Amor X Desejo
Todos sentem necessidade de amar, e esta necessidade geralmente é satisfeita quando encontramos o objeto de nosso amor e com ele mantemos uma relação frequente e feliz.
Pois bem. Enquanto vamos juntinhos à feira escolher frutas e verduras, enquanto mandamos consertar a infiltração do banheiro e enquanto vemos televisão sentados lado a lado no sofá, o que fazemos com nossa necessidade de desejar?
Lendo Alain de Botton, um escritor inglês, deparei-me com essa questão: amor e desejo podem ser conciliáveis no início de uma relação, mas despedem-se ao longo do convívio. Só por um milagre você vai ouvir seu coração batendo acelerado ao ver seu marido chegando do trabalho, depois de vê-lo fazendo a mesma coisa há cinco, dez, quinze anos.
Ao ouvir a voz dela no telefone, você também não sentirá nenhum friozinho na barriga, ainda mais se o que ela tem para dizer é “não chegue tarde hoje que vamos jantar na mamãe”. Você ama o seu namorado, você ama a sua mulher. Mais que isso: você os tem. Mas a gente só deseja aquilo que não tem. O problema da infidelidade passa por aqui. Muitos acreditam que a pessoa que foi infiel não ama mais seu parceiro: não é verdade. Ama e tem atração física, inclusive, mas não consegue mais desejá-lo, porque já o tem. Fica então aquele vácuo, aquela lacuna, aquela maldita vontade de novamente desejar alguém e ser desejado, o que só é possível entre pessoas que ainda não se conquistaram.
Não é preciso arranjar um amante para resolver o problema. Há recursos outros: flertes virtuais, fantasias eróticas, paqueras inconsequentes. Tem muita gente aí fora a fim de entrar nesse jogo sem se envolver, sem colocar em risco o amor conquistado, porque sabe que a troca não compensa. Amor é jóia rara, o resto é diversão. Mas uma diversão que precisa ter seu espaço, até para salvar o amor do cansaço.
Necessidade de amar X necessidade de desejar. Os conservadores temem reconhecer as diferenças entre uma e outra. Os galinhas agarram-se a essa justificativa. E os moderados tratam de administrar essa arapuca.
By Martha Medeiros.
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This entry was posted on 13/02/2014 at 6:07 and is filed under Relacionamentos with tags Alain de Botton, Amante, Amar, Amor, Arapuca, Atração, Banheiro, Barriga, Cansaço, Conservadores, Convívio, Coração, Desejo, Diversão, Eróticas, Escritor, Espaço, Fantasias, Física, Feira, Flertes, Frio, Frutas, Galinhas, Infidelidade, Infiltração, Jóia, Jogo, Justificativa, Lacuna, Mamãe, Marido, Martha Medeiros, Milagre, Moderados, Mulher, Namorado, Necessidade, Objeto, Paqueras, Parceiro, Pessoa, Recursos, Relação, Risco, Sofá, Telefone, Televisão, Troca, Vácuo, Verduras, Virtuais, Vontade, Voz. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.
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