Arquivo para julho, 2009

Sinto vergonha de mim

Posted in Atualidade with tags , on 31/07/2009 by Joe

VergonhaSinto vergonha de mim, por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade, e por ver este povo já chamado varonil, enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim, por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o ‘eu’ feliz a qualquer custo, buscando a tal ‘felicidade’ em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos ‘floreios’ para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre ‘contestar’, voltar atrás e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer…

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor, ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo deste mundo!

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa).

By Cleide Canton (*)

Erroneamente atribuído a Ruy Barbosa, este texto foi escrito por Cleide Canton. De Ruy Barbosa é apenas a citação final, colocada entre aspas, no original.

Also sprach Bakunin

Posted in Frases with tags , , , , , , , on 30/07/2009 by Joe

Mikhail Bakunin“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.”

By Mikhail Bakunin (30/05/1814 – 01/07/1876), filósofo anarquista russo do século XIX, defendia que as energias revolucionárias deveriam ser concentradas na destruição das “coisas”, no caso, o Estado, e não das “pessoas”.

A era da insensatez

Posted in Reflexão with tags , , , , , , on 29/07/2009 by Joe

BrasilExistem os olhos, e existe o olhar …

Troque de carro! Troque de tevê! Troque de celular! Mude para nossa operadora, temos os melhores planos! Beba mais cerveja … compre … troque … venha ….. 24 horas por dia, 7 dias por semana!

Os apresentadores do Jornal Nacional e do Fantástico fazem pose de preocupados quando o assunto é aquecimento global e crise ambiental, porém, a mídia televisiva, mais do que qualquer outra, estimula incessantemente o consumismo, e quão pouco faz para conscientizar…

Não estranhe se amanhã, na abertura do Jornal Nacional, anunciarem o velório da coerência, pois vivemos na Era da Insensatez.

“Consumo, logo existo.”

Na sociedade consumista, quem não consome não existe. Triste tempo o nosso …

William Bonner equiparou o telespectador do Jornal Nacional a Homer Simpson – um sujeito preguiçoso, burro, que adora ficar no sofá, assistindo tevê, comendo rosquinhas e bebendo cerveja, e que só dá mancadas na vida.

O mais preocupante, porém, não é o fato de termos como editor-chefe e apresentador do maior telejornal do país alguém que nivela milhões de telespectadores com “Homer Simpson”…

A pergunta que devemos nos fazer é:

– E se William Bonner tiver razão? Como foi que alcançamos tal condição, e a quem interessa que continuemos assim?

No Brasil, segundo o Ibope, as pessoas vêem, em média, cinco horas de tevê Passividadepor dia.

Até quando vamos prolongar nosso passivo imobilismo, nossa paralisante apatia?

O sonho dos atuais diretores televisivos é ter como audiência uma imensa massa acrítica, sem uma real capacidade de análise. Um público que não pensa, que não questiona, que é facilmente manipulado, que compra quando e o que lhe mandam comprar.

Por lei, as emissoras são obrigadas a incluir programas educativos na sua programação. Porém, tais programas são relegados a horários de pouquíssima audiência. Globo Ciência e Globo Ecologia passam, por exemplo, de manhã, quase de madrugada, a partir das 6:30h.

A educação leva a um consumo consciente, diminuindo o faturamento das emissoras. Quanto mais se anular o “sujeito pensante”, maior o lucro imediato…

– Segunda a sexta … TV Globinho, Mais Você, Vídeo Show, Vale a Pena Ver de Novo (será que vale mesmo?), Sessão da Tarde, Malhação, Novela das seis, Jornal local, Novela das sete, Jornal Nacional, Novela das oito (a partir das nove horas!), Tela Quente, Casseta e Planeta, Futebol, Linha Direta, Propagandas … Compre … Beba … Consuma … Exista!!!

E chega mais um domingo, e o que já era ruim consegue a proeza de piorar ainda mais! O que dizer do Domingão do Faustão?

“O ser humano ainda não tinha aprendido a amar o próximo e já tinha inventado a televisão, que ensina a desprezar o distante”. (Millôr Fernandes).

E o que dizer das vídeo-cassetadas do Faustão? Pancadas que ferem, tombos que machucam …

Em maio de 1995 o ator Christopher Reeve sofreu uma queda enquanto andava a cavalo. O acidente o deixou tetraplégico. Pouco tempo depois, em outubro de 2004, veio a falecer aos 52 anos de idade, devido à saúde fragilizada em decorrência da queda. Sua esposa, Dana Reeve, também viria a falecer em seguida, em 2006, aos 44 anos de idade.

Alguns associam o surgimento do câncer que a levou ao sofrimento que vivenciou ao lado do marido. O casal deixou um filho, Will Reeve, de 13 anos de idade.

“Faustão, da próxima vez que resolver zombar dos tombos e da desgraça alheia, lembre-se da sina desta família!”

Esta apresentação será interrompida por alguns minutos. Voltaremos logo após os “Reclames do Plim-Plim”…

Beba com moderação!!!

“Países desenvolvidos vêm estabelecendo políticas restritivas para o anúncio de bebidas alcoólicas, inclusive cerveja, preocupados com a saúde da população em geral e dos jovens em particular. Tais restrições ocorrem pela simples e óbvia valorização da vida”.

“Uma série de estudos demonstra que, no Brasil, os jovens bebem cada vez mais e, ainda por cima, começam mais cedo. É simplesmente risível imaginar que eles teriam mais cautela apenas ouvindo aquela rápida frase de alerta depois do sensualíssimo anúncio com mulheres estupendas!” (Gilberto Dimenstein).

Segundo levantamento realizado pela PUC/RS, os acidentes de trânsito, nas estradas e nas vias urbanas, resultam em mais de 80.000 mortes por ano no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, pelo menos metade destes acidentes estão relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas.

Embriague-se com moderação…

E o que dizer de Pedro Bial, quando se dirige aos participantes do Big Brother chamando-os de “nossos heróis” e “nossos mártires”? (Quão deturpados os conceitos de heroísmo e martírio transmitidos. A que ponto chegamos …)

Escola públicaEscola pública localizada no sertão pernambucano. Não há acabamento nas paredes. Há um ano sem merenda escolar. O banheiro está interditado. Não seria mais sensato qualificar de heróis e mártires os nossos professores?

Eles que, quase sem nenhum reconhecimento, e em condições tão adversas, tentam manter acesa a chama do saber e do conhecimento. Heróis e heroínas são também os pequeninos alunos com seus chinelos gastos, muitas vezes obrigados a percorrer longas distâncias a pé para chegar à sala de aula.

Bial, junte a produção do BBB, e vão assistir ao documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, do diretor João Jardim, que aborda a situação da educação no Brasil (é o mínimo que formadores de opinião deveriam fazer!).

Quem sabe o próximo “reality show” possa mostrar a dura realidade de muitos professores e alunos da rede pública, seja no sertão nordestino, seja nas periferias de qualquer capital. Aí sim teríamos um show de realidade!

Enquanto que em outros países o formato “reality show” vem perdendo espaço, no Brasil continua ocupando o horário nobre, o que prova a competência dos marqueteiros globais. A Rede Globo já comprou os direitos de transmissão do BBB até o ano 2011. Um programa fútil, vazio, totalmente desprovido de qualquer princípio ético, e que instituiu a fofoca em escala nacional.

E o que dizer das festas promovidas pela produção do Big Brother? Que belo exemplo são para os nossos jovens: “Bebam para serem felizes, para promoverem farras sexuais”. Obrigado, Rede Globo!

“Admitir ver o ‘Big Brother Brasil’ significa cada vez mais confessar uma falha de escolaridade, passar recibo de fútil, solitário, imaturo, ‘low class’. Nunca deu status para ninguém acompanhar esse programa. Só queima o filme. Fuja de gente viciada nisso.” (Folha de São Paulo).

Já foi dito que o teatro é a arte do ator, o cinema é a arte do diretor, e a televisão é a arte do patrocinador. A televisão funciona como um intermediário entre a agência de propaganda, que quer vender o seu produto, e a audiência, o telespectador. A tevê só existe por causa do intervalo.

Enquanto professores e escolas se esforçam para formar cidadãos, a televisão fabrica consumidores. A guerra pela audiência, como toda guerra, é covarde e suja. E na guerra pela audiência, como em qualquer guerra, são as crianças as principais vítimas!

“A televisão foi a maior tragédia que aconteceu à humanidade, e não tem comparação com nenhuma guerra.” (Valdemar Setzer, Professor da USP).

Em outubro (2008), mês das crianças, o valor gasto no Brasil em publicidade dirigida ao público infantil foi de aproximadamente R$ 210 milhões. Neste mesmo período, foram investidos no Programa Federal de Desenvolvimento da Educação Infantil (FNDE) cerca de R$ 28 milhões.

A televisão transforma crianças da mais tenra idade em consumidores. Leia a seguir trechos do depoimento de uma jovem mãe, publicado recentemente no jornal Folha de São Paulo:

“Às vezes, chego até a achar que ele está de sacanagem – mas não, aos quatro anos e meio, as crianças ainda não dominam um recurso como o sarcasmo. É que meu filho, quando vê televisão, fica muito atento aos anúncios e, ao final de cada um, declara: “Quero um desses”. Sua afirmação é tranqüila, em tom de voz normal, mas é a inequívoca expressão de uma vontade.”

“Há variações. Quando o objeto em questão é escancaradamente “de menina”, na profusão de rosas e lilases e florzinhas e babados, ele faz o reparo: “Mas se tiver ‘de menino'”.

“Quando isso começou, o pai e eu demos explicações simplificadas sobre orçamento doméstico (“não dá para comprar tudo o que vemos”) e, claro, nos afligimos com o impacto brutal da propaganda sobre a nossa criança.”

“A cada interrupção de seus desenhos, continua a fazer seu catálogo mental, um rol infindável de desejos: o tênis com rodas, armas poderosas de super-heróis inacreditáveis (“mamãe, você sabe que com isso vira Power Ranger de verdade?”), mais tocadores de MP3, celulares (“mamãe, isso é de criança? Se for, eu quero”), videogames e até títulos de previdência privada anunciados como se fossem pirulitos!”

“Não há refúgio: até mesmo nos canais pagos com preocupações ditas educativas, a disputa pela hora em que a criança formula o desejo de ter algo que precisa ser comprado pelos pais é implacável. Por ora, suponho, tenho sorte. Nos ajeitamos lá em casa, mas não sei até quando esse armistício dura.”

Especialistas em comportamento infantil tem constatado mudanças significativas provocadas pela exposição massiva e precoce à publicidade. Segundo constatado, dentre as primeiras palavras pronunciadas, as primeiras intenções de transmitir uma mensagem verbal, já aparece a palavra “compra”…

Pesquisa realizada com crianças de nove anos de idade, de escolas particulares da cidade de São Paulo, revelou que elas trocam, em média, seus aparelhos celulares a cada seis meses, por novos lançamentos. Este consumismo desenfreado, que nos tem conduzido à iminência de um colapso ambiental, é apenas um dos efeitos maléficos da televisão. Bens materiais perderam seus valores intrínsecos, passando a ser vistos como objetos de ostentação. Será que uma criança de nove anos tem necessidade de um aparelho celular?

SorriaDiante da tevê, o telespectador está fisicamente inativo. Dos seus sentidos, trabalham somente a visão e a audição, mas de maneira extremamente parcial. Os olhos, por exemplo, praticamente não se mexem. Os pensamentos estão praticamente inativos: não há tempo para raciocínio consciente e para fazer associações mentais, já que a atividade cognitiva está muito lenta. Isso ficou provado em pesquisas sobre os efeitos neurofisiológicos da tevê.

O eletroencefalograma e a falta de movimento dos olhos de uma pessoa vendo televisão indicam um estado de desatenção, de sonolência, de semi-hipnose. O piscar da imagem, os estímulos visuais exagerados e contínuos, e a passividade física do telespectador, especialmente seu olhar fixo, fazem com que o cenário seja semelhante a uma sessão de hipnose.

Na leitura, é preciso produzir uma intensa atividade interior: num romance, imaginar o ambiente e os personagens; num texto filosófico ou científico, associar constantemente os conceitos descritos.

A tevê, pelo contrário, não exige nenhuma atividade mental – as imagens chegam prontas, não há nada para associar. Não há possibilidade de pensar sobre o que está sendo transmitido, porque as velocidades das mudanças de imagem, de som e de assunto impedem que o telespectador se concentre e acompanhe a transmissão conscientemente. Uma condição similar à da hipnose.

Tudo isso significa que o telespectador está num estado de consciência que tem os animais quando não são atraídos por uma atividade exterior (como caçar, prestar atenção em um possível perigo, procurar alimento, etc.).

“A televisão mata a imaginação e leva ao estado hipnótico.”

“Na tevê não há aprendizado, há condicionamento.” (Valdemar Setzer Professor da USP).

Crianças e TVInfelizmente, a televisão vem ocupando um crescente papel na transmissão dos caminhos da infância. As emissoras e os anunciantes assumiram tal incumbência pensando no seu próprio lucro imediato, e não nas crianças ou no futuro da nação.

Além de condicionar um consumismo desenfreado, estudiosos listam, ainda, dentre as influências maléficas da televisão:

– sobrecarga sensorial, sendo que a tevê hiperestimula o cérebro e faz com que se perca o costume de prestar atenção em atividades que exigem uma concentração maior, tais como ler, jogar xadrez ou assistir às aulas;
– indução a comportamentos violentos;
– desencadeamento de uma sexualidade prematura, artificial e doentia.

Lembre-se de que o exemplo é o mais forte dos ensinamentos. Não podemos restringir o tempo de televisão de nossos filhos sem reduzir o nosso próprio. Além do que, a cultura comercial e consumista é ruim para as crianças, e também para nós adultos: ao protegê-las, poderemos também nos libertar.

– Limite sua própria permanência frente à televisão. Dê um bom exemplo através de sua moderação e discriminação ao assistir programas;
– Torne-se um alfabetizado na mídia, avaliando criticamente a programação e as publicidades veiculadas;
– Não transforme a tevê no ponto central da casa. Evite colocar a tevê no lugar mais importante;
– Ligue a tevê somente quando houver algo específico que você decidiu que vale a pena assistir;
– Evite usar a televisão como se fosse uma babá para seus filhos.

Maria Teresa Rocco, professora da Faculdade de Educação da USP e estudiosa da televisão há mais de 20 anos, aconselha uma exposição diária de, no máximo, 45 minutos. Se atentarmos para o fato de que a criança brasileira passa em média cinco horas por dia em frente à tevê (Ibope), quanta influência da mídia ela sofre?

Descontos de arrepiar! É para zerar! Não deixe passar! Venha correndo aproveitar! Compre! Beba! Schwarzenegger! Van Damme! Steven Seagal!

E agora, os gols de Tuna Luso e Itumbiara pela “série C” do campeonato brasileiro!

E no horário nobre: “Deborah Secco de calcinha e sutiã dá recorde de audiência à novela Paraíso Tropical” (Fonte: Folha de SP).

E no nobre horário: Com a “Dança do Poste” de Flávia Alessandra, “Duas Caras” alcança 40 pontos no Ibope pela primeira vez!

“Zorra Total”, o segundo programa mais assistido pelo público infantil …

Divirta-se com os comentários cruéis e venenosos do Faustão, o riso que se compraz com a humilhação do próximo, a cultura do escárnio…

O quê? O teu suado dinheiro acabou? Já não dá mais pra comprar o que te anuncio – supérfluos itens consumistas?

“Quem disse que não dá? Na Fininvest dá!” Venha correndo pegar dinheiro emprestado!

Endivide-se! Perca noites de sono por conta de dívidas e credores. Enriqueça os agiotas … Mas não deixe de consumir…Espiadinha

E agora, vamos dar aquela espiadinha…

Alemão, Bam-bam, Priscila e Siri (nossos heróis, segundo os produtores do BBB).

É dia de paredão:

“Se você quer eliminar fulaninho, ligue … Se você quer eliminar fulaninha, ligue…” (maldade tirar assim o dinheiro dos pobres e dos pouco instruídos).

“Passarinho quer dançar, o rabicho balançar, porque acaba de nascer, tchu tchu tchu…”

Quão vazia uma vida pode se tornar …

É na infância que se cria uma dependência que, freqüentemente, continua pelo resto da vida.

Nada melhor que a tevê para preencher uma vida vazia, carente de aspirações elevadas e sem padrões morais firmes.

“Só teremos um país de verdade no dia em que gastarmos mais com escolas do que com televisão, isto é, no dia em que gastarmos mais com a educação do que com a falta de educação.” (Millôr Fernandes).

Darcy Ribeiro (1922-1997), um dos maiores defensores da educação no país, o que lhe valeu o apelido de “O Poeta da Educação”.

Ele defendia a instituição da educação em tempo integral no país. Dizia que a escola em turnos é uma perversão brasileira e que, enquanto num turno a escola educa a criança, no contra-turno a tevê deseduca. Como se pode prosseguir assim?

“Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem: a salvação dos índios, a escolarização das crianças. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.” (Darcy Ribeiro).

Por quanto tempo, ainda, iremos ignorar os conselhos e o inestimável legado, por implementar, de Darcy Ribeiro e de todos os grandes educadores e humanistas?

Por quanto tempo, ainda, iremos permitir que os senhores globais nos tratem como se fôssemos “Homer Simpson”?

Por quanto tempo, ainda, iremos permitir que Faustão, Gugu, Tiririca e Pedro Bial “eduquem” as nossas crianças?

Sabendo que o compromisso deles é com os anunciantes, o seu trabalho, impulsionar as vendas.

Eficientes campanhas publicitárias nos fazem acumular um acervo de ornamentos e adereços absolutamente dispensáveis (como a constante troca de aparelhos de celular).

Vender ou não vender um produto é simples questão de marketing. Basta saber provocar no consumidor o “desejo de consumo”.

Que infância estamos construindo?

Lembre-se de que a criança só fica alegre quando recebe alguma coisa de seu interesse: seja um bem material, como um presente ou um bem imaterial, como atenção, respeito, carinho. E, dentre estes dois bens, certamente é o imaterial que ocasiona a felicidade verdadeira, duradoura e genuína. Basta rememorarmos a nossa própria velha infância.

Quais as lembranças mais caras que ficaram guardadas da tua infância?

Quais as recordações que ainda fazem sorrir a tua alma?

“Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo.” (José Saramago).

O verdadeiro tempo é o da memória …

E o que sabemos sobre o tempo, sobre a memória, sobre a vida?

“O ser humano é um ser complexo, cheio de sutilezas”.

“É um ser que deve ser valorizado em sua singularidade. Cada ser é único, essa é sua riqueza, por isso somos todos tão preciosos. Essa banalização do amor, da violência, do sexo, da solidão, essa banalização da vida que a gente vê na tevê é a própria negação da arte. A vida passa a perder importância.” (Alcione Araújo, escritor).

A arte tem o poder de abrir os canais da sensibilidade. A arte nos possibilita adquirir vivências que não vivemos, enriquecendo a nossa aventura existencial. A arte é um aprofundamento da experiência de estar no mundo, um mergulho na vida.

O processo de produção televisivo é a própria negação da arte, uma vez que procura gerar uma cultura de massa, com vistas a vender o produto do anunciante.

Procure familiarizar teus filhos e netos, desde a tenra idade, com a riqueza da arte – teatro, literatura, música, artes plásticas. O livro é um tesouro, tesouro maior, o livro lido.

O que falta para a gente mudar o ângulo do olho e perceber as belezas que estão à nossa volta?

Desligue a tevê, e torne a vida num lugar melhor!

(Desconheço a autoria deste texto).

Nota do Blog:

BombaNão sou hipócrita a ponto de dizer que não assisto TV. Claro que tenho alguns poucos programas que acompanho quando posso. Porém, a questão central não é deixar de assistir TV apenas como uma posição idealista, mas sim, procurar ter senso crítico sobre o que nos é apresentado diariamente como sendo a cereja do bolo global.

Outro ponto importante é não deixarmos que a TV seja a babá de nossos filhos, criando zumbis consumistas desde cedo, sem vontade própria, num impulso vazio de conceitos sobre a necessidade ou adequação dos produtos em nossas vidas.

O que proponho, com a apresentação deste texto, é a reflexão crítica sobre a mídia que entra em nossas casas sem nos pedir licença, impondo moldes criados por quem apenas deseja a mudança de costumes e valores através do consumo de produtos e ideias, nem sempre visando o bem da família e do indivíduo!

Um exemplo de insensatez que a TV produz nos seus “passientes” (me permitam aqui esse neologismo, no sentido das pessoas que, passivamente, assistem aos programas de TV) pode ser constatado nos valores arrecadados com um programa como o BBB. Veja dados publicados na Folha Ilustrada:

O faturamento do “Big Brother Brasil” cresceu 55% e a Globo deve embolsar R$ 280 milhões, segundo informou a coluna de Daniel Castro. Com isso, o programa renderá à emissora carioca R$ 100 milhões a mais que no ano passado. O desempenho do “BBB” é superior a todo o faturamento anual da RedeTV!, de acordo com estimativas. Com o reality show, a Globo arrecada um terço de toda a receita da Record ou do SBT na Grande São Paulo.
Apesar de ser o maior fenômeno comercial da temporada, a audiência do “BBB 9″ não decolou, como informou a coluna Ooops. Segundo esta, nas últimas cinco edições do “BBB”, o reality show registrou uma redução de 33% no número de telespectadores.

Em contraposição a esse faturamento, temos o Criança Esperança que, segundo dados do site Ajuda Brasil, ítem 12 Resultados Atingidos, informa:

Promovida pela Rede Globo em parceria com a Unesco, o Criança Esperança é uma campanha de arrecadação de fundos que em 21 anos já angariou R$ 161 milhões, investidos integralmente no Brasil, em mais de 4.840 projetos sociais, beneficiando mais de 3 milhões de crianças e adolescentes em todo o país.

Em um único paredão, estima-se que a Rede Globo arrecade mais de 4,5 milhões de reais. Conta rápida: quase 30 milhões de votos X R$ 0,30 = 9 milhões de reais. Levando-se em conta que nem todos esses votos são provenientes de ligações telefôncias, tirando-se uma taxa paga às operadoras de telefonia, pode-se estimar que esse valor ainda esteja subestimado. Sem contar as cotas de patrocinadores!

Pasmem! Em 21 anos, arrecadou apenas metade do valor de uma edição do BBB. E aí entra o que eu dizia antes: a insensatez da coisa em pagar tanto dinheiro para se ter um entretenimento vazio, que não acrescenta nada, em detrimento de tantas crianças que poderiam ser beneficiadas!

Quem sabe se criassem um BBB-Criança Esperança …. não … acho que não daria Ibope nenhum … programas como o BBB só foram “sucesso” em países onde o povo é ignorante, sem cultura, que paga pra votar em um (ou uma) idiota qualquer,  mas não lembra em quem votou nas últimas eleições!

Pobre Brasil …

By Joe.

A captura de um macaco

Posted in Reflexão with tags , , , on 28/07/2009 by Joe

Macaco apegado à bananaA história é muito antiga, mas não menos curiosa. Algumas tribos africanas utilizam um engenhoso método para capturar macacos.

Como estes são muito espertos e vivem saltando nos galhos mais altos das  árvores, os nativos desenvolveram o seguinte sistema: pegam uma cumbuca de boca estreita e colocam dentro dela uma banana.

Em seguida, amarram-na ao tronco de uma  árvore freqüentada por macacos, afastam-se e esperam. Após algum tempo, um macaco curioso desce, olha dentro da cumbuca e vê  a banana. Enfia sua mão, apanha a fruta, mas como a boca do recipiente é muito estreita, ele não consegue retirar a banana.

Surge um dilema: se largar a banana sua mão sai e ele pode ir embora livremente, caso contrário, continua preso na armadilha.

Depois de um tempo, os nativos voltam e tranqüilamente capturam os  macacos que, teimosamente, se recusam a largar as bananas. 

O final é meio trágico, pois os macacos são capturados para servirem de alimento.

Você deve estar achando inacreditável o grau de estupidez dos macacos, não é? Afinal, basta  largar a banana e ficar livre do destino de ir para a panela. Fácil demais …

O problema deve estar na importância exagerada que o macaco atribui à banana. Ela já está ali, na sua mão, parece ser uma insanidade largá-la.

Essa  história é engraçada porque muitas vezes fazemos exatamente como os macacos.

Você nunca conheceu alguém que está totalmente insatisfeito com o emprego, mas insiste em  permanecer mesmo sabendo que está cultivando um infarto? Ou alguém que trabalha e não está satisfeito com o que faz, e ainda assim faz apenas pelo dinheiro?

Ou casais com relacionamentos completamente deteriorados que permanecem sofrendo, traindo e sendo traídos?

Ou pessoas infelizes por causa de decisões antigas, adiando um novo caminho que poderia trazer de volta a alegria de viver? 

Somos ou não somos como os macacos?

A  vida é preciosa demais para trocarmos por uma “banana” que, apesar de estar na nossa mão, pode levar-nos direto à  “panela”.

Autoria desconhecida.

Muito além de uma porta

Posted in Reflexão with tags , , , , on 27/07/2009 by Joe

PortasSe você encontrar uma porta à sua frente, poderá abri-la ou não. Se você abrir a porta, poderá ou não entrar em uma nova sala. Para entrar, você vai ter que vencer a dúvida, o titubeio ou o medo. Se você venceu, você deu um grande passo: nesta sala vive-se.

Mas também tem um preço: são inúmeras as outras portas que você descobre. O grande segredo é saber quando e qual a porta deve ser aberta.

A vida não é rigorosa: ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos, quando, com eles, se aprende. Não existe a segurança do acerto eterno.

A vida é generosa: a cada sala em que se vive, descobre-se outras tantas portas. A vida enriquece a quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos, e generosamente oferece afortunadas portas.

Mas a vida também pode ser dura e severa: se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela sua frente. É a repetição perante a criação. É a monotonia cromática perante o arco-íris. É a estagnação da vida.

Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens.

By Dr. Içami Tiba  (extraído do livro Amor, Felicidade & Cia).

Céu e inferno

Posted in Inspiração with tags , , , on 26/07/2009 by Joe

Céu e infernoUm homem, seu cavalo e seu cão caminhavam por uma estrada. Quando passavam perto de uma árvore gigantesca, um raio caiu, e todos morreram fulminados.

Mas o homem não percebeu que já havia deixado este mundo  e continuou caminhando com seus dois animais; às vezes os mortos levam tempo para se dar conta de sua nova condição …

A caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados e com muita sede. Precisavam desesperadamente de água. Numa curva do caminho, avistaram um portão magnífico, todo de mármore, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte de onde jorrava água cristalina.

O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada.

– Bom dia.

– Bom dia – respondeu o homem.

– Que lugar é este, tão lindo?

– Aqui é o Céu.

– Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede.

– O senhor pode entrar e beber água à vontade.

E o guarda indicou a fonte.

– Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede.

– Lamento muito, mas aqui não se permite a entrada de animais.

O homem ficou muito desapontado porque sua sede era grande, mas ele não beberia sozinho; agradeceu e continuou adiante. Depois de muito caminharem, já exaustos, chegaram a um sítio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha, que se abria para um caminho de terra, ladeada de árvores.

À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu, possivelmente dormindo.

– Bom dia – disse o caminhante.

O homem acenou com a cabeça.

– Estamos com muita sede, meu cavalo, meu cachorro e eu.

– Há uma fonte naquelas pedras – disse o homem e indicando o lugar. – Podem beber a vontade.

O homem, o cavalo e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede. Em seguida voltou para agradecer.

– Por sinal, como se chama este lugar?

– Céu.

– Céu? Mas o guarda do portão de mármore disse que lá era o céu!

– Aquilo não é o céu, aquilo é o inferno.

O caminhante ficou perplexo.

– Vocês deviam evitar isso! Essa informação falsa deve causar grandes confusões!

O homem sorriu:

– De forma alguma. Na verdade, eles nos fazem um grande favor. Porque lá ficam todos aqueles que são capazes de abandonar seus melhores amigos…

By Paulo Coelho

O escritor brasileiro Paulo Coelho nasceu em 1947, na cidade do Rio de Janeiro. Antes de dedicar-se inteiramente à literatura, trabalhou como diretor e ator de teatro, compositor e jornalista. Foi parceiro de Raul Seixas em diversas composições.

Antepasto de berinjelas

Posted in Receitas with tags , , , on 25/07/2009 by Joe

AntepastoNão foi apenas o sotaque que os moradores de bairros como Moóca, Brás e Bixiga herdaram dos imigrantes italianos que chegaram a São Paulo no século passado. Além do “jeito italianado de falar”, essa gente tem também o gosto pelas festas.

As festas italianas que acontecem em São Paulo tem muitas coisas em comum: celebram santos, oferecem muita comida gostosa, música e alegria. Com isso, preservam-se tradições religiosas, culturais e gastronômicas.

As festas mais famosas são: San Francesco di Paula, San Vito, Nossa Senhora de Casaluce, Nossa Senhora Achiropita e San Gennaro Mártir.

Em todas elas são instaladas barracas onde podemos saborear pratos típicos italianos, como fogazza, fricazza, polentas à bolognesa e frita, antepasti, sardela, peperone e malanzanas al forno, calabresas, macarronada, pizzas, espetos de carne, frango e linguiça, além de doces típicos, entre eles sfogliatelli e canole.

Neste sábado destaco uma iguaria muito apreciada em todas essas festas e que pode ser preparada em casa com muita facilidade, para ser servida em churrascos, festas, reuniões, acompanhando mesa de pães, queijos, frios e vinhos!

Como sempre, variações existem aos montes, tanto de ingredientes como na forma de preparar. Cada um pode tirar ou adicionar ingredientes conforme o gosto. A receita abaixo é a que eu preparo e curto. Uma dica é preparar com antecedência de uns 2 ou 3 dias para marinar e ficar mais saborosa.

Antepasto de berinjelas

Ingredientes

4 berinjelas
1 pimentão vermelho
1 pimentão verde
1 pimentão amarelo
2 cebolas grandes
8 dentes de alho esmagados
1 xícara (chá) de azeitonas pretas e verdes, picadas
1 xícara (chá) de azeite extra virgem
½ xícara (chá) de vinagre tinto ou balsâmico
2 folhas de louro
sal, pimenta calabresa e orégano a gosto
cheiro-verde picado a gosto

Modo de preparo

Corte as berinjelas, os pimentões e as cebolas em tiras e arrume em camadas num refratário retangular ou forma de alumínio. Espalhe também o alho picado, as folhas de louro, o sal, a pimenta calabresa e o orégano. Regue com o azeite e o vinagre. Cubra com papel alumínio e leve ao forno pré-aquecido bem quente (200º C) por 15 minutos.

Tire do forno, acrescente as azeitonas e o cheiro verde, dando uma mexida para que todos os temperos se espalhem por todos os ingredientes e leve novamente ao forno (coberta com o papel alumínio) até que a berinjela seque e fique escura (um pouco mais de 1 hora). A cada meia hora de uma espiada, acrescente mais azeite, caso seque demais, e misture bem.

Sirva com pão italiano, com carnes e queijos acompanhado de um bom tinto italiano!

Feliz idade

Posted in Reflexão with tags , , , , , on 24/07/2009 by Joe

FelicidadeFoi realizado em Madri o Primeiro Congresso Internacional da Felicidade.
Conclusão dos congressistas: a felicidade só é alcançada depois dos 40 anos.

Quem participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, artistas de circo?

Não sei. Mas gostei do resultado. A maioria das pessoas, quando questionadas sobre o assunto, dizem:

“Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes”.

É o que eu pensava quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado, minimizados por um “garden party” de vez em quando, um campeonato de tênis,um feriadão em Garopaba. Os tais momentos felizes.

Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos.

Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila.

É o apocalipse!

Felicidade, onde está você? Aqui, na casa dos 40 e sua vizinhança. Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca.

Pense bem: depois dos 40, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque.

Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Sansonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy.

Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o cara.

Depois que cumprimos as missões impostas no berço: ter uma profissão, casar e procriar, passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos.

Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Depois dos 40, conforme descobriram os participantes daquele congresso curioso, estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes.

Sai bem mais em conta.

By Martha Medeiros.

Voem juntos

Posted in Inspiração with tags , , , , , , , , on 23/07/2009 by Joe

Águia e FalcãoConta uma velha lenda dos índios Sioux que, uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros e Nuvem Azul, a filha do cacique e uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas na tenda do velho feiticeiro da tribo e disseram:

– Nós nos amamos e vamos nos casar. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã. Alguma coisa que garanta que possamos ficar sempre juntos. Que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até a morte.  O velho sábio, ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

– Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte desta aldeia e, apenas com uma rede e tuas mãos, caçar o falcão mais vigoroso do monte e traze-lo com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia.

– E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono, onde encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la, trazendo-a viva.

Os jovens abraçaram-se com ternura e logo partiram para cumprir a missão recomendada. No dia estabelecido, na frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.

O velho pediu que, com cuidado, as retirassem. Observou então que se tratava de belos exemplares.

– E agora, o que faremos? – perguntou o jovem. Nós as matamos e depois bebemos à honra de seu sangue?

– Ou as cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne? – propôs a jovem.

– Não! – disse o feiticeiro. Apanhem as aves e as amarrem entre si pelas patas, com essas tiras de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres…

O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros.

A águia e o falcão tentaram alçar vôo, mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade de voar, as aves jogavam-se uma contra a outra, bicando-se até se machucar.

Aí, o velho disse:

– Jamais esqueçam o que estão vendo. Este é o meu conselho: vocês são como a águia e o falcão; se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, viverão arrastando-se e, cedo ou tarde, começarão a machucar-se mutuamente.  Se quiserem que o amor entre vocês perdure …

“Voem juntos …  mas jamais amarrados!”

Texto baseado em uma lenda dos índios Sioux.

Seja o cisne

Posted in Reflexão with tags , , , , , on 22/07/2009 by Joe

CisneTalvez o maior desafio da vida moderna seja sermos nós mesmos em um mundo que insiste em modelar nosso jeito de ser. Querem que deixemos de ser como somos e passemos a ser o que os outros esperam que sejamos.

Aliás, a própria palavra “pessoa” já é um convite para que você deixe de ser você.

“Pessoa” vem de “Persona”, que significa “máscara”. É isso mesmo: coloque a máscara e vá para o trabalho. Ou vá para a vida com a sua máscara. Talvez o sentido do elogio: “Fulano é uma boa pessoa”, signifique na verdade: “Ele sabe usar muito bem a sua máscara social”.

Mas qual o preço de ser bem adaptado?

O número de depressivos, alcoólatras e suicidas aumenta assustadoramente. Doenças de fundo psicológico como síndrome do pânico e síndrome do lazer não param de surgir. Dizer-se estressado virou lugar-comum nas conversas entre amigos e familiares. Esse é o preço. Mas pior que isso é a terrível sensação de inadequação que parece perseguir a maioria das pessoas. Aquele sentimento cristalino de que não estamos vivendo de acordo com a nossa vocação.

E qual o grande modelo da sociedade moderna?

Querer ser o que a maioria finge que é. Querer viver fazendo o que a maioria faz. É essa a cruel angústia do nosso tempo: o medo de ser ultrapassado em uma corrida que define quem é melhor, baseada em parâmetros que, no final da pista, não levam as pessoas a serem felizes.

Quanta gente nós não conhecemos que vive correndo atrás de metas sem conseguir olhar para dentro da sua alma e se perguntar onde exatamente deseja chegar ao final da corrida?

A maior parte das terapias prega que as pessoas não olham para dentro de si com medo de encontrar a sua sombra. Porém, na verdade, elas não olham para dentro de si por medo de encontrar sua beleza e sua luz. O que assusta é o receio de se deparar com a sua alegria de viver e ser forçado a deixar para trás um trabalho sem alegria. Mas sejamos francos: para que manter um trabalho sem alegria? Só para atender às aspirações da sociedade?

Basta voltar os olhos para o passado para ver as represálias sofridas por quem ousou sair dos trilhos e, mais que isso, despertou nas pessoas o desejo de serem elas mesmas. Veja o que aconteceu a John Lennon, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Isaac Rabin? É muito perigoso não ser adaptado!

Essa mesma sociedade que nos engessa com suas regras de conduta, luta intensamente para fazer da educação um processo de produção em massa.

Porque as pessoas que vivem como máquinas não questionam a própria sociedade!

A maioria das nossas escolas trabalha para formar estudantes capazes de passar no vestibular. São poucos os educadores que se perguntam se estão formando pessoas para assumirem a sua vocação e a sua forma de ser.

As escolas de música ensinam com os mesmos métodos as mesmas músicas. Quase todas querem formar covers de Mozart ou covers dos Beatles. É raro um professor com voz dissonante que diga para seus alunos: “Aqui você vai aprender idéias, para liberar o músico que existe dentro de você”.

Os MBAs, tão na moda, na sua maioria, usam os mesmos livros, dão as mesmas aulas, com o objetivo não explicitado de formar covers do Jack Welch ou do Bill Gates. O que poucos sabem é que nenhum dos dois fez MBA. Bill Gates, muito ao contrário disso, abandonou a idolatrada Harvard para criar uma empresa na garagem, que se transformou na poderosa Microsoft. Os MBAs são importantes para que o aluno aprenda alguns instrumentos de administração. Mas alguém tem de dizer ao estudante: “Utilize essas ferramentas para implementar suas idéias, para ser intensamente você”.

Quantos casos de genialidade que foram excluídos das escolas porque estavam além do que o sistema de educação poderia suportar!

Conta-se que um professor de Albert Einstein chamou seu pai para dizer que o filho nunca daria para nada, porque não conseguia se adaptar. Os Beatles foram recusados pela gravadora Deca! O livro “Fernão Capelo Gaivota” foi recusado por 13 editoras! Caetano Veloso foi vaiado quando apareceu com a sua música “Alegria, Alegria!”. O projeto da Disney World foi recusado por 67 bancos! Os gerentes diziam que a idéia de cobrar um único ingresso na entrada do parque não daria lucros.

O genial Steven Spielberg foi expulso de duas escolas de cinema antes de começar a fazer seus filmes, provavelmente porque não se encaixava nos padrões comportamentais e técnicos que a escola exigia que ele seguisse. Só há pouco tempo é que ele ganhou um título de “honoris causa” de uma faculdade de cinema. E recebeu o título pela mesma razão que foi expulso anteriormente: ter assumido o risco de ser diferente, por não ceder à padronização que faz com que as pessoas pareçam seres saídos de linhas de montagem.

A lista de pessoas que precisaram passar por cima da rejeição porque não se adaptavam ao esquema pré-existente é infinita. A sociedade nos catequiza para que sejamos mais uma peça na engrenagem e quem não se moldar para ocupar o espaço que lhe cabe será impiedosamente criticado.

Os próprios departamentos de treinamento da maioria das empresas fazem isso. Não percebem que treinamento é coisa para cachorros, macacos, elefantes. Seres humanos não deveriam ser treinados, e sim estimulados a dar o melhor de si em tudo o que fazem. Resultado: a maioria das pessoas se sente o patinho feio e imagina que todo o mundo se sente o cisne. Triste ilusão: quase todo mundo se sente um patinho feio também.

Ainda há tempo! Nunca é tarde para se descobrir único.

Nunca é tarde para descobrir que não existe nem nunca existirá ninguém igual a você. E ao invés de se tornar mais um patinho, escolha assumir sua condição inalienável de cisne!

Autor: Roberto Shinyashiki

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