Não tente ser feliz!

Não tente ser feliz

Ser feliz está na moda. Com a felicidade pululando em todo canto (mídia e redes sociais, principalmente) caímos num processo autofágico: enfiamos na cabeça que precisamos alcançá-la a todo custo. Assim como obedecer as leis, ser feliz passa a ser um dever.

Mas o que é ser feliz? A resposta depende da lente pela qual se enxerga o mundo. Para Epicuro, a chave de uma vida feliz estaria na ataraxia (tranquilidade da alma) que pode ser alcançada com prazeres moderados, leitura e introspecção. A vida feliz é simples, justa e virtuosa. Assim, a ambição é o grande obstáculo para alcançar a felicidade. Anos mais tarde, Sêneca diria que o ser humano só seria feliz se renunciasse aos padrões de referência de sua sociedade.

Os dois pensadores concordam ao definir que a vida feliz está em dissonância com os moldes da sociedade contemporânea. Hoje, influenciados principalmente pelo senso comum e pelo aparato midiático, nos movemos por arquétipos e projeções: almejamos um corpo escultural, uma quantia razoável de dinheiro, carisma, uma relação amorosa perfeita, além de muitos dos produtos ou serviços que as empresas nos empurram a todo instante. Como os cães que nunca alcançam o coelho na pista de corrida, corremos a vida toda atrás de algo que acreditamos ser a felicidade. Entretanto, como as coisas não transcorrem como no capítulo derradeiro de uma telenovela, emerge a frustração.

Schopenhauer, no século XIX, alertou-nos quanto a isso. Para ele, a felicidade seria apenas uma breve interrupção do sofrimento. Quem procura a felicidade nas coisas do mundo está sempre incompleto. Ora compra uma casa ou um carro (ou trabalha a vida toda para isso), ora vai a festas ou faz viagens, ora procura a “alma gêmea” e, assim, o tempo vai passando e a felicidade nunca dá as caras. Nestes termos, a vida não passa de um pêndulo entre o sofrimento e o tédio.

Modestamente compartilho de modo parcial a concepção de Schopenhauer de que a felicidade plena é um simulacro que massacra o homem. Todavia, não creio que a única saída seja o total desapego ao mundo, como ele afirma. Talvez o que tenhamos que fazer, em vez de corrermos atrás deste fantasma, seja colecionar momentos de alegria. Singelos, modestos, mas que, somados, podem emprestar alguma cor a essa coisa a que costumam chamar de vida.

By Matheus Arcaro.

3 Respostas para “Não tente ser feliz!”

  1. Ana Júlia Says:

    O ser feliz é diferente de ser para ser. Há quem se contente com pouco e há os que ambicionam muito. A sociedade e os média impingem e massacram com modelos perfeitos e o levar ao consumismo desenfreado. Mas eles desempenham o seu papel. O lucro.Quem não tem capacidade e uma personalidade forte e vive do fútil e das aparências tentam ir atrás do que veem e dizem. Pensam que isso é felicidade. Se o vizinho tem uma boa casa e um bom carro, porque é que igualmente não ter?. Pois..e a infelicidade pode surgir aí…quem não tem posses…vê as suas contas a zero e sem possibilidades de as pagar. Lá se foi a felicidade. A felicidade com certeza ninguém alcança em pleno. Há sempre obstáculos que surgem na vida. Mas a felicidade pode ser tanta coisa e simples. Um belo passeio com a família, o conviver com amigos, ler um livro, ir a um cinema..viver o dia a dia o melhor possível e aproveitar a vida…apreciar as coisas que parecem insignificantes e que se bem observadas podem ser tão belas. Excelente post.

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  2. ofelia Says:

    ás vezes ser feliz é um egoísmo….

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  3. […] Por Matheus Arcaro./  Demodelando […]

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