Lealdade ou fidelidade?
Quinta-feira, 17:10 horas, numa sala de Chat:
Ricardo/SP fala reservadamente com Fabiana: “Olá! Podemos teclar?
Fabiana fala reservadamente com Ricardo /SP: Sim …
Ricardo/SP: De onde tecla e idade?
Fabiana: Sou de São Paulo mas moro em João Pessoa atualmente e tenho 26 anos.
Ricardo/SP: Eu sou de SP tbm … Capital …. 32 anos. O que faz em João Pessoa, Fabi?
Fabiana: Meu marido veio transferido para cá e eu vim junto.
Ricardo/SP: Ahhh…. então tbm é casada? rsss
Fabiana: Isso quer dizer que vc tbm é, né? rsss
Ricardo/SP: Sim … o que está fazendo? Está em casa?
Fabiana: Estou, sim … ele só chega lá pelas oito da noite.
Ricardo/SP: Então temos bastante tempo …. rsss
Fabiana: Tempo para que? rsss
Ricardo/SP: Para conversarmos sobre muitas coisas … rsss
Fabiana: rssssss!
Ricardo/SP: Me fala: o que curte nesta sala?
Fabiana: Curto encontrar pessoas interessantes, conversar sobre um monte de coisas ….. e vc?
Ricardo/SP: Eu tbm … e, se possível, marcar um encontro e continuar a conversa na real!
Fabiana: Já se encontrou com muitas pessoas?
Ricardo/SP: Algumas, sim …. e vc? Já saiu com alguém?
Fabiana: Não, nunca! Eu e meu marido nunca sentimos necessidade disso.
Ricardo/SP: Como assim? Vc entra num chat, fala sobre “um monte de coisas” com desconhecidos e mesmo assim é fiel? rsss
Fabiana: Sim … porque tudo que falo aqui eu conto para ele … e ele tbm me conta seus papos virtuais! Depois, curtimos juntos algumas fantasias bem gostosas, relembrando nossas aventuras virtuais. E vc? Conta prá tua esposa suas aventuras virtuais e reais?? E ela? Te conta?
Ricardo/SP: Imagina!!! Ela me mataria! rsss …. não temos esse nível de diálogo que vc e teu marido possuem! Agora me conta: o que você curte fazer? Tem algum fetiche?
Fabiana: Bom …. eu adoro fazer ……”
O diálogo acima é muito mais comum do que se possa imaginar.
Todos os dias, quase 24 horas por dia, casais de todos os tipos se encontram virtualmente em salas de chat para falar sobre vários assuntos, inclusive sexo, em todas as suas variações. É só dar uma passadinha por algumas delas, a qualquer hora do dia ou da noite, que vamos encontrar pessoas de todas as idades, sexos, solteiras ou casadas, falando sobre tudo, mas principalmente … sexo!!!
Mas afinal, nessa história de sexo virtual, a traição realmente existe ou é apenas algo que colocam na sua cabeça?
A pergunta acima traz, em si, uma reflexão sobre características do ser humano que vem sendo discutidas há tempos por psicólogos, analistas, terapeutas e baladeiros em mesas de bar.
Já ouvi muita gente dizendo que traição e infidelidade são características próprias do homem, que ambas fazem parte da natureza masculina. Consequentemente, só podemos deduzir que a mulher é sempre vítima dessa história, certo?
Será? Será que existem culpados ou inocentes nessa história toda? Eu, particularmente, não concordo com os rótulos que, normalmente, são empregados para determinar caminhos que os seres humanos devem tomar, como se tudo fizesse parte de um “Grande Manual de Normas e Condutas” onde as pessoas são “etiquetadas”. São os chamados “moldes”, onde tentam (e geralmente, conseguem!) nos enquadrar!
Será que não viveríamos mais felizes, com menos conflitos, sentimentos de culpa e outros problemas emocionais, sem esse Grande Manual? Foi nos ensinado que, ao homem tudo é permitido e, à mulher, nem tudo! Fomos criados dentro desse molde, onde o machismo é cultivado na cabeça do menino desde cedo, para que ele se torne um “homem”. Desde lá ouvimos os famosos comandos mentais do tipo “homem não chora”, “homem não brinca com boneca”, “homem pode tudo”, etc.
E quem é que nos modela, usando e abusando desse manual de comportamento hereditário? Geralmente as próprias mulheres, na figura de nossas mães, tias e avós!
Então, voltando ao tema deste artigo, existem realmente vítimas ou culpados no que se refere à traição? Será que essas pessoas não colhem, direta ou indiretamente, apenas o resultado do que foi plantado anteriormente?
Desta forma, sugiro aqui uma reflexão mais profunda, especialmente em relação aos moldes com os quais nos acostumamos ao longo da vida.
Vamos analisar esse conceito chamado traição. Eu vejo isso como algo cultural, adquirido, muito mais do que, propriamente, uma característica de homens ou mulheres. Um molde, enfim. Assim como muitos outros que tantos aborrecimentos e sofrimentos nos trazem.
Será que não seria hora das pessoas começarem a pensar em substituir o conceito de “fidelidade” por um outro muito mais sensato? Que tal o conceito de “lealdade”?
Lealdade encerra certas características muito mais simples e convenientes para os relacionamentos. Imagine pessoas que sejam leais umas às outras, que sejam transparentes a ponto de falarem sobre seus mais íntimos sentimentos, emoções, sonhos, fantasias e fetiches!
Sentimentos não podem ser controlados. Não existe um botão on/off no ser humano a ponto dele dizer que ele ama uma pessoa e que não pode se apaixonar por uma outra. Como se controla isso? Alguém sabe??
O amor, a paixão e o tesão são formas de energia que fluem naturalmente entre pessoas e não existe nenhum botão que nos faça desligar esse fluxo. É hipocrisia dizer que amamos fulano (a) e que não vemos mais ninguém na nossa frente!
Até se consegue driblar um pouco as chamadas tentações mas, de novo, isso é hipocrisia pois, lá no fundo, em seu íntimo, as pessoas têm a vontade de experimentar novas sensações e emoções.
Por isso eu defendo o conceito da lealdade, onde tudo deveria ser transparente, ou melhor ainda, em cores, onde as pessoas mostrariam suas verdadeiras nuances. Diálogo é a coisa mais importante entre pessoas que querem um relacionamento honesto, verdadeiro e de qualidade.
No diálogo fictício do início desta matéria, Ricardo e Fabiana nos mostram duas situações bem distintas: por um lado, Ricardo ainda vive dentro no molde tradicional onde traição é algo proibido, que se faz às escondidas, como sendo algo que, se descoberto, irá causar danos terríveis ao relacionamento!
Do outro lado, Fabiana vive um relacionamento saudável e leal. Todas as fantasias vividas individualmente por eles são utilizadas como tempero para o relacionamento. Desta forma, inexistem conflitos ou sentimentos de culpa pelos sentimentos vividos naturalmente.
Muita gente vai me perguntar: então você é a favor da sacanagem total, do vale-tudo numa relação? Notem que eu não disse isso em nenhum momento! Eu apenas disse que as pessoas deveriam ser mais transparentes dentro de uma relação, mais leais umas umas com as outras. Quem é que, mesmo bem casado (a), nunca teve uma fantasia com uma terceira pessoa, ou sentiu tesão por uma outra?
A pergunta que faço é: que mal existe em sentir tesão por alguém ou fantasiar com outras pessoas, mesmo amando o (a) nosso parceiro (a)? Porque as pessoas não podem realizar essas fantasias na vida real sem que isso resulte em conflitos, sentimentos de culpa e, mesmo, o final da relação existente?
A minha visão para todos esses questionamentos é: sim, podemos vivenciá-las de forma leal e verdadeira, sem prejuízo para nossos relacionamentos! Para isso, basta sermos leais com nossos parceiros. Por que não falar sobre nossos sentimentos, desejos e fantasias? Por que não abrir nossos corações e vivenciarmos uma relação de qualidade? Alguém já parou para pensar que uma relação de qualidade é uma relação estável? E não é isso o que todos querem na vida?
É preciso questionar certos moldes impostos e mudar. Quando uma relação não está embasada em moldes pré-estabelecidos, ela tende a ser de qualidade, pois é feita de compartilhamento, uma parceria onde cada elemento é livre, verdadeiro, inteiro. E, desta forma, não tende a ser tediosa porque traz elementos novos e sempre se recicla. E quanto mais existirem trocas, mais enriquecedoras e verdadeiras, mais conhecimento de si e do outro. Os relacionamentos nos moldes tradicionais acabam por despersonalizar os parceiros pois sempre existe aquela regra do ceder, do fazer concessões e até da submissão.
Enfim, o que eu prego é a idéia da parceria, do compartilhamento, da cumplicidade. A união de seres inteiros, seguros de si, de seus valores como indivíduos. Só assim poderá haver uma relação leal e de qualidade.
Agora, me responda você, leitor deste blog: é preferível sermos leais ou continuarmos com a hipocrisia que assola a maioria dos relacionamentos? Lealdade ou fidelidade?
Para finalizar, deixo aqui um pequeno desafio:
Conte para o seu namorado ou namorada, marido ou esposa, pai ou mãe, amigo ou amante, aquele segredo que, se revelado, mais ameaça o seu relacionamento.
Assuma o risco – e conte!
Aliás, por que manter um relacionamento que não suporta um segredinho revelado?
By Joe.
11/04/2011 às 7:58
Bom dia Joe!
Sempre fui a favor da lealdade/verdade e se percebeu nos meus blogs sempre conto sobre mim, meus sonhos, desejos, tesão e falta dele. Sempre a favor das palavras, diálogos, porque o que mais dói é a falta dessa cumplicidade, isso mata o sentimento. A pessoa que está ao meu lado muitas vezes não consegue assimilar/acreditar em tanta sinceridade, mas falo assim mesmo. Chega a ser tragicomico. Percebo que muitas pessoas não gostam de ouvir sobre essa cumplicidade, mas acredito que seja medo mesmo….não sei….vergonha, sei lá. bjs
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