Tempestades
Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direção. Você muda de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Volta a mudar de direção, mas a tempestade te persegue, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer.
Porquê?
Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada a ver contigo. Esta tempestade é você. Algo que está dentro de ti. Por isso, só lhe resta deixar te levar, megulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra.
Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deve imaginar.
E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não se iluda: por mais metafísica e simbólica que seja, vai te rasgar a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa: quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.
By Haruki Murakami, em “Kafka à Beira-Mar”.
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This entry was posted on 09/11/2010 at 14:16 and is filed under Inspiração with tags Areia, Carne, Céu, Dança, Destino, Direção, Lua, Metafísica, Morte, Navalha, Ossos, Sangue, Simbólica, Sol, Tempestade, Violência. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.
09/11/2010 às 15:54
Tempestades sim… tempestades não… vamos ficando mais fortes e sabendo dar soluções sempre!
Estamos com você e é só gritar heim?!
Beijos
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10/11/2010 às 0:03
Olá Joelmir,
Hj li no blog de uma amiga um texto que ela fala justamente de como ajudar a passar a tempestade se deixar despenteiar, que sincronismo seu texto com o que estou vivenciando, deixando a tempestade se acalmar para viver a bonanza.
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