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Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender

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Gostar é tão fácil

Talvez seja tão simples, tolo e natural, que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

Tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva, mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais, de repente se percebeu ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem, rotinizam, descuidam, reclamam, deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo no amor!

Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reinvindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível? Talvez não… Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que, de vez em quando, ele pode trazer. Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre. Recomendam-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando, não se cansar de olhar e olhar, não atrapalhar a convivência com teorizações, adiar sempre, se possível, com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”, arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para quem ama, toda atenção é sempre pouca! Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível. Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos dos nossos sonhos): não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade, não dar certo, depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito), abrir o coração, contar a verdade do tamanho do amor que sente.

Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido)! Seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que instruiu em criança. Sem medo de dizer “eu quero”, “eu gosto”, “eu estou com vontade”…

Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é e nunca deixaram, conseguiu, soube, pode, foi possível ser.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você.

Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

By Arthur da Távola.

A arte de ser feliz

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Na Grécia antiga, quase todas as esculturas eram feitas em bronze ou em mármore.

Os mestres se dividiam segundo suas preferências, mas era tamanho o seu talento que, fosse com pedra, fosse com metal, nunca deixaram de produzir obras-primas de qualidade, habituando o povo grego ao convívio diário com a arte e a beleza.

Os que esculpiam o mármore, contudo, tinham uma superioridade natural sobre todos os demais. Para fazer uma estátua, o artista do bronze construía com sarrafos uma figura humana, com pernas e braços estilizados, e ia “vestindo” esse esqueleto com argila até produzir uma versão acabada da obra que imaginara, de onde então sairia o molde necessário para a fundição definitiva.

Seu trabalho, semelhante ao dos pintores, era acrescentar camada por camada até atingir a forma pretendida – exatamente o inverso, portanto, do caminho seguido pelo artista do mármore, que precisava libertar, lasca após lasca, a forma que estava encerrada dentro da pedra.

Essa mesma ideia foi defendida, muitos séculos depois, por Michelângelo, gênio do Renascimento: “há uma escultura escondida dentro de cada bloco de mármore; para que ela possa vir à luz, o artista só precisa, com paciência e delicadeza, eliminar aquilo que está sobrando”.

“Pois isso que o artista faz com o mármore,” dizia Epicuro, “nós deveríamos fazer com nós mesmos.”

Como essas formas que jazem à espera da mão que as liberte, vivemos encerrados no duro granito das convenções vazias, dos desejos irrealizados e das esperanças enganadoras.

“O sábio deve esculpir sua própria estátua” é um preceito que nunca esteve tão atual quanto agora, neste mundo de puro consumo e aparência. E não se trata de louvar a renúncia e o sacrifício, mas de valorizar, com alegria, aquilo que realmente importa, ou, como disse outro sábio, “não é que eu deva me conformar com pouco, mas sim, se eu não tiver muito, que este pouco me baste”.

Adeptos desse princípio, poetas e filósofos deixaram suas receitas pessoais para uma vida feliz, todas muito parecidas: uma casa cômoda, fresca no verão, aquecida no inverno; a saúde, o bom tempo, a chuva generosa – lá fora; as flores na janela, as frutas da estação, a mesa farta, com sabores simples e sinceros; a mente em paz, o sono tranquilo ao lado de quem se ama; o olhar límpido das crianças; alguns amigos, com alma semelhante à nossa; o sossego, na companhia de muitos livros e de muita música.

Não esperar nada dos poderosos; querer ser o que se é, e não preferir nada mais; não temer o fim, nem desejar que ele chegue; aprender, em suma, a saborear o puro prazer de existir – isso é viver.

By Claudio Moreno.

Comida no prato

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Comida no prato

Daniel Filho é um diretor incansável, sempre disposto a novos desafios, mesmo já tendo conquistado seu lugar de honra entre os maiores nomes do cinema e da tevê brasileira. Quando ele tinha 72 anos e filmava o longa-metragem sobre Chico Xavier, alguém perguntou por que ele não parava de trabalhar. Ele respondeu: Minha mãe me ensinou a nunca deixar comida no prato. E tem comida no prato.

Filosofia do dia a dia. Está explicada a dificuldade que muitos sentem ao se aposentar. Ainda tem comida no prato. É uma sensação comum também a todos os que são sutilmente convidados a saírem de cena, tendo suas solicitações de emprego negadas ou deixando de serem chamados para participar de reuniões familiares e sociais. Como assim, se ainda tem comida no prato?

Mais do que comida no prato, ainda existe fome.

O ser humano aceita a ideia da morte (real ou figurada) apenas quando não se reconhece mais como um faminto, quando o corpo cansa, a mente falha e a alma pede pra sair. Quando não há mais vontades, desejos, planos. Quando não vê mais necessidade de alimentar-se do que a vida oferece – música, cinema, amigos, natureza, sexo. Quando não há mais um sonho para renovar a energia, um projeto passível de realização, nenhuma esperança de que amanhã tudo possa mudar. Quando a sensação for de completo enfado. Quando não houver mais comida no prato.

Será que esse dia chega, mesmo?

Às vezes me consola pensar que sim, que chegará o dia em que estarei esgotada de tantas emoções vividas, de tanta agitação em volta, e a ideia de descansar em paz não será tão aterrorizante. Trabalho feito, missão cumprida, uma vida aproveitada até a rapa – o que mais se pode querer? A comida some do prato e levantamos da mesa sem a sensação de estarmos nos antecipando. É um plano de retirada maduro e consciente.

Porém, converso com pessoas que estão na chamada terceira idade e elas me dizem: não mesmo! Não é assim. “Quero mais”, dizem todas elas, mesmo com artrite, catarata, andando de bengala. “Quero mais.” Alcançam o seu prato para o chefe da cozinha e exigem uma porção adicional, e mais uma, e outra, e de novo. Quem ousará acusá-las de fominhas?

Para quem encara o fato de ter nascido como um privilégio, para quem não permite que suas potencialidades, mesmo reduzidas, sejam vencidas pelo desânimo, para quem domina a arte de temperar o convívio com as pessoas que ama nunca chegará o dia de declarar-se satisfeito. Aos 79, aos 84, aos 91, aos 98: enquanto a vida parecer suculenta, ninguém há de cruzar os talheres.

By Martha Medeiros.

Vida é movimento

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 12/10/2014 by Joe

Vida é movimento

Viver é uma oportunidade única!

Uma jornada individual que se reinicia todos os dias, repleta de possibilidades e escolhas.

O bom aprendiz caminha atento e agradece ao acordar a cada manhã; enxerga a beleza que se disfarça na simplicidade onde flui a paz; entende que os resultados de hoje foram as opções de ontem; aprende a se refazer nas pequenas conquistas; aprecia o hoje antes do incerto amanhã, porque sabe que não é o tempo que passa, mas nós que passamos…

Vida é movimento e saber viver é uma arte!

Há uma longa distância entre sentir-se vivo e apenas existir. O mundo interior dá sinais de alerta, mas a rotina exterior o contesta. Seguimos na confusão da vida sem notar quando começamos a nos perder de nós mesmos, até que venha a saudade num dia qualquer, para nos lembrar de como éramos.

Assim, começa para muitos a busca íntima do resgate pessoal. Para manter o rumo durante o percurso não basta determinação: tem que ter coragem, saber arriscar e ousar.

Pedras atrapalham, mas também nos ensinam porque surgiram; nem sempre se pode removê-las, mas contorná-las é possível desde que os olhos se mantenham no horizonte, onde estão as metas, sonhos e ideais.

Recomeçar sempre que for preciso é permitir-se uma nova chance. Datas não servem para marcar o início, apenas para protelar. O melhor momento para o que deve ser feito é – e sempre será – “agora”. Quem espera não realiza, apenas se deixa levar!

Aproveite seu caminho a cada passo, sinta-se livre em si mesmo, redescubra o prazer e a leveza em simplesmente ser. Cultive a paz no espírito e relacione-se com seu Criador, porque Ele acredita em você… enquanto o mantém respirando.

No fundo, o que importa é “fazer valer a pena”!

By Mônica Comenale.

O Pintassilgo

Posted in Livros with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 05/10/2014 by Joe

O PintassilgoLivro: O Pintassilgo
By Donna Tartt
Editora Companhia das Letras

Quando Theo Decker, nova-iorquino de treze anos, sobrevive milagrosamente a um acidente que mata sua mãe, o pai o abandona e a família de um amigo rico o adota.

Desnorteado em seu novo e estranho apartamento na Park Avenue, perseguido por colegas de escola com os quais não consegue se comunicar e, acima de tudo, atormentado pela ausência da mãe, Theo se apega a uma lembrança poderosa de seu último momento ao lado dela: uma pequena, misteriosa e cativante pintura que acabará por arrastá-lo ao submundo da arte.

Já adulto, Theo circula com desenvoltura entre os salões nobres e o empoeirado labirinto da loja de antiguidades onde trabalha. Apaixonado, e em transe, ele será lançado ao centro de uma perigosa conspiração.

“O Pintassilgo” é uma hipnotizante história de perda, obsessão e sobrevivência, um triunfo da prosa contemporânea que explora com rara sensibilidade as cruéis maquinações do destino.

Vejam o que dizem os críticos:

“Brilhante… Um romance glorioso, em que todos os talentos narrativos de Tartt convergem numa arrebatadora sinfonia; um livro que nos traz de volta o prazer de se passar a noite inteira lendo.” — Michiko Kakutani, The New York Times.

“Um livro raro, desses que podem aparecer meia dúzia de vezes numa década, um romance literário e inteligente, que fala tanto ao coração quanto à mente. Um extraordinário trabalho de ficção.” – Stephen King, The New York Times Book Review.

“O pintassilgo é um livro sobre a arte em todas as suas formas, e desde o início nos lembra por que gostamos tanto de Donna Tartt: as reviravoltas na trama e a prosa elegante; os personagens que vivem e respiram nas páginas; os cenários perfeitamente capturados. O prazer e a tristeza existem num mesmo fôlego e, ao final, O Pintassilgo conquista nosso coração.” – Vanity Fair.

“Raymond Chandler é uma presença tão grande nessas páginas quanto Dickens ou Dostoiévski. Falar mais sobre a trama seria privar os leitores do imenso prazer de ser arrebatado por O Pintassilgo. Se alguém perdeu o amor pelas histórias, este é o livro que certamente o trará de volta.” – The Guardian.

Romance vencedor do prêmio Pulitzer, com mais de 1 milhão e 500 mil exemplares vendidos só nos Estados Unidos. Mais de 40 semanas na lista de best-sellers do New York Times.

Aproveite e leia um bom trecho do livro aqui:
http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13556.pdf

By Joemir Rosa.

Sair de cena

Posted in Comportamento, Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 30/09/2014 by Joe

Saindo de cena

Uma das coisas que aprendi com pessoas de grande sabedoria é saber sair de cena, deixar o palco, sair da roda, mudar de assunto. Saber o momento exato de fazer com que os holofotes fiquem sobre os outros e não sobre você.

No mundo competitivo em que vivemos, a sua presença “marcante” pode marcar demais. A sua ideia “brilhante” pode brilhar demais. A forma “inovadora” de pensar pode inovar demais. E nem sempre as pessoas estão dispostas a deixar você brilhar impunemente.

É hora de sair de cena. Nem que seja por um tempo! É preciso fazer os outros pensarem que você desistiu. É preciso dar a chance das pessoas acharem que você não quer mais estar no palco.

Mas saber sair de cena é uma arte tão importante quanto saber entrar em cena. Todo ator sabe disso. Assim, é preciso sair de cena com classe. É preciso sair de cena com a discrição de um lorde inglês.

Quando as pessoas sentem-se ameaçadas por você e começam a ter respostas agressivas desproporcionais, talvez seja a hora de sair de cena!

Quando você, sem ter desejado ou planejado, começa a aparecer muito na sua área de atuação ou no seu setor de trabalho, talvez seja a hora de sair de cena por um tempo.

Saber sair de cena é também saber mudar de assunto. Quando as pessoas vêm lhe perguntar ou comentar sobre o seu sucesso, sobre seus bens materiais, seu possível enriquecimento, etc., querendo fazer você falar sobre você – é hora de mudar de assunto. É hora de sair de cena!

Os sábios sabem que você nada ganhará falando de você mesmo para os outros. Nem bem, nem mau. Mude de assunto. Saia de cena. Não caia nessa armadilha. Quando o embate se apresentar com poderosos – e você conhece o poder destrutivo desses poderosos – pense bem antes de entrar no combate.

Talvez você ganhe mais saindo de cena. Deixe a briga de cachorro grande para grandes cães. Saiba sair de cena. Você terá outras oportunidades. Você ganhará outras batalhas com menos estresse, com menores esforços.

É preciso fazer um grande esforço de sabedoria para saber quando sair de cena. É preciso ter uma grande capacidade artística para saber como sair de cena.

Será que temos tido a sabedoria e a arte de sair de cena, deixar o palco, mudar de assunto, na hora certa, no momento exato ?

Pense nisso!

Sem estresse…

A hora de falar vem sempre depois da hora de ouvir!

By Luis Almeida Marins Filho.

Gaiolas e asas

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Gaiolas e asas

Os pensamentos me chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos. Fico feliz porque sei que Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram também atacados por eles. Digo “atacados“ porque eles surgem repentinamente, sem preparo, com a força de um raio. Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar.

Pois ontem, de repente, esse aforismo me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas“…

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

Esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças … E elas, timidamente, pedindo silêncio, tentando fazer as coisas que a burocracia determina que sejam feitas, dar o programa, fazer avaliações …

Ouvindo os seus relatos vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra – e as domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a força dos tigres… Sentir alegria ao sair de casa para ir para a escola? Ter prazer em ensinar? Amar os alunos? O seu sonho é livrar-se de tudo aquilo. Mas não podem. A porta de ferro que fecha os tigres é a mesma porta que as fecha junto com os tigres.

Nos tempos da minha infância eu tinha um prazer cruel: pegar passarinhos. Fazia minhas próprias arapucas, punha fubá dentro e ficava escondido, esperando… O pobre passarinho vinha, atraído pelo fubá. Ia comendo, entrava na arapuca, pisava no poleiro – e era uma vez um passarinho voante. Cuidadosamente, eu enfiava a mão na arapuca, pegava o passarinho e o colocava dentro de uma gaiola. O pássaro se lançava furiosamente contra os arames, batia as asas, crispava as garras, enfiava o bico entre nos vãos, na inútil tentativa de ganhar de novo o espaço, ficava ensanguentado… sempre me lembro com tristeza da minha crueldade infantil.

Violento, o pássaro que luta contra os arames da gaiola? Ou violenta será a imóvel gaiola que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas?

Me falaram sobre a necessidade das escolas dizendo que os adolescentes de periferia precisam ser educados para melhorarem de vida. De acordo. É preciso que os adolescentes tenham uma boa educação. Uma boa educação abre os caminhos de uma vida melhor. Mas, eu pergunto: nossas escolas estão dando uma boa educação? E o que é uma boa educação?

O que os burocratas pressupõe sem pensar é que os alunos ganham uma boa educação se aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E para se testar a qualidade da educação eles criam mecanismos, provas, avaliações, acrescidos dos novos exames elaborados pelo Ministério da Educação.

Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais se identifica com o ideal de uma boa educação? Você sabe o que é “dígrafo“? E os usos da partícula “se“? E o nome das enzimas que entram na digestão? E o sujeito da frase “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante“? Qual a utilidade da palavra “mesóclise“?

Pobres professoras, também engaioladas… São obrigadas a ensinar o que os programas mandam, sabendo que é inútil. Isso é hábito velho das escolas. Bruno Bettelheim relata sua experiência com as escolas:

“Fui forçado (!) a estudar o que os professores haviam decidido que eu deveria aprender – e aprender à sua maneira…“

O sujeito da educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas“, aprender “brinquedos“.

“Ferramentas“ são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“ são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo este texto estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade.

Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.

Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescerem…

Assim todo professor, ao ensinar, teria que perguntar:

“Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo? Se não for é melhor deixar de lado”.

As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o voo dos seus alunos. Há esperança…

By Rubem Alves.

Precisamos voar juntos!

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 05/09/2014 by Joe

Precisamos voar juntos

Para cada mulher forte cansada de ter que aparentar fragilidade, há um homem frágil cansado de ter que parecer forte.

Para cada mulher cansada de ter que agir como uma tonta, há um homem desesperado por ter que aparentar saber de tudo.

Para cada mulher cansada de ser qualificada como ‘fêmea emocional’, há um homem a quem se negou o direito de chorar e de ser ‘delicado’.

Para cada mulher catalogada como pouco feminina quando em competição, há um homem obrigado a competir para que não se duvide da sua masculinidade.

Para cada mulher cansada de ser um objeto sexual, há um homem preocupado com a sua virilidade.

Para cada mulher que não tem acesso ao trabalho ou a um salário satisfatório, há um homem obrigado a assumir a responsabilidade econômica de outro ser humano.

Para cada mulher que desconhece os mecanismos do automóvel, há um homem que não aprendeu os segredos da arte de cozinhar.

Para cada mulher que dá um passo para a sua própria libertação, há um homem que redescobre o caminho para a liberdade.

A humanidade tem duas asas: uma é a Mulher, a outra é o Homem.

Até que as duas asas estejam igualmente desenvolvidas, a humanidade não poderá voar.

Precisamos voar! Necessitamos de uma nova humanidade!

Desconheço a autoria.

O Mestre Samurai

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 25/08/2014 by Joe

O Velho Samurai

Há muito tempo, no Japão antigo, viveu um velho Samurai que morava em um pequeno vilarejo. Seu nome era Hatori Hanzo. Foi um grande general do imperador e lutou inúmeras batalhas e guerras.

Já velho, decidiu se aposentar, já que não havia mais guerras e seu país estava em paz. No vilarejo onde vivia, ele ensinava a arte de combate aos jovens e era respeitado e admirado por todos.

Certo dia, chegou ao vilarejo um samurai mais jovem, procurando por Hanzo, sabendo que ele era um lendário samurai. Assim que o encontrou, lançou um desafio:

– “Então você é o lendário Hatori Hanzo! Vejo que não passa de um velho, mas mesmo assim, venho aqui desafiá-lo”.

O velho samurai aceitou o desafio e, ao amanhecer do dia seguinte, foi ao centro do vilarejo onde estava seu desafiante que, arrogantemente, xingou, blasfemou, cuspiu e ofendeu Hanzo.

O velho apenas ficou imóvel, sem dizer qualquer coisa e sem se alterar com as ofensas que o seu desafiante atirava em sua direção…

Logo entardeceu e todos estavam espantados pois o lendário Hatori Hanzo não reagia.

– “Estaria ele com medo?!”, todos se perguntavam.

Depois de horas, frustrado, o jovem e arrogante samurai deu as costas ao velho Hanzo, e foi embora se vangloriando de uma vitória que não existia.

Um dos jovens alunos de Hanzo se aproximou e perguntou:

– “Mestre, o senhor poderia tê-lo vencido com apenas um golpe e ter calado aquele verme! Por que ficou calado, imóvel, sem revidar?”

Com um olhar paciente e um sorriso no rosto, Hatori Hanzo respondeu ao seu aluno:

– “Se alguém lhe oferecer um presente e você não aceitar, a quem pertence o presente?”

O aluno respondeu:

– “Ele pertencerá a quem me ofereceu”.

– “Exato” – respondeu Hanzo – “O mesmo acontece com alguém que te insulta, blasfema, xinga… se você não aceitar, tudo isso retorna a quem lhe ofereceu”.

“A honra não está em vencer seu oponente com apenas um golpe, mas sim em ensinar-lhe a disciplina e o respeito através de superioridade moral. A maior batalha é aquela que não acontece”.

Desconheço a autoria.

Ricos e pobres

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Ricos e pobres

Anos atrás escrevi sobre um apresentador de televisão que ganhava R$ 1 milhão por mês e que, em uma entrevista, vangloriava-se de nunca ter lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como um exemplo de pessoa pobre.

Agora leio uma declaração do publicitário Washington Olivetto em que ele fala sobre isso de forma exemplar. Ele diz que há no mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura), os pobres-ricos (que não têm dinheiro, mas são agitadores intelectuais, possuem antenas que captam boas e novas ideias) e os ricos-pobres, que são a pior espécie: têm dinheiro, mas não gastam um único tostão da sua fortuna em livrarias, shows ou galerias de arte; apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.

Os ricos-ricos movimentam a economia gastando em cultura, educação e viagens, e com isso propagam o que conhecem e divulgam bons hábitos. Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco, mas são criativos, abertos e efervescentes. A riqueza destes dois grupos está na qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na inteligência que cultivam e passam adiante. São estes dois grupos que fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois grupos menos representativos da sociedade brasileira.

O que temos aqui, em maior número, é um grupo que Olivetto nem mencionou, os pobres-pobres, que devido ao baixíssimo poder aquisitivo e quase inexistente acesso à cultura, infelizmente não ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à margem, feito zumbis.

E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam ajudar a fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de civilizado, mas, que nada: eles só propagam atraso, só propagam arrogância, só propagam sua pobreza de espírito. Exemplos? Vou começar por uma cena que testemunhei semana passada.

Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi preto, do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de si, não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o asfalto fosse uma lixeira pública. O Audi é só um disfarce que ele pode comprar, pois, no fundo, é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria existencial.

Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance para ir além do óbvio. Só têm dinheiro. Os ricos-pobres pedem, no restaurante, o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém; vestem-se de Prada e sentam com as pernas abertas; viajam para Paris e não sabem quem foi Degas ou Monet; possuem TVs de LCD em todos os aposentos da casa e só assistem programas de auditório; mandam o filho para Disney e nunca foram a uma reunião da escola. E, claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela.

Uma esmolinha para eles, pelo amor de Deus!!!

O Brasil tem saída se deixar de ser preconceituoso com os ricos-ricos (que ganham dinheiro honestamente e sabem que ele serve não só para proporcionar conforto, mas também para promover o conhecimento) e valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros indivíduos que fazem malabarismo para sobreviver, mas, por outro lado, são interessados em teatro, música, cinema, literatura, moda, esportes, gastronomia, tecnologia e, principalmente, interessados nos outros seres humanos, fazendo da sua cidade um lugar desafiante e empolgante.

É este o luxo que precisamos, porque luxo é ter recursos para melhorar o mundo que nos coube. E recurso não é só dinheiro: é atitude e informação.

By Martha Medeiros.

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