Tempestades

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direção. Você muda de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Volta a mudar de direção, mas a tempestade te persegue, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer.

Porquê?

Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada a ver contigo. Esta tempestade é você. Algo que está dentro de ti. Por isso, só lhe resta deixar te levar, megulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra.

Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deve imaginar.

E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não se iluda: por mais metafísica e simbólica que seja, vai te rasgar a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.

E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa: quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.

By Haruki Murakami, em “Kafka à Beira-Mar”.

2 Respostas para “Tempestades”

  1. Maddá Jorge Says:

    Tempestades sim… tempestades não… vamos ficando mais fortes e sabendo dar soluções sempre!
    Estamos com você e é só gritar heim?!
    Beijos

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  2. Olá Joelmir,

    Hj li no blog de uma amiga um texto que ela fala justamente de como ajudar a passar a tempestade se deixar despenteiar, que sincronismo seu texto com o que estou vivenciando, deixando a tempestade se acalmar para viver a bonanza.

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