Arquivo para Alfabetização

Somos todos responsáveis

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 18/04/2014 by Joe

Somos todos responsáveis

Passava do meio-dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua, um sol escaldante convidava a todos para um refresco.

Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou:

– “Pai, to com fome!”

O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho e pede mais um pouco de paciência…

– “Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu to com muita fome, pai!”

Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai, Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na padaria à sua frente. Ao entrar, dirige-se a um homem no balcão:

– “Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com muita fome. Não tenho nenhum tostão, pois saí cedo para buscar um emprego e nada encontrei. Eu lhe peço que, em nome de Jesus, me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino… em troca, posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o senhor precisar”.

Amaro, o dono da padaria, estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho. Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro que, imediatamente, pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso PF – prato feito – com arroz, feijão, bife e ovo. Para Ricardinho era um sonho comer após tantas horas na rua. Para Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá.

Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada. A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se fosse um manjar dos deuses, e a lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de dois anos de desemprego, humilhações e necessidades.

Amaro se aproxima de Agenor e, percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:

– “O, Maria! Sua comida deve estar muito ruim! Olha o meu amigo aqui… está até chorando de tristeza desse bife… será que é sola de sapato?”

Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer.

Amaro pede, então, que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam sobre trabalho. Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome já estava nas costas…

Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório. Agenor conta, então, que há mais de dois anos havia perdido o emprego e, desde então, sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos “bicos aqui e acolá”, mas que há dois meses não recebia nada.

Amaro resolve, então, contratar Agenor para serviços gerais na padaria e, penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos uns quinze dias. Agenor, com lágrimas nos olhos, agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho.

Ao chegar em casa com toda aquela “fartura”, Agenor é um novo homem – sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso. Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta… era toda uma esperança de dias melhores!

No dia seguinte, às 5 da manhã, Agenor estava na porta da padaria, ansioso para iniciar seu novo trabalho. Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem ele sabia por que estava ajudando. Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias diferentes; mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquele homem.

E ele não se enganou – durante um ano, Agenor foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres.

Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para alfabetização de adultos um quarteirão acima da padaria, e que ele fazia questão que Agenor fosse estudar.

Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta…

Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula.

Vamos encontrar o Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para seu cliente, e depois outro, e depois mais outro. Ao meio dia, ele desce para um café na padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o “antigo funcionário” tão elegante em seu primeiro terno.

Mais dez anos se passam e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida na hora do almoço. Mais de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora nutricionista Ricardo Baptista.

Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um. Contam que, aos 82 anos, os dois faleceram no mesmo dia, quase que na mesma hora, morrendo placidamente, com um sorriso de dever cumprido.

Ricardinho, o filho, mandou gravar na frente da “Casa do Caminho”, que seu pai fundou com tanto carinho, uma placa que dizia:

– “Um dia, eu tive fome e você me alimentou. Um dia, eu estava sem esperanças e você me deu um caminho. Um dia, acordei sozinho e você me deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em seu coração e alimente sua alma! E que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar”.

Não se esqueçam: somos todos responsáveis por um mundo melhor! Todos nós podemos fazer uma parte que irá ajudar o todo!

E você, quando você começa?

Desconheço a autoria.

Dia das Crianças. O que há para comemorar?

Posted in Atualidade with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 12/10/2011 by Joe

A Declaração Universal dos Direitos da Criança é um tratado adotado pela Assembleia das Nações Unidas, assinado em 20 de Novembro de 1959 e ratificado pelo Brasil, que definiu as bases para proteção e integridade das crianças em todo o mundo.

Essa data é também a data oficial, reconhecida pela ONU, como o Dia Mundial da Criança. Porém, cada país acabou adotando uma data diferente para comemorar o dia das crianças, geralmente associando com algum outro fato comemorativo, comercial ou religioso.

No Brasil, na década de 1920, o deputado federal Galdino do Valle Filho teve a ideia de “criar” o dia das crianças. Os deputados aprovaram e o dia 12 de outubro foi oficializado como Dia da Criança pelo presidente Arthur Bernardes, por meio do decreto nº 4867, de 5 de novembro de 1924.

Mas somente em 1960, quando a Fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção conjunta com a Johnson & Johnson para lançar a “Semana do Bebê Robusto” e aumentar suas vendas, é que a data passou a ser comemorada. A estratégia deu certo, pois desde então o Dia das Crianças é comemorado com muitos presentes.

Porém, o que é preciso destacar aqui é o fato de que, apesar de haver uma Declaração Universal dos Direitos da Criança, e a nossa constituição, em seu capítulo VII – Da família, da criança, do adolescente e do idoso, determinar que:

Artigo 227
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

o que vemos, na prática, é um total descaso com as nossas crianças, isso para não nos alongarmos em outras áreas (idosos, deficientes físicos, etc).

A imprensa tem noticiado e mostrado, regularmente, o estado precário de atendimento à saúde pública, desde as maternidades até pronto socorros públicos. Faltam médicos, faltam leitos, temos hospitais lotados e mal aparelhados.

As escolas ainda são as mesmas de séculos atrás, com as mesmas estruturas físicas (ou a falta delas), recebendo parcos recursos para aparelhamento tecnológico, com professores mal pagos, despreparados e, mesmo assim ainda são verdadeiros heróis sem reconhecimento que fazem milagres para alfabetizar e dar alguma esperança para as nossas crianças. E estou falando aqui das escolas em uma grande cidade como São Paulo. Se sairmos para o interior e outros estados mais pobres do nordeste, a coisa é muito mais sofrível. São escolas sem acabamento, muitas delas sem cadeiras suficientes para todos, alunos sentados no chão, com banheiros interditados, sem merenda escolar, muitas delas a quilômetros de distância para que todos tenham acesso, sem transporte público seguro e decente, etc.

Até aí é fácil entender o porquê do não interesse em investir na educação das nossas crianças: povo educado é povo que pensa e povo que pensa é perigoso para o sistema!

Faço uma reflexão aqui, muito preocupante: o nível escolar vem caindo ano após ano, apesar de algumas pesquisas mascaradas mostrarem que os nossos alunos estão cada vez melhores. Hoje o aluno vai até a quinta série, mesmo que não tenha sido alfabetizado. As redações nos vestibulares mostram cada vez mais o quanto nossos jovens não sabem escrever e não conseguem concatenar ideias e desenvolver um tema!

A pergunta que fica é: como serão nossos futuros engenheiros, médicos, advogados, pensadores, filósofos (se é que os teremos!)?

A Declaração Universal dos Direitos da Criança ainda reza que “toda criança tem direito à saúde, alimentação, habitação, recreação e assistência médica adequadas e à mãe devem ser proporcionados cuidados e proteção especiais, incluindo cuidados médicos antes e depois do parto”. Há necessidade de se comentar alguma coisa mais neste ítem? Quem le jornal ou asssite alguns jornais televisivos pode concluir o quanto a realidade passa longe desses princípios!

Em um outro ítem, a Declaração Universal diz que “toda criança gozará proteção contra quaisquer formas de negligência, abandono, crueldade e exploração. Não deve trabalhar quando isto atrapalhar a sua educação, o seu desenvolvimento e a sua saúde mental ou moral”.

Neste princípio, a realidade é mais chocante ainda! Basta uma saída pelos grandes centros para vermos crianças abandonadas, pedindo esmolas, lavando parabrisas e tentando fazer alguma coisa nos cruzamentos de grandes avenidas, muitas delas drogadas!

Reportagens têm, constantemente, denunciado a exploração de trabalho infantil, mostrando crianças trabalhando em fornos para queima de carvão, em trabalhos agrícolas e outras atividades perigosas para a saúde física e mental delas!

Se continuarmos escrevendo, este post se tornaria imenso, mostrando o quanto nossas crianças estão jogadas à própria sorte, sem proteção da família e o estado. Apesar de algumas medidas governamentais no sentido de tentar proporcionar saúde, alimentação, educação e segurança, é muito pouco o que se tem feito em nosso país. E isso vem de longa data, não é de governos recentes apenas.

Assim, neste Dia da Criança, deixo aqui esta reflexão e preocupação em relação às nossas crianças. Pouco tem sido feito para garantirmos o futuro desta nação, com um povo cada vez mais alienado, sem consciência política, sem atitude para promover mudanças ….

Assim, o que há para se comemorar? Enquanto todas as nossas crianças não forem atendidas em todas as necessidades promovidas pela Declaração Universal dos Direitos da Criança, não vejo muita razão em comemorar. A não ser pelo lado comercial da data, que deve ser muito boa para fabricantes e comerciantes de brinquedos.

Até quando, Brasil?

Para quem tiver curiosidade em conhecer a íntegra da Declaração Universal dos Direitos da Criança, acesse este link:

http://www.redeandibrasil.org.br/eca/biblioteca/legislacao/declaracao-universal-dos-direitos-da-crianca/

By Joemir Rosa.

%d blogueiros gostam disto: