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Somos o que amamos

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 16/03/2015 by Joe

Somos o que amamos

“Somos o que amamos” é uma expressão que está incluída na fraseologia de Santo Agostinho. Uma frase lapidar e de que mais gosto. Uma frase que traduz de maneira ímpar a experiência mais pura e cristalina do que é o amor.

O amor se identifica com o cotidiano e se estende para toda a eternidade. Uma leveza infinita que habita em nossos corações. Uma alegria suave que nos atravessa o corpo.

Por que não dizer que o amor é uma realidade maior que nos arranca de nós mesmos? E, com isso, fazemo-nos dom para aqueles que amamos.

Quando aprendemos que “somos o que amamos”, descobrimos que, por tantos e quantos caminhos andarmos, estaremos sempre na companhia da pessoa amada. Nosso corpo se transforma no corpo dela. Nossos sonhos são extensão dos sonhos dela. Nossos desejos confundem-se com os dela.

Alguém disse:

“Amar é dizer a alguém: tu não morrerás!”

Fantasia, imaginação, afetividade, inteligência prendem-nos ao processo de amar e de nos transformar na pessoa amada. Nosso ser fica cativo do amor.

Lendo Rumi, um místico muçulmano, meu coração ficou acelerado com suas belas palavras:

“Teu amor chegou ao meu coração e partiu feliz. Depois retornou e se envolveu com o hábito do amor, mas retirou-se novamente. Timidamente, eu lhe disse: permanece dois ou três dias! Então veio, assentou-se junto a mim e esqueceu-se de partir”.

Fico pensando que o amor nos leva a viver uma pontinha de egoísmo. Afinal, desejamos a eternidade para a pessoa que amamos e para nós mesmos, que estamos amando.

Diante do amor renunciamos a interrupção, o cansaço, o término e o passageiro e abraçamos a eternidade como projeto único e suficiente de vida.

“Somos o que amamos” revela que a força do amor reside no desejo de ajudar no crescimento do outro, fazendo-o melhorar e superar seus limites. O amor não teme enfrentar o lado obscuro do outro e não desanima. Ao contrário, fala quando acredita na força de uma conversa brotada do amor.

O amor é capaz de gerar um clima de empatia no qual os gestos e as palavras, nascidos do conhecimento do outro, penetram suave como a chuva fina e leve.

Desconheço a autoria.

Ainda o lado B

Posted in Reflexão with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 12/02/2014 by Joe

Lado B

Ainda a respeito do post “Ter vida secreta é necessidade”, de ontem, recebi um comentário da minha grande amiga, Márcia B., o qual resolvi transformar em um post sobre o assunto, pela lucidez e visão de sua análise e maior abrangência que o próprio texto original ofereceu.

“Mais um post polêmico e que, com certeza, num comentário, não é possível abranger tudo o que ele provoca. E até por isso penso que o próprio texto se limitou a um enfoque da questão e nem sei se é o mais significativo. Nele, os casos apresentados denotam problemas emocionais/mentais. Há pessoas que têm estrutura pra viver, outras não, seja uma vida “simples”, seja uma vida “dupla”.

Mas vamos ao que me veio em mente ao lê-lo. Somos seres multifacetados. Há diversidade interior tanto ou mais que a física. Assim, dependendo da situação, da interação com o outro, do lugar, aflora esta ou aquela faceta. Isso não significa, necessariamente, várias personalidades. Há uma essência, uma personalidade, mas vários comportamentos, digamos assim, possíveis. Isso é natural, nato.

Todavia, somos “moldados” na unicidade, num padrão de comportamento, de “ser”, especialmente por vivermos em sociedade, sendo necessário seguir regras. Sufoca-se tudo o mais que, em algum lugar, continua existindo. Em algum momento, seja por qual motivo for, as outras facetas querem vir à tona: um sentir “diferente”, uma postura “diferente” e, então, freia-se. Surgem as dúvidas, os conflitos, as crises.

Se está numa relação, e não há a intimidade da conversa, mais grave se torna, porque não é só a pessoa e seus grilos, há o outro que não entende nem entenderá uma “mudança” de comportamento, uma “revelação”. O que é mais “fácil”? A fuga. Criar um ou mais personagens que permitam dar vazão a tudo que foi reprimido. Mas de uma forma dividida: no dia-a-dia sou assim, à noite sou assado, em casa sou assim, perto dos outros, assado.

Ok, fomos moldados dessa forma! Mas possuímos raciocínio e força para nos libertarmos, seja sozinhos, seja com auxílio. E outra, isso não acontece somente no aspecto sexual. Há quem tenha vergonha, por exemplo, de deixar transparecer a faceta criança, a afetividade, o encantamento, a emoção, o pular, o rodopiar de alegria, porque isso não combina com ser adulto e uma pessoa responsável e madura. Padrão. Assim como, dependendo de nosso estado de espírito, ouvimos esse ou aquele tipo de música, ou mesmo ao ouvir uma música faz modificar nosso humor, variamos nosso comportamento conforme o momento, e isso é natural.

Outro ponto: há uma frase de Mark Twain que diz, “Todo mundo é uma lua, com um lado oculto que nunca mostra para ninguém”. Temos nossa vida privada, reservada. Não preciso dizer a todos com quem e como me relaciono, ou como me divirto, ou o saldo da minha conta. Não é preciso haver um segredo inconfessável, mas há coisas que somente a nós diz respeito, temos essa liberdade em nos expor ou não. Não sei se é mérito dizer que a própria vida é um livro aberto, até porque somente cada um é que sabe, na verdade, o quão aberto é.

Para encerrar: é preciso a consciência da vastidão que somos, das inúmeras possibilidades, dos infinitos sonhos e viver e conviver bem com nossas facetas, de modo adequado, com espontaneidade, autenticidade e responsabilidade. É preciso ser livre naquilo que podemos ser. E assim, maduros e felizes, certamente não precisaremos fugir de nós mesmos”.

By Márcia B.

O garoto das meias vermelhas

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 20/09/2010 by Joe

Ele era um garoto triste. Procurava estudar muito. Na hora do recreio ficava afastado dos colegas, como se estivesse procurando alguma coisa. Todos os outros meninos zombavam dele, por causa das suas meias vermelhas.

Um dia, o cercaram e lhe perguntaram porque ele só usava meias vermelhas. Ele falou, com simplicidade:

– “No ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo. Colocou em mim essas meias vermelhas. Eu reclamei. Comecei a chorar. Disse que todo mundo iria rir de mim, por causa das meias vermelhas. Mas ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas. Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e, quando visse um menino de meias vermelhas, saberia que era o filho dela.”

– “Ora”, disseram os garotos. “mas você não está num circo. Por que não tira essas meias vermelhas e as joga fora?”

O menino das meias vermelhas olhou para os próprios pés, talvez para disfarçar o olhar lacrimoso e explicou:

– “É que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora. Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas. Quando ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu esteja, ela vai me encontrar e me levará com ela.”

Existem muitas almas, na Terra, solitárias e tristes, chorando um amor que se foi. Colocam meias vermelhas, na expectativa de que alguém as identifique em meio à multidão, e as leve para a intimidade do próprio coração. São crianças cujos pais as deixaram, um dia, em braços alheios, enquanto eles mesmos se lançaram à procura de tesouros, nem sempre reais.

Lesadas em sua afetividade, vivem cada dia à espera do retorno dos amores, ou de alguém que lhes chegue e as aconchegue. Têm sede de carinho e fome de afeto. Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura.

São idosos recolhidos a lares e asilos, às dezenas. Ficam sentados em suas cadeiras, tomando sol, as pernas estendidas, aguardando que alguém identifique as meias vermelhas. Aguardam gestos de carinho, atenções pequenas. Marcam no calendário, para não se perderem, a data da próxima visita, do aniversário, da festividade especial.

Aguardam…

São homens e mulheres que se levantam todos os dias, saem de casa, andam pelas ruas, sempre à espera de que alguém que partiu, retorne. Que o filho que tomou o rumo do mundo e não mais escreveu, nem deu notícia alguma, volte ao lar.

São namorados, noivos, esposos que viram o outro sair de casa, um dia, e esperam o retorno.

Almas solitárias. Lesadas na afetividade. Carentes.

Pense nisso!

O amor, sem dúvida, é lei da vida. Ninguém no mundo pode medir a resistência de um coração quando abandonado por outro. E nem pode aquilatar a qualidade das reações que virão daqueles que emurchecem aos poucos, na dor da afeição incompreendida.

Todos devemos respeito uns aos outros. Somos responsáveis pelos que cativamos ou nos confiam seus corações.

Se alguém estiver usando meias vermelhas por nossa causa, pensemos se esse não é o momento de recompor o que se encontra destroçado, trabalhando a terra do nosso coração.

A maior de todas as artes é a arte de viver juntos!

Texto atribuído a Carlos Heitor Cony.

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