esse sentido se chama “pensamento”.

Digo que o pensamento é um sentido mágico porque ele tem o poder de chamar à existência coisas que não existem e de tratar as coisas que existem como se não existissem. E é dele que surge a grandeza dos seres humanos. O pensamento nos dá asas, ele nos transforma em pássaros!

“Mas que realidade têm as coisas que não existem?”, poderão perguntar os filósofos. Aí serão os poetas que darão respostas aos filósofos. “Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?”, perguntava Paul Valery. E Manoel da Barros acrescentaria: “As coisas que não existem são mais bonitas!”. Leonardo da Vinci pensava e desenhava máquinas que não existiam e que só poderiam existir num futuro distante. Mas que alegria aquelas entidades não existentes lhe davam! Por isso ele as guardava como segredos perigosos que, se conhecidos, poderiam levá-lo à Inquisição. Mas o prazer valia o risco!

Beethoven estava completamente surdo. No seu mundo os sons não existiam. Mas do silêncio dos sons que não existiam ele fez surgir, no seu pensamento, a Nona Sinfonia, que canta a alegria da vida.

Faz uns meses resolvi reler o livro “Cem Anos de Solidão”, do Gabriel Garcia Marques. Que amontoado de não-existentes! Invencionices de alguém que trata o existente como se não existisse. Pensei, de brincadeira, que ele deveria estar bêbado quando escreveu o livro, tantos são os absurdos maravilhosos que ele constrói. Uns tolos disseram que aquele livro era uma parábola sobre a América Latina. Ou seja, disseram que o livro falava sobre uma coisa que existia: o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques, depois de passar pelo crivo da hermenêutica, nada mais seria que uma crônica histórica disfarçada. Nada mais longe da verdade.

O livro “Cem Anos de Solidão” só existe no espaço imaginário do que não existe. E, apesar de saber que aquilo que estava escrito era mentira, que nunca acontecera porque era impossível que acontecesse, eu ri, sofri, vivi. Meu corpo fez amor com o inexistente. O que não existe nos faz viver. Não vivemos só de pão. Somos comedores de palavras. E as palavras operam em nós estranhas transformações. Quantas pessoas eu degolei com minha espada de samurai ao ler “Shogun”!

Que extraordinário exercício de alienação é a literatura! Mergulhados num livro, a realidade que nos cerca deixa de existir. Estamos inteiramente no mundo do pensamento. Se Marx estava certo ao afirmar que “o homem é o mundo do homem” então, na literatura, tornamo-nos criaturas dos muitos mundos da fantasia. Tornamo-nos personagens de uma estória inventada, “atores” de teatro.

Todo artista é um fingidor. Todo leitor tem de ser um fingidor. Fingir, brincar de fazer de contas, tratar as coisas que são como se não fossem e as coisas que não são como se fossem! É dessa loucura que surgem as mais belas criações da arte e da ciência.

Por isso eu me daria por feliz se a educação fizesse apenas isso: introduzir os alunos no mundo mágico do pensamento tal como ele acontece na literatura. Quem experimentou a magia do pensamento uma única vez não se esquece jamais!

By Rubem Alves.

Onde você busca o amor?

Posted in Relacionamentos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 02/01/2014 by Joe

Onde você busca o amor

Temos a mania de achar que amor é algo que se busca!

Buscamos o amor nos bares, na internet, nas paradas de ônibus, nos shoppings. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas plateias dos teatros. Ele certamente está por ali, você quase pode sentir seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.

Há quem acredite que o amor é medicamento. Pelo contrário. Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproxima, e caso o faça, vai frustrar sua expectativa, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza, ele não suporta a ideia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de autoestima.

Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: “Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu.” Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem de si mesmas.

O amor, ao contrário do que se pensa, não tem de vir antes de tudo: antes de estabilizar a carreira profissional, antes de fazer amigos, de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir de seu surgimento, tudo o mais dará certo. Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando, na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir, sem máscara e sem fantasia. É esta a condição. É pegar ou largar!

Para quem acha que isso é chantagem, arrisco-me a sair em defesa do amor: ser feliz é uma exigência razoável, e não é tarefa tão complicada. Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem.

Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados. O amor é o prêmio para quem relaxa. “As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”.

By Martha Medeiros.

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