A viagem
Durante o período de Fevereiro de 1982 até 1997, Paulo Coelho teve uma série de encontros com J., que pertence à Ordem RAM, pequena confraria dedicada a estudar a tradição oral e a linguagem simbólica do mundo.
Desses encontros ficaram uma série de anotações de conversas que tiveram naquele período. Paulo Coelho resolveu transformar alguns textos em diálogos para melhor compreensão. As palavras de J. não são exatamente as que ele usou, embora o conteúdo seja absolutamente fiel ao que Paulo escutou.
O texto a seguir refere-se a um diálogo entre eles quando J. insistia para que Paulo Coelho fizesse o Caminho de Santiago.
“Você diz que fazer o Caminho de Santiago é importante. Para isso, preciso largar tudo por algum tempo: família, emprego, projetos. E não sei se vou encontrar a mesma situação quando voltar.”
“Espero que não encontre!”, respondeu J.
“Então devo arriscar-me a perder tudo que consegui até agora?”
“Perder o que? Um homem só tem sua alma para ser ganha ou perdida. Além da vida, ele não possui nada. Não importam as vidas passadas ou futuras. No momento, você está vivendo esta, e deve fazê-lo com compreensão silenciosa, alegria e entusiasmo. O que você não pode perder é o entusiasmo.”
“Eu tenho uma mulher, que amo.”
(Rindo) “Essa é sempre a desculpa mais comum e a mais tola possível. O amor nunca impediu o homem de seguir seus sonhos. Se ela realmente o ama vai querer o melhor para você. Além do mais, você não tem uma mulher que ama; a mulher não é sua. Sua é a energia do amor, que você dirige para ela. Você pode fazer isso de qualquer lugar.”
“E se eu não tivesse dinheiro para fazer a peregrinação?”
“Viajar não é sempre uma questão de dinheiro, mas de coragem. Você passou grande parte de sua vida correndo o mundo como hippie: que dinheiro tinha, então? Nenhum. Mal dava para pagar a passagem e, mesmo assim, acredito que foram os melhores anos de sua vida – comendo mal, dormindo em estações de trem, incapaz de se comunicar por causa da língua, sendo obrigado a depender dos outros até mesmo para descobrir um abrigo onde passar a noite.
Viajar é sagrado. A humanidade viaja desde a noite dos tempos em busca de caça, de pasto, de climas mais amenos. São raros os homens que conseguem compreender o mundo sem sair de suas cidades. Quando você viaja – e eu não estou falando em turismo, mas na experiência solitária da viagem – quatro coisas importantes acontecem em sua vida:
a) Você está em um lugar diferente. Então, as barreiras protetoras já não existem mais. No começo, isso dá medo, mas em pouco tempo você se acostuma e passa a entender quanta coisa interessante existe além dos muros de seu jardim.
b) Porque a solidão pode ser muito grande e opressora, você está mais aberto a pessoas com quem nunca trocaria uma palavra se estivesse em sua casa – garçons, outros viajantes, empregados de hotel, o passageiro sentado ao seu lado no ônibus.
c) Você passa a depender dos outros para tudo: arranjar um hotel, comprar algo, saber como tomar o próximo trem. Descobre então que nada há de errado em depender dos outros – muito pelo contrário, isso é uma bênção.
d) Você está falando uma língua que não compreende, usando um dinheiro que não sabe o valor, caminhando por ruas que nunca passou antes. Você sabe que o seu eu antigo, com tudo que aprendeu, é absolutamente inútil diante desses novos desafios e começa a descobrir que, enterrado lá no fundo do seu inconsciente, existe alguém muito mais interessante, aventureiro, aberto para o mundo e para experiências novas.
Viajar é a experiência de deixar de ser quem você se esforça para ser e se transformar naquilo que você realmente é!”
By Paulo Coelho.
05/01/2013 às 19:18
Que show esse diálogo. Perfect!!!
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15/01/2014 às 16:44
perfeito! e aqui no brasil tambem a um grupo de magos a ordem de RAM !!! FICA EM CAMPO VERDE MATO GROSSO!
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03/03/2016 às 14:48
muito interessante
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05/08/2019 às 22:15
Bull shit by Paulo Fake Coelho
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